A PF identificou e prendeu o mecânico Antônio Claúdio Alves Ferreira, de 30 anos
O mecânico Antônio Claudio Alves Ferreira, de 30
anos, flagrado por câmeras de segurança jogando no chão o relógio de dom João
6ª durante a invasão golpista do dia 8 de janeiro, foi preso na última
segunda-feira (23). A prisão, feita pela Polícia Federal (PF), ocorreu em
Uberlândia.
O mecânico estava foragido de sua casa, em Catalão
(GO). Depois do ato criminoso, ele recolheu o que pode e abandonou a
residência. Quatro vizinhos, o ex-patrão, a dona do imóvel e a própria irmã Rosinaline
Alves Ferreira reconhecerem e confirmaram pelas imagens que era ele.
Ao deixar às pressas a casa que alugava em
Catalão, Ferreira deixou para trás uma série de elementos que ajudam a traçar seu
perfil. No interior da casa foram encontrados uma Bíblia, boné e camiseta com o
nome de Jair Bolsonaro e uma faca do tipo usada pelo tático militar. Na porta
de entrada da casa abandonada estava uma bandeira do Brasil e um adesivo com a
foto, nome e número de campanha de Bolsonaro colocado na parte superior.
O pintor Vanderlei Gonçalves, que mora em um
imóvel construído nos fundos do mesmo terreno e teve acesso ao interior da
casa, disse, à reportagem do jornal Estado de Minas, que Ferreira deixou uma
panela de arroz, já mofada e exalando mau cheiro, roupas espalhadas pelo chão,
um aparelho de DVD, assessórios de computador e controles de videogames.
“Antes daquela bagunça lá em Brasília, ele
(Ferreira) colocava o hino da Bandeira e tocava durante três horas aquela
barulheira”, contou o vizinho, relembrando que o mecânico sumiu de casa um dia
após o episódio que o tornou conhecido.
Ex-chefe de Ferreira em uma oficina mecânica,
Fernando Zorzetti, disse que reconheceu imediatamente o ex-funcionário ao ver
as imagens dele destruindo o relógio de Dom João 6º pela televisão. Ele disse
que o golpista era uma pessoa simples e que se surpreendeu com a cena. “Fiquei
assustado. Como assim, o Claudinho?”, afirmou Zorzetti.
Segundo o jornal O Globo, que ouviu várias pessoas
no município de Catalão, tanto vizinhos como amigos que tiveram contato próximo
a Ferreira relataram que ele era um bolsonarista ferrenho, que chegava a “brigar
por causa do então presidente”. Disseram que ele costuma enviar mensagens, pelo
celular, