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Os papéis são iguais, mas diferentes em muitas igrejas

 

Monja Coen, budista, uma das mais conhecidas lideres do Budismo no Brasil
(Foto; Espindola de Castro)

Desde os tempos em que cabia às mulheres a exclusiva tarefa de ficar em casa, cuidando dos afazeres domésticos e dos filhos, elas são maioria nas igrejas.  A presença maciça das mulheres nas atividades eclesiásticas vem, aos poucos ganhando força nas igrejas. Os papeis são iguais, mas diferentes em muitas igrejas.

Com exceção da Igreja Católica e algumas poucas evangélicas, onde as mulheres não exercem funções de poder, em muitas igrejas evangélicas, tradicionais, pentecostais ou neopentecostais, a figura de pastoras, diaconisas, presbíteras e até bispas já se tornou rotineira. O empoderamento feminino também chegou, faz tempo, entre os templos budistas e de outras religiões orientais como a Seicho-No-Iê e a Messiânica.

Bispa Cléo Rossafa

Em um cenário bem diferente do observado no passado, quando eram reservados para elas papéis específicos, como cuidar de crianças ou lecionar nas escolas dominicais, as igrejas evangélicas apresentam uma nova face feminina. Contradizendo os religiosos e tradições de sua época, a bispa Cléo Ribeiro Rossafa, conta no site da sua Igreja Mudança de Vida, da qual é fundadora e sua principal líder, como enfrentou as críticas daqueles que diziam que “mulher não deveria pregar”. 

“A represália foi tão grande porque muitos religiosos não admitiam que a mulher tivesse o mesmo desempenho que o homem no ministério evangelizador”, afirma. “Fiam-se em dois únicos versículos bíblicos, tirando deles sua interpretação pessoal para firmarem doutrinas humanas, tradições religiosas que menosprezam e que diminuem as mulheres, impedindo assim que o evangelho ganhe, pois quanto mais pessoas falando do amor de Jesus, com certeza, mais vidas terão oportunidades de serem salvas”.

Bispa Cleo Rossafa durante apresentação de seu programa na televisão


Assembleia de Deus

Cassiana Santana, cantora gospel da Assembleia de Deus


Nas Assembleias de Deus dos Estados Unidos, a presença das mulheres nos púlpitos foi oficializada em 1935. Nas décadas seguintes, foram seguidas por metodistas, presbiterianos e luteranos norte-americanos. Mas no Brasil ainda existem certas resistências para elas estarem nos púlpitos.

Nas pentecostais e neopentecostais foram as cantoras gospel que mais contribuíram para a mudança. Um exemplo é Cassiane Santana, da Assembleia de Deus, maior denominação do país, que abriu precedente para que todas as mulheres de presidentes do Ministério Madureira fossem ordenadas pastoras.


Mulheres na liderança das evangélicas

Ana Paula Valadão fez sucesso com seu grupo Diante do Trono

Ana Paula Valadão, da Igreja Batista Lagoinha, de Belo Horizonte (MG), quebrou o tabu das tradicionais e hoje, segundo dados da própria igreja, 45% do corpo pastoral é do sexo feminino. A Convenção Batista Brasileira (CBB) reconhece o pastoreio feminino desde 1999, mas quem ordena as sacerdotisas é a igreja local. A Ordem dos Pastores Batistas Brasileiros (OPBB) aprovou o ingresso das mulheres na entidade em janeiro de 2014 e agora já são 300 exercendo o cargo.

A Igreja Adventista do Sétimo Dia, apesar de não ser pentecostal, teve seu início a partir de uma liderança feminina. De acordo com dados do Relatório Estatística Anual da própria igreja, a porcentagem de mulheres dentro da Adventista é maior do que a porcentagem dos homens. Dos 275 mil adventistas paulistas, 57,8% são mulheres.

A denominação que mais ordena mulheres no Brasil é a Quadrangular. São 7 mil pastoras. Marta Cristina Nunes faz parte dessa estatística. Ela exerce o pastoreio há 32 anos e atualmente lidera com o esposo a Primeira Igreja do Evangelho Quadrangular em São Lourenço (RS).

Questão cultural

Nos últimos 10 anos, o número de ordenações femininas aumentou no país. Mas não são todas as correntes que aceitam o pastoreio das mulheres. Ainda é bem maior o contingente de mulheres escaladas para tarefas de cunho de menor importância.

Uma polêmica ainda paira sobre a abertura de espaço para a ordenação eclesiástica de mulheres. O assunto não é unanimidade entre líderes e membros tanto do Brasil quanto do exterior. Existem denominações mais tradicionais, como a Igreja Presbiteriana do Brasil (IPB) que recuou no ano passado e voltou a restringir algumas atividades para as mulheres.

