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Lanterninhas de cinema, profissão quase em extinção

 

Os lanterninhas atuavam para coibir os excessos no escurinho dos cinemas

Nelson Gonçalves, especial para a Folha2

Hoje em dia é natural que poucos saibam o que eram os chamados “lanterninhas” ou “vaga-lumes” dos cinemas. Eram pessoas que, munidas de uma lanterna, tinham a função de acompanhar as pessoas que chegavam atrasadas nas sessões de cinema quando as luzes já estavam apagadas. Também eram muitos úteis para coibir os namoros que excediam a normalidade. Eram os terríveis “lanterninhas” que punham ordem, medo e terror no escurinho dos cinemas.

Quantos casais de namorados não foram colocados para fora, no meio do filme, por ultrapassarem os limites dos bons costumes da época. Beijos de língua, abraços acalorados e alguns amassos exagerados não eram permitidos. Os “lanterninhas” atuavam tipo inspetor de alunos nas escolas antigas. Ficavam atentos a tudo que acontecia no ambiente.

Elvis Presley, antes de estourar nas paradas de sucesso como cantor, trabalhou como lanterninha e porteiro no Cine Teatro Loew’s State, entre 1950 a 1952. Em novembro de 1956, Presley fez sua estreia na telona do cinema com o filme “Love Me Tender”. Ele fez questão de voltar no cinema onde tinha trabalhado para assistir o filme. Desta vez sentado confortavelmente numa poltrona e sem ser incomodado pela figura do “lanterninha”.

Quem também trabalhou como “lanterninha” e porteiro de cinema foi o jornalista Anselmo Scarano. Ele trabalhou no antigo Cine Marília, cujo prédio foi derrubado para dar lugar à agência do banco Banespa (hoje Santander), na cidade de Marília. Scarano trabalhava até a última sessão, que terminava por volta da meia-noite, para fechar as portas do cinema. No dia seguinte acordava por volta das 5 horas da manhã para trabalhar como entregador do jornal “Correio de Marília”, que mais tarde se tornou seu único proprietário.

 Outra personalidade famosa na região de São José do Rio Preto que atuou como “lanterninha”, porteiro, baleiro, bilheteiro e propagandista no cinema do seu pai, o Cine Urupês, na cidade com o mesmo nome, é Marival Correa. “Só não fui projetista. Do resto a gente fazia de tudo no cinema”, conta Marival, que teve passagens pelos principais jornais da região e agora prepara um livro para falar de sua paixão pelo cinema, herança herdada do pai. “Meu pai teve bar por trinta anos e cinema, que não dava dinheiro mas era a paixão dele, por 10 anos”.

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Elvis Presley e o seu antigo patrão, Mr. Groom, dono do Leow’s State


Cinema era a principal diversão das cidades

 O cinema, se não a única, era a maior atração de lazer para o povo. Não existia televisão. Tinha o circo, mas não era todos os dias. Quem viveu nas décadas de 1950 e 1960 sabe que o principal divertimento nos finais de semana era assistir os filmes em cartaz. Naquele tempo as moças não saiam de casa a não ser para ir ao cinema. E sempre acompanhadas por um “segura-vela”, como eram chamados os irmãos mais novos ou os primos indesejáveis para as moçoilas. Não tinha balada. As moças assistiam a primeira sessão do cinema e depois iam para o “footing” na praça central. E tinha hora para chegar em casa. Se chegasse fora de hora era castigo na certa. Filhas de pais mais severos apanhavam de cinta. E não existia Conselho Tutelar para reclamar!

 As roupas para quem ia ao cinema eram de luxo. As moças arrumavam o cabelo e usavam vestidos longos. Os rapazes iam de terno, gravata, sapatos super engraxados e brilhando. Muitos passavam brilhantina nos cabelos e ficavam com aqueles topetes oleosos, escorrendo óleo pela testa.

Ao final da década de 1970, os cinemas já não lotavam mais. Alguns, na esperança de ganhar público, apelaram para os filmes de pornochanchadas. Eram filmes eróticos, como “Garganta Profunda”, para chamar a atenção. Mas nem assim resistiram.

 Botucatu, a capital do cinema

Emílio Pedutti chegou a ter 70 cinemas espalhados pelo interior paulista

 Emílio Pedutti foi contador, empresário, vereador e duas vezes prefeito de Botucatu, numa época em que ainda não havia reeleição. Foi fundador e proprietário de emissoras de rádio. Mas se destacou no ramo cinematográfico.

Emilio Pedutti chegou a ter 70 cinemas espalhados pelo interior paulista, norte do Paraná e Mato Grosso. Empresas como a Paramount, Metro Goldwyn-Mayer, Columbia Pictures e Warner Bross, dentre outras famosas, a mando de Pedutti, mantinham seus escritórios para distribuição de filmes em Botucatu. Qualquer cinema que quisesse locar um filme tinha de recorrer à Botucatu. E por isso, Botucatu ficou conhecida como a capital do cinema. Os filmes, em latas, eram despachados pelos trens.

Contam os antigos moradores da cidade que quando Pedutti foi candidato a prefeito seus comícios eram divertidos. Ele falava cinco minutos sobre política e no restante do discurso contava as histórias dos filmes. Era apaixonado por cinema.

Jornalista Anselmo Scarano, que foi dono do "Correio de Marília", conta que começou sua vida profissional trabalhando como jornaleiro e "lanterninha" de cinema 

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Cine Urupês faz parte da história da cidade e da vida profissional do jornalista Marival Correa



 

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