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Anhanguera: a trajetória controversa do bandeirante que fundou Goiás

Estátua de Anhanguera no Parque Trianon, defronte ao MASP na avenida Paulista 

Nelson Gonçalves, especial para a Folha2


A figura de Anhanguera gera controvérsias, sendo visto por uns como herói desbravador das expedições paulistas e por outros como o opressor que utilizou de crueldade contra os povos indígenas. O nome, que em tupi significa “Diabo Velho”, acabou se tornando sinônimo da própria saga bandeirante no interior do Brasil.

 Bartolomeu Bueno da Silva, o Anhanguera, nasceu em 1672, em Santana de Parnaíba, um dos berços das entradas e bandeiras. Herdou do pai — também bandeirante e igualmente chamado Bartolomeu Bueno — o apelido e a fama. Diz a tradição que o pai teria enganado indígenas ao atear fogo em porções de álcool para ameaçar incendiar os rios, um episódio que se perpetuou no imaginário histórico.

 Aos 12 anos, Anhanguera acompanhou o pai em expedição ao território que viria a se tornar Goiás. A descoberta de ouro e pedras preciosas na Serra dos Martírios atraiu sua atenção de forma definitiva. Nomeado fiscal das minas, ele retorna ao sertão goiano liderando nova expedição, agora acompanhado de dois freis beneditinos, um franciscano, 20 indígenas, 30 cavalos e 152 armas.

 Às margens do rio Vermelho, encontra novas jazidas e funda a cidade de Goiás, núcleo inicial da ocupação portuguesa na região. Em recompensa, recebe sesmarias e o direito de cobrar pedágio nas travessias dos rios que conduziam às minas.

 Cora Coralina, escritora e figura emblemática da própria cidade de Goiás, destaca que o bandeirante, embora tenha contribuído para enriquecer a Coroa Portuguesa, terminou a vida sem fortuna. Gastou o que herdara em sucessivas tentativas de novas descobertas e acabou condenado a restituir valores antes recebidos, tendo seus bens sequestrados por não cumprir a promessa de entregar uma arroba de ouro à Coroa.

 Assim como o pai, Anhanguera também se envolveu em episódios de violência. Métodos de intimidação contra indígenas — como o uso do fogo para pressioná-los a revelar rotas e minas — renderam críticas severas, mas também o reconhecimento oficial como pioneiro da ocupação dos sertões goianos. A corrida pelo ouro, contudo, acirrou disputas, denúncias e sonegações.

 Acusado de sonegação de impostos em 1733 e sob suspeita de contrabando, o bandeirante perdeu prestígio. Sua autoridade foi gradualmente esvaziada pela administração portuguesa, culminando no sequestro de seus bens e na perda de cargos. Morreu em 1740, pobre e desolado, na própria cidade que ajudara a fundar.

Homenagens para Anhanguera

Mesmo cercado de controvérsias, o nome Anhanguera se perpetuou na geografia e na cultura brasileiras. A Rodovia Anhanguera (SP-330), iniciada em 1920 na gestão de Washington Luís, virou marco da infraestrutura paulista, tornando-se em 1948 a primeira estrada asfaltada do país e, em 1958, a primeira totalmente duplicada. Uma estátua do bandeirante permanece em frente ao MASP, no Parque Trianon, ponto por onde milhões passam diariamente sem notar a figura histórica.

Em Goiás, a Avenida Anhanguera é uma das principais vias de Goiânia. E no campo da educação, o nome batiza uma das maiores redes de ensino superior do país. A Faculdade Anhanguera surgiu em 1994, fundada por Antônio Carboni Netto, inicialmente instalada em Leme (SP) e expandida pelas cidades ao longo da SP-330, a Rodovia Anhanguera que inspirou o nome da instituição. Hoje integrada ao grupo Cogna, tornou-se uma das marcas mais reconhecidas do setor.

As Faculdades Anhanguera tem mais de 370 unidades espalhadas por 20 estados brasileiros

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Estátua de Anhanguera no Parque Trianon, em São Paulo


Rodovia Anhanguera foi a primeira asfaltada e com pista duplicada no Brasil

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