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Dom Pedro 1º: de herói a vilão na Maçonaria

 

Dom Pedro 1º era um homem autoritário com muitas mulheres, casos amorosos e filhos 


Nelson Gonçalves, Especial para a Folha2

 Dom Pedro 1º é vangloriado por alguns, que desconhecem a história da Maçonaria, como um grande baluarte dessa ordem. A cronologia dos fatos do movimentado ano de 1822 prova, no entanto, que a situação não foi bem assim. Ele teve sua admissão, estrategicamente aprovada, em sessão no dia 13 de julho. E seu ingresso na Maçonaria, num ritual de iniciação, ocorreu no dia 2 de agosto, a um mês e seis dias antes da proclamação da Independência do Brasil.  Chegou a Grão-Mestre, o cargo máximo da Maçonaria, e nessa função mandou fechar todas lojas maçônicas, perseguiu e mandou prender maçons. As lojas maçônicas somente puderam funcionar livremente oito anos depois, quando ele fora praticamente expulso do Brasil.

 Numa ascensão meteórica na Maçonaria, Dom Pedro 1º, ao ser iniciado, adotou o nome histórico de Guatimozim, em homenagem ao último imperador asteca. Três dias depois seria elevado ao grau de mestre, quando normalmente demora-se três anos para chegar nessa posição. E, em menos de um mês, era instalado no cargo máximo da ordem: o de Grão-Mestre, numa jogada de mestre arquitetada por Joaquim Gonçalves Ledo para destituir seu arquirrival José Bonifácio dessa função.

 A Maçonaria brasileira estava dividida em 1822 em duas grandes facções. Ambas eram favoráveis a independência, mas uma delas, liderada por Joaquim Gonçalves Ledo, pelo cônego Januário e por José Clemente Ferreira, defendia ideais republicanos. A outra, de José Bonifácio, que chegou a criar outra ordem semelhante para enfraquecer a Maçonaria, era monarquista e defendia a manutenção de Dom Pedro como imperador. Esses dois grupos disputaram o poder de forma passional, envolvendo prisões, perseguições, exílios e expurgos.

 Assim que se tornou imperador do Brasil, os irmãos maçons se tornaram um estorvo para Dom Pedro 1º. Ele ficou apenas 17 dias na função de Grão-Mestre. Em 21 de outubro, a pouco mais de um mês, após proclamar a Independência, mandou fechar e investigar as lojas maçônicas que havia a ajudado no movimento pela independência do Brasil. Acreditando em José Bonifácio, seu primeiro ministro na corte, Dom Pedro temia que os maçons estivessem querendo proclamar a instalação da República no Brasil. Quatro dias depois, sem que as investigações tivessem começado, determinou a reabertura dos trabalhos “com seu antigo vigor”.

 Mas como monarca, Dom Pedro continuou insatisfeito com os constantes questionamentos dos maçons e com o fato de poder ser abertamente contestado pelos irmãos. Quando percebeu que nem mesmo ocupando o cargo máximo de Grão-Mestre garantia obediência absoluta decidiu, em menos de dois meses no exercício do cargo, acabar com a ordem.

 Tomou medidas rigorosas que resultou no exílio de muitos maçons. Baixou resoluções, assinando junto com José Bonifácio, determinando o fechamento de todos os templos e ordens que mantinham reuniões secretas no país. Também dissolveu, em novembro de 1823, a Assembleia dos Deputados. Em março de 1824, outorgaria uma nova Constituição criada por um conselho de dez pessoas que ele mesmo indicara. Ele queria poder absoluto.

Um boêmio inveterado por orgias sexuais

 A extravagância com festas, galanteios e casos amorosos extraconjugais suscitaram denúncias na imprensa e no parlamento. O médico italiano, naturalizado brasileiro, Giovanni Libero Badaró, um maçom que se notabilizou jornalista e por suas críticas ferrenhas ao imperador por construir castelos e palácios para suas amantes, com suspeitas evidentes de que os recursos proviam dos cofres públicos, resultou no seu assassinato, numa emboscada, próxima à Praça da Sé em São Paulo. O crime não ficou, até hoje, muito bem esclarecido. Mas a suspeita, como mandante, recaiu sobre o imperador. Logo surgiram protestos nas ruas do Rio de Janeiro e cidades de Minas Gerais.

 O senador e ex-ministro da Justiça Nicolau de Campos Vergueiro e 23 deputados assinaram manifesto exigindo a renúncia do imperador. Tudo isso culminou com a abdicação ao trono, em 7 de abril de 1831. Era a renuncia em que cedia à pressão da elite política, insatisfeita com seu reinado, além do que a situação econômica do país ia de mal a pior. Depois de mais de oito anos inativa e proibida de exercer atividades, as lojas maçônicas puderam voltar a se reunir a partir de novembro de 1831 -- depois que Dom Pedro foi embora --, quando foi reativado o Grande Oriente do Brasil (GOB), novamente sob a presidência de José Bonifácio.

