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Antônio Aguillar mostra quadro onde ele entrevistava o cantor Nelson Nedna TV Excelsior |
Prestes a completar 95 anos em outubro deste ano, faleceu, neste domingo de Carnaval, em São Paulo, Antônio Aguillar. Ele foi um dos maiores descobridores e responsáveis pelo sucesso de grandes talentos da música brasileira. Entre as décadas de 1960 e 1970 ele revelou em seus programas de rádio e televisão alguns ídolos como Roberto Carlos, Erasmo Carlos, Wanderléia, Ronnie Von, Jerry Adriani, Eduardo Araújo e conjuntos musicais como Os Incríveis, The Jordans, The Clevers, The Flyers e tantos outros artistas talentosos.
Nascido em São José do Rio Preto, aprendeu a fotografar e ingressou, em 1950, no jornal O Estado de São Paulo, onde permaneceu por 10 anos. Admitido no jornal depois de um teste proposto pela redação: uma foto e uma legenda de um quiosque de flores. Daí em diante se tornaria um dos principais repórter-fotográfico do matutino. Fotografou desde a cantora francesa Edith Piaf, o escultor Victor Brecheret, aos atores Paula Autran e Tônia Carreiro. Participou das coberturas de festas da alta sociedade, inaugurações como a do Parque Ibirapuera, aos desfiles de moda e vindas de papas.
Em 1959 começava no rádio com um programa de calouros na Rádio 9 de Julho. Trabalhou nas Rádio Nacional e Excelsior, de onde saltou para a recém inaugurada TV Excelsior. Com grande audiência, seu programa atraiu a atenção da gravadora Philips, que passou a oferecer como prêmio o contrato para a gravação de um disco ao vencedor do concurso de calouros.
Sob seu comando, no programa “Ritmos para a Juventude”, passaram nomes como Demétrius, Ronnie Cord, Nilton César, Wilson Miranda, Carlos Gonzaga, Tony e Celly Campelo, George Freedman, Sergio Reis, Sérgio Murilo e Wanderley Cardoso. Com uma audiência espetacular, o programa passou a ser exibido pela TV Record e depois pela TV Paulista (futura TV Globo) e lançou alguns bordões como “uma brasa mora”, “juventude alegre e sadia do Brasil”. Foi nesse programa que o rei Roberto Carlos se apresentou pela primeira vez num programa de televisão. “O Chacrinha, que na época só fazia programa de rádio, me telefonou pedindo para dar uma chance para um rapaz novo, que vinha de Cachoeira do Itapemirim”, contou Antônio Aguillar, numa entrevista para falar sobre o início de contato com Roberto Carlos, de quem se tornou amigo.
Um dos responsáveis pelo sucesso de Rita Pavone
Aguillar foi o responsável para trazer ao Brasil a cantora italiana Rita Pavone. Em troca, os italianos levaram para excursionar na Itália o conjunto The Clevers, ao qual Aguillar era o seu representante comercial. Devido aos programas que apresentava semanalmente ao vivo aqui no Brasil, Aguillar não pode acompanhar o grupo na excursão de dois meses na Itália. Um amigo que viajou junto com o grupo provocou um desentendimento entre os rapazes do grupo com Aguillar, que romperam as relações comerciais.
Aguillar trabalhou 20 anos no Sistema Globo de Rádio e televisão, até se aposentar em 1981. Retornou a São José do Rio Preto, sua terra natal, onde trabalhou na redação do jornal A Notícia, na rádio Centro América e prestou assessoria de imprensa na Secretaria da Promoção Social, quando Vergílio Dalla Pria estava à frente da pasta. Inquieto Aguillar nunca parou. Se mudou para Santos para apresentar um programa ao vivo, ao lado de Lombardi, o locutor com a voz oculta nos programas de Silvio Santos. Ultimamente estava apresentando programas na Rádio Capital e Rádio Calhambeque, em São Paulo.
Em 2005, junto com a filha Débora Aguillar e com o jornalista Paulo César Ribeiro, lançou o livro, pela Editora Globo, “Histórias da Jovem Guarda”. Segundo os amigos, Aguillar sempre foi eficiente em tudo aquilo que se propôs a fazer. A jornalista Jaqueline Casanova, que teve a oportunidade de entrevista-lo para a TV Câmara, disse que foi uma das melhores entrevistas que ela fez. “Ele escreveu uma grandiosa história”. Clique aqui e assista a integra da entrevista que Jaqueline fez com Aguilar na TV Câmara
“Para quem conviveu com ele na época de ouro do rádio sabe o quanto ele era humilde”, afirmou o também jornalista João Sorroche Neto. “Famoso de A a Z o amigo Aguillar tinha a sua própria história. Era um gênio que merece ser reconhecido por tudo que fez, representando nossa cidade”. Para o poeta Antônio Correia, Aguillar teve uma vida bastante frutífera. “Que vá em paz”, afirmou.
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Vereador Pedro Roberto prestou homenagem para Antônio Aguillar na Câmara Municipal |
Um arquivista inigualável
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Antônio Aguillar entrevista Roberto Carlos em seu início de carreira |
O jornalista Nelson Gonçalves afirma que conheceu Antônio Aguilar em 1990 quando ele chegou de São Paulo para trabalhar no jornal “A Notícia”. “Humildemente pediu se podia trabalhar ali como arquivista e se poderia trazer seus arquivos para o jornal”, lembra Gonçalves. “Para surpresa de todos ele apareceu no dia seguinte com um caminhão carregado com seis arquivos de aço, repleto de pastas com tudo quanto era tipo de arquivos fotográficos e de recortes de jornais e revistas. Ali tinha tudo quanto era coisa que se podia imaginar”.
Anos passaram e por volta de 2002, Gonçalves estava na cidade de Santos, junto com os jornalistas Júlio César, Marcelo Dias, Daniela Jammal, entre outros para participar de um Congresso Nacional de Jornalistas. “Naquela época Aguillar estava residindo em Santos e apresentava um programa num emissora de rádio. Quando soube que estávamos em Santos ele foi nos buscar no hotel, nos levou para sermos entrevistado no programa dele, que fazia junto com o Lombardi, e para comer ostra num restaurante na beira da praia que tinha mesas com placas de bronze na parede com os nomes dos famosos, como Pelé, Xuxa, Lombardi. E lá também estava o nome do Aguillar”.
Gonçalves disse que costumava falar sempre com Aguillar por telefone. Informa que o jornalista deixou parte do seu acervo fotográfico doado para a Secretaria Municipal de Cultura. “São fotos históricas de São José do Rio Preto feitas por ele nas décadas de 1950 a 1960”.
Segundo a esposa Maria Célia, duas semanas antes de falecer, Aguillar fez questão de ir a São José do Rio Preto para visitar o irmão mais novo, João Roberto, que não estava muito bem de saúde. “Na volta da viagem, no dia 31 de janeiro, quando pegamos o avião ele disse que já não estava se sentindo muito bem”, lembra Maria Célia. Passados alguns dias, a resistência baixou e ele precisou ser internado. Faleceu num hospital em São Paulo. Seu corpo foi velado no velório do cemitério Jardim Avelino. Mas a pedido dele, será cremado no Crematório da Vila Alpina.
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Faleceu no domingo de Carnaval "O Timoneiro da Juventude": Antônio Aguillar |
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Antônio Aguillar entrevista o "tremendão" Erasmo Carlos |
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