Por Pedro Gravata
No último dia 6 de novembro, o
primeiro contêiner de tilápia importada do Vietnã pela JBS desembarcou a
caminho do mercado brasileiro. O fato, aparentemente corriqueiro no comércio
internacional, acende um alerta vermelho para toda a cadeia da piscicultura
nacional — especialmente para os milhares de pequenos e médios produtores que
fazem da tilápia uma das principais fontes de proteína e emprego no país.
Com o recente acordo comercial
Brasil–Vietnã, o Brasil passou a exportar carne bovina para o mercado asiático
e, em contrapartida, a JBS passou a importar tilápia vietnamita. Trata-se de
uma operação legítima, sob o ponto de vista legal e comercial. Mas é moralmente
aceitável que uma gigante do setor alimentício concorra internamente com
produtores brasileiros já sufocados por custos elevados, burocracia e ausência
de incentivos?
A tilapicultura nacional vem
enfrentando uma série de desafios — ambientais, logísticos e regulatórios.
Mesmo assim, o setor tem se mostrado resiliente, inovando e gerando renda em
todas as regiões do país. O que falta, muitas vezes, é o apoio institucional
que valorize o que é produzido aqui, ao invés de favorecer importações que
desestimulam a cadeia produtiva local.
A entrada de tilápia
estrangeira no mercado interno, mesmo em pequena escala, representa um
precedente perigoso. Se a tendência se consolidar, veremos uma corrida desleal:
o peixe asiático, produzido com custos muito menores e padrões sanitários
questionáveis, competindo com o trabalho sério e rastreável de milhares de
piscicultores brasileiros.
Não se trata de condenar a JBS
por exercer sua liberdade comercial. Mas é preciso questionar sua
responsabilidade social. Por que não investir na produção nacional, tornando-se
parceira da tilapicultura brasileira, fortalecendo o setor, gerando mais
empregos e desenvolvimento interno?
A
tilápia é um dos símbolos do sucesso da aquicultura no Brasil. Abrir o mercado
a importações pode parecer um movimento estratégico no curto prazo, mas, a
longo prazo, significa fragilizar um setor que construiu com esforço,
investimento e sustentabilidade sua própria relevância.
Defender a tilapicultura
brasileira é defender o emprego, a renda e o alimento de qualidade produzidos
no nosso território. É exigir equilíbrio nas relações comerciais e respeito a
quem sustenta a economia real — os produtores que estão dentro d’água,
literalmente, fazendo o Brasil crescer.
● Pedro Gravata é tilapicultor
em Três Ranchos, Goiás.