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Sede da ESALQ em Piracicaba. Na foto menor está o Barão Luiz de Queiroz, cujo restos mortais estão enterrados defronte a sede da universidade para a qual ele doou sua fazenda |
Nelson Gonçalves, especial para a Folha2
Ao longo da história, diversas universidades
brasileiras receberam doações de fazendas, as quais tiveram papel fundamental
no seu desenvolvimento e crescimento. Desde a primeira doação em 1889, feita
por Luiz Vicente de Souza Queiroz, o Barão de Queiroz (1849-1898), para o
surgimento da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq) em
Piracicaba, até a doação, em 2006, de uma área de 80 alqueires para o campus de
São José do Rio Preto da Universidade Estadual Paulista (Unesp), feita por Sebastião
Meimberg Porto, essas doações proporcionaram às instituições recursos
financeiros para o desenvolvimento de pesquisas.
Apaixonado pela agricultura e ciente da
importância de um ensino superior para o desenvolvimento do país, o Barão de Queiroz
idealizou a criação de uma escola agrícola moderna e de alto nível. Foi a
primeira escola de agronomia do Brasil. Ele era filho do Barão de Limeira
(1813-1872) e neto do Brigadeiro Luís Antônio de Souza Queiroz (1746-1819), um
dos maiores proprietários de terras do país e nome hoje de uma das principais
vias da capital paulista. Estudou 16 anos na Europa e ao voltar para o Brasil
herdou do pai uma fazenda em Piracicaba.
Casou com Ermelinda Ottoni (1856-1936)
e montou a tecelagem Santa Francisca. Enriqueceu ainda mais. O casal não teve
filhos. O Barão de Queiroz começou a planejar a escola em 1881. Em 1896 o
governador Bernardino de Campos aceitou a doação da área e concedeu autorização
para fundar a escola. Barão de Queiroz não viu a concretização do seu sonho.
Ele morreu três anos antes da escola ser inaugurada. Foi sepultado no dia 12 de
junho, justamente no dia em que completaria 49 anos de idade, no Cemitério da Consolação,
em São Paulo. Seus restos mortais foram transferidos para Piracicaba em 1964 e
estão num mausoléu defronte ao prédio da sede da Esalq.
Universidades de Viçosa, USP e Unicamp também ganharam doações
Fundada em 1926, a Universidade Federal de
Viçosa (UFV) recebeu a doação da Fazenda Morro Grande, que se tornou a base
para o seu campus principal. A fazenda, com cerca de 1.000 hectares, permitiu a
criação de cursos de agronomia, zootécnica e veterinária.
A Universidade de São Paulo (USP), uma das
maiores e mais prestigiadas universidades do Brasil, também recebeu doações de
fazendas ao longo de sua história. A Fazenda Brasil, localizada em Mogi das
Cruzes, é um dos exemplos notáveis. Doada em 1939, a fazenda possui cerca de
5.000 hectares e abriga o Instituto de Astronomia, Geofísica e Meteorologia
(IAG), um dos principais centros de pesquisa nessas áreas no país.
A Universidade Federal do Rio Grande do Sul
(UFRGS) também possui uma fazenda em seu patrimônio, que foi fruto de doação
realizada em 1951. A fazenda, localizada em Eldorado do Sul, possui 1.200
hectares e serve como campo de pesquisa para diversos cursos na área de
agronomia e zootecnia, além de ser um importante polo produtor de alimentos.
A universidade Estadual de Campinas (Unicamp) é
outra instituição que se beneficiou da doação de uma fazenda, a Fazenda Santa
Barbara, no momento de sua fundação em 1966. A propriedade, com aproximadamente
1.500 hectares, foi fundamental para o desenvolvimento de pesquisas em
agricultura, pecuária e silvicultura, além de contribuir para a preservação
ambiental na região.
Escritor Raduan doa fazenda para UFSCar
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Campus Lagoa do Sino, da UFSCar, onde antes era a fazenda que pertencia ao escritor Raduan Nassar
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A doação da Fazenda Lagoa do Sino pelo escritor
Raduan Nassar à Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) foi um marco
histórico para a instituição e para o desenvolvimento da região. Em 2011, o
escritor e dramatúrgico brasileiro cedeu à universidade área de 640 hectares
para a criação do Campus Lagoa do Sino, localizado no município de Buri, cidade
de aproximadamente 20 mil habitantes e a 260 km da capital paulista, no Vale do
Ribeira, uma das regiões mais pobres do estado de São Paulo.