Em 2022 um grupo de mulheres da Igreja Presbiteriana do Brasil, a tradicional IPB, se viram alijadas da liderança da Igreja, após uma série de proibições impostas pela cúpula masculina da instituição. Desde julho, elas ficaram impedidas de pregar em cultos e distribuir a Santa Ceia. Na maioria dos templos, elas até então exerciam sem grandes problemas essas atividades. Mas nunca puderam ser ordenadas pastoras, presbíteras e diaconisas, os três principais cargos oficiais da IPB. O Supremo Concílio decidiu, em 2018, que mulheres só podiam subir nos púlpitos para pregar, se estivessem sob a supervisão de algum pastor.

A Igreja Presbiteriana Independente (IPI), uma ala que 150 anos atrás se isolou da tradicional por não aceitar maçons em sus fileiras, no quesito feminino parece ser um pouco mais progressista aceitando que as mulheres desempenhem papeis de lideranças em suas igrejas. Recentemente o site da IPI divulgava uma live para falar justamente sobre a liderança das mulheres no cristianismo. Duas mulheres estavam a afrente desse evento: a reverenda Kellen Christiane Rodrigues, pastora da IPI em Presidente Prudente, e a reverenda Grytsje Couperus, pastora da 1ª IPI de Botucatu.

Numa entrevista para a Revista Comunhão, o pastor JD Greear, da Summit Church, em Carolina do Norte, nos Estados Unidos, defende que o papel de mulheres e homens são iguais. Mas quando se trata da igreja, são diferentes. “Os papeis são iguais, mas diferentes na igreja”, diz.

Participação de mulheres é tema de estudo

A participação das mulheres na história da Igreja Universal do Reino de Deus (IURD) foi tema de uma tese de conclusão de curso na Universidade Estadual de Londrina (UEL) produzida por Fernanda Vendramini Gallo. Maioria nos assentos das primeiras fileiras dos cultos, as mulheres são, assim como em outras igrejas pentecostais, visivelmente em maior número na maioria nos templos das igrejas da Universal do Reino de Deus.

 “A identidade sobre as representações sociais é predominantemente masculina, de maneira que as atividades produzidas limitam as capacidades femininas, tornando-as invisíveis perante ao homem”.

Mesmo com a maioria dos fieis sendo mulheres, a Universal, segundo o trabalho apresentando na UEL, desempenha um papel dúbio, por estimular a entrada no mercado do trabalho, fomentar o ativismo politico e as qualidades femininas, ao mesmo tempo impõe restrições ao controle sistemático de ascensão das mulheres na hierarquia religiosa na formação de líderes para o comando da IURD.

A Congregação Cristã no Brasil (CCB) é uma igreja com fortes laços de predominância masculina no comando das decisões. Os anciões, como são chamados seus líderes, são todos homens. Até na composição orquestra existe, segundo alguns fieis, restrição para as mulheres poderem participar e tocar algum instrumento. O único instrumento liberado para as mulheres é o órgão, quando não existe na igreja nenhum organista homem. As mulheres em determinadas igrejas até podem pregar e dar algum testemunho nos cultos, mas desde esteja na presença de algum líder religioso do sexo masculino.


Briga familiar na Deus e Amor

Ereni Miranda substitui o pastor e fundador da Igreja Deus e Amor, Davi Miranda, no comando


Igreja Pentecostal Deus é Amor (IPDA) é uma das maiores e mais tradicionais instituições evangélicas do Brasil. Fundada em São Paulo, em 1962, pelo missionário David Miranda (falecido em 2015), a IPDA tem hoje mais de 17 000 templos e filiais em 88 países e é liderada por Ereni Miranda, viúva do fundador.

Possui uma das mais rígidas doutrinas ente as denominações religiosas. As mulheres, por exemplo, não podem cortar o cabelo, fazer a sobrancelhas ou se depilar. Seus membros também não podem frequentar praias.

Em setembro do ano passado um grande escândalo abalou a instituição e obrigou a líder máxima da Igreja, Ereni Miranda, viúva de Davi Miranda, a afastar sua própria filha Léia Miranda da direção, após ela ser acusada de comportamento sexual impróprio. O episódio detonou uma guerra familiar entre tia, sobrinhos e uma irmã começou após a divulgação de um áudio no Whatsapp, cuja voz foi atribuída a Léia, onde ela supostamente fazia inconfidências sexuais sobre o relacionamento com um pastor. O caso ganhou repercussão dentro e fora da igreja e foi parar na Justiça.  O “barraco gospel” pegou fogo mesmo no dia em que Leia foi afastada da direção. Ela compareceu num culto, pegou o microfone e apontou o dedo para os seus detratores. “Eles querem destruir a IPDA, por causa do conchavo com a maçonaria, e eu tenho sido o obstáculo para eles realizarem isso”, afirmou, citando nominalmente David Oliveira de Miranda (seu sobrinho, conhecido como Davi Neto) e a mãe dele, Débora Miranda (sua irmã). “Falsos, mentirosos, filhos do diabo, escravos do Satanás”.

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