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Sebatsião Meimberg Porto doou sitio de 33 alqueires para o campus da Unesp/Ibilce criar estação experimental ambiental de estudos |
Nelson Gonçalves, especial para a Folha2
Dia 23 de abril de 2007. Era uma sexta-feira. O auditório
do antigo Ibilce (Instituto de Biociências, Letras e Ciências Exatas), campus
pertencente à Universidade Estadual Paulista, a Unesp, em São José do Rio Preto,
estava lotado para comemorar nesse dia o seu cinquentenário de fundação. Todos
os lugares estavam tomados por professores, alunos e autoridades. Como presente
de aniversário o campus da universidade recebeu a doação um sitio, com 33 alqueires, de um
morador da região, na época com 84 anos de idade e em plena consciência de suas
faculdades mentais.
A doação da área foi comemorada e festejada por discursos
emocionados e muitos aplausos. “Foi muito emocionante conhecer o senhor Sebastião
que, com humildade, carisma e muita alegria participou dessa cerimônia”, lembrou
a ex-diretora do Ibilce, Maria Tercilia Vilela de Azevedo Oliveira, que anos
depois participou do ato de colocação das placas na área que hoje levam o nome
de Reserva Biológica “Sebastião Meimberg Porto”.
O sitio Cambuí, onde Sebastião morou por 20 anos, antes de
mudar-se para Icém, foi herdado de seus pais. Porto vivia solteiro, sem filhos
e a doação foi feita quando ele ainda era vivo e tinha 84 anos de idade. Decidido
em contribuir com a preservação da fauna e da flora na região, ele procurou o
promotor do meio ambiente em Nova Granada, no final de 2006, para receber
orientações.
“Resolvi fazer a doação para que o sítio fosse transformado
em uma reserva de bicho do mato”. Assim expressou Sebastião na ocasião. Ele
nasceu em um distrito chamado Pontalete, pertencente ao município de Três
Pontes, ao sul de Minas Gerais. Quando tinha dois meses, sua família mudou-se
para Barretos. Posteriormente foram para Mogi das Cruzes, Bebedouro e Campinas,
onde completou o então curso ginasial.
Em visita feita ao sitio, em 2007, a docente Eliana
Morielle Versute, do Departamento de Zoologia, destacou o fato de encontrarem anfíbios
nas terras doadas. “Isso sugere uma natureza ainda inexplorada, pois quando
isso ocorre esses animais normalmente desaparecem”.
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Flor de planta desenvolvida na estação experimental ecológica que leva o nome de Sebastião Meimberg Porto, localizada no município de Icem (fotografias de Daniela Sampaio Silveira) |
O professor Johnny Rizzieri Olivieri, com o conhecimento de
ter sido diretor da instituição, afirmou que essa foi a primeira vez na
história que o Ibilce recebeu doação de propriedade particular. “Isso nunca
aconteceu antes”, declarou em 2007. “É emocionante pensar que, em um mundo tão
individualista como o nosso, exista um cidadão preocupado em deixar para a
sociedade um local de preservação ambiental”.
“Hoje é um dia muito feliz, estamos concretizando o que ele
tanto gostava de ter visto em vida”, expressou, na ocasião, Regina Márcia Rosa
Ferreira, amiga e procuradora de Sebastião Meimberg Porto. Antônio Correa, poeta
e amigo do doador da área, destacou que Sebastião estou num colégio de padres em
Campinas e era um homem culto, que lia muitos livros e possuía amplo
conhecimento da natureza e sabia da importância da preservação do meio ambiente.
“Aprendi com ele nomes científicos de plantas e seus significados na língua tupi
guarani, coisas que ele sabia com perfeição e que nunca me ensinaram na escola”.
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Imagens catalogadas na Estação Experimental Ecológica Sebastião Meimberg Porto (fotografias de Daniela Sampaio Silveira) |
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O estudo catalogou mais de 20 espécies endêmicas entre 224 plantas diferentes na Reserva Ecológica Sebastião Meimberg Porto, que hoje pertence à Unesp/Ibilce (fotografias de Daniela Sampaio Silveira) |
Pesquisa realizada por membros da comunidade da
Unesp/Ibilce teve como objetivo catalogar e identificar a diversidade das
plantas que apresentam flores na Reserva Ecológica Sebastião Meimberg Porto. O
estudo catalogou 20 espécies endêmicas entre 224 espécies diferentes no local.
O pesquisador Valner Matheus Milanezi Jordão destacou que o
trabalho servirá como material educativo de treinamento para estudantes e
pesquisadores, proporcionando uma rica base de dados para estudos em ecologia, fisiologia
vegetal e outras áreas das ciências biológicas. “Além disso, o trabalho possui
uma grande importância para a valorização do patrimônio natural”.
“Durante a realização deste trabalho, sempre tivemos em
mente que gostaríamos de dedica-lo ao antigo proprietário da área, ao senhor
Sebastião Meimberg Porto”, afirmou o professor Valner. “Ele (Sebastião Porto) possuía
um grande desejo de deixar para a sociedade uma área de preservação ambiental
e, por isso, doou seu sitio à Unesp em 2006. A decisão do senhor Sebastião foi
extremamente nobre e é verdadeiramente apreciado por todos os pesquisadores e
por toda a comunidade da Unesp/Iblice”.
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