O valor da fazenda, segundo professores da UFSCar, é inestimável. "Esse escritor que já era famoso por seus livros entrou para a história do Brasil por ter feito essa magnífica doação para a universidade criar mais um campus, que irá ajudar a formar inúmeros jovens para trabalhar no desenvolvimento do país", afirmou um dos professores, presente no ato comemorativo dos 10 anos de funcionamento do campus Lagoa do Sino da UFSCar.
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Raduan Nassar ficou famoso por dois romances que se transformaram em livros e pela doação de sua fazenda para a UFSCar (Universidade Federal de São Carlos)
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Homenagens para Raduan Nassar
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O presidente Lula cumprimenta Raduan Nassar, durante ato comemorativo dos 10 anos de funcionamento do campus Lagoa do Sino da UFSCar:( Foto:Ricardo Stuckert/PR) |
Na semana passada, ao comemorar 10 anos da inauguração
do campus Lagoa do Sino, em Buri, o ministro da Educação, Camilo Santana, e o
presidente Luís Inácio Lula da Silva estiveram na universidade. Santana destacou
fato de Lula ter sido o presidente que mais construiu universidades em toda a
história do Brasil e elogiou a doação feita pelo escritor. “Esse campus da
UFSCar só foi possível construir graças à doação de Raduan Nasser”.
Nascido em Pindorama, Raduan Nasser estudou em
Catanduva. Morou no Canadá com duas tias, irmãs do seu pai. Depois foi para o
Estados Unidos e também morou na Alemanha. De volta ao Brasil se deparou com o
golpe militar de 1964 e se recusou a assumir o cargo de professor na antiga
Faculdade de Filosofia e Letras, que era mantida pelo Estado. Montou em São
Paulo o Jornal dos Bairros, que chegou a ter tiragem com 160 mil exemplares.
Raduan publicou dois romances, “Lavoura Arcaica”
(1975) e “Um Copo de Cólera” (1978), além da coletânea “Menina a Caminho”
(1997). Os livros foram traduzidos para várias línguas. Os dois romances se transformaram
em filmes. Em 1984, Raduan adquiriu a fazenda Lagoa do Sino, em Buri, no sudeste
de São Paulo. Desde então parou de escrever ficção e dedicou-se por trinta anos
à agricultura, plantando de feijão a arroz, de milho a trigo em larga escala.
“Raduan é daquelas pessoas que eu lamento só
tenha conhecido a pouco tempo atrás”, afirmou Lula. “Não sei porque ele morando
em Pinheiros, em São Paulo, e eu em São Bernardo a gente não se cruzou e nós
não nos conhecíamos. Em 2010, no final do meu segundo mandato, teve um assessor
que me procurou que tinha um tal de um professor Raduan que estava querendo
doar uma fazenda para fazer uma universidade. E disse que ele estava chateado
porque a burocracia etc e tal do Estado de São Paulo e não estava conseguindo.
Imediatamente eu chamei o Haddad e ele conhecia o Raduan. O Haddad, que era
ministro da Educação, já tinha lido os livros e os artigos dele nos jornais. Em
24 horas essa fazenda já estava em poder do governo federal para ser doada para
a UFSCar”.
“Um homem na época com 74 anos de idade e se
dispôs a fazer uma doação de uma fazenda dessa para ajudar a formar alunos para
o desenvolvimento desse país nós só temos que agradecer”, completou o
presidente Lula.
Nos EUA, segundo Lula, os impostos sobre herança
são de 40% sobre o valor dos imóveis e isso incentiva os donos a doarem ainda
em vida para as universidades. “Aqui no Brasil esse imposto é de 4% e não
incentiva essas doações para as universidades. São poucos os que se dispõem a
fazer isso”.
Ao fazer a doação, em 2012, de papel passado,
para a UFSCar, Raduan deixou claro uma exigência na escritura: a fazenda teria
que abrigar uma universidade, com cursos ligados ao campo e às ciências da
natureza e com foco na agricultura familiar. A maior parte da antiga fazenda
foi doada para a UFSCar e uma pequena parte para o antigo funcionário de confiança
do escritor, o Nilton, que sempre tomou conta da fazenda.
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