Volta à Portugal

Dom Pedro 1º na condição de Grão-Mestre mandou fechar todas as lojas maçônicas, perseguiu e determinou a prisão de vários maçons 


 Não deixa de ser curioso que, depois de deixar o Brasil, Dom Pedro 1º tenha se tornado Pedro 4º para, após lutar e derrubar seu irmão Miguel, assumiu o trono em Portugal para uma gestão também bastante conturbada. O conflito familiar com o irmão, acabaria levando Pedro a buscar o exílio. Foi para Paris, enquanto organizava a defensiva contra seu irmão Miguel. Em 1834, liderando 7 mil homens, pegou em armas e seguiu para Portugal derrotando o próprio irmão. Conseguiu que sua filha Maria assumisse o trono. Dom Pedro faleceu aos 36 anos, decorrente de uma tuberculose.

A historiadora Isabel Lustosa toma emprestado um conceito do livro “Macunaíma”, de Mário de Andrade, para descrever Dom Pedro 1º na biografia que escreveu sobre o primeiro imperador do Brasil: “Um herói sem nenhum caráter”. Assim a escritora o caracteriza já na introdução do livro “Perfis brasileiros: Dom Pedro 1º”, lançado pela Companhia das Letras, em 2006. Com um histórico de duas esposas, várias amantes e muitos filhos, oficiais e bastardos, Dom Pedro 1º não era um bom exemplo a sociedade da época e nem de agora. A primeira esposa, a princesa austríaca Maria Leopoldina, com quem teve sete filhos, faleceu em 1826. Três anos depois casou com Amélia, princesa da Baviera, com quem teve uma filha. Só com a mais famosa das amantes, Maria Domitila de Canto e Melo, a Marquesa de Santos, Dom Pedro 1º teve cinco filhos. Não satisfeito, ainda teve caso com a irmã da Marquesa de Santos, a baronesa de Sorocaba, Maria Benedita de Canto e Melo, que também se engravidou dele. Ele também engravidou duas francesas, entre elas uma bailarina que teria sido subornada para abortar.

 Hino da Maçonaria

Otaviano Bastos publicou m seu livro que não foi ele que escreveu a letra do Hino da Maçonaria


Em quase todas as obediências maçônicas brasileiras o nome de Dom Pedro 1º figura como sendo autor da melodia do Hino da Maçonaria. Algumas ainda traz Otaviano Menezes Bastos como letrista do hino. No entanto existem algumas inconsistências na informação amplamente disseminada.

Alguns experientes maçons, embora reconheçam o talento do imperador para os instrumentos, questionam o fato dele ter permanecido tão pouco tempo na ordem, ter destilado a ira contra alguns maçons ao ponto de mandar prendê-los, ter encontrado tempo, num período bastante conturbado, para compor a melodia.

O professor e escritor Kennyo Ismail, pesquisador de assuntos maçônicos, esclareceu em seu blog em matérias de 2012, que o próprio Otaviano Bastos escreveu em seu livro “Pequena Enciclopédia Maçônica” que o autor da letra era desconhecido. O famigerado, tocado na abertura de quase todas as sessões maçônicas pelas lojas no Brasil, já estava publicado no livro “O Aprendiz Maçom”, datado de 1896 e de autoria de Henrique Valadares, não traz o nome do letrista. Otaviano nasceu em 1879 e só viria a iniciar na maçonaria em novembro de 1900.

Nascido em Capela, cidade sergipana, Otaviano Bastos foi comerciário, trabalhou no Ministério da Fazenda e no Tribunal de Contas. Exerceu várias funções de confiança e chefia, além de ter se destacado também como escritor e jornalista, fundando diversos periódicos.

Na Maçonaria, Otaviano se destacou como grande orador, proferindo conferências em diversos Estados e potências maçônicas. É considerado como grande benemérito da ordem e como o 1º Grande Primaz do Rito Brasileiro, do qual é autor dos hinos de abertura e encerramento das lojas desse rito. Faleceu em 1952, no Rio de Janeiro, aos 73 anos de idade.

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Marquesa de Santos foi amante de Dom Pedro 1º e foi casada com Tobias Aguiar, comandante da Guarda Real e patrono da Polícia Militar do Estado de São Paulo

Livro de Otaviano Bastos, onde ele esclarece que não é dele a autoria do Hino da Maçonaria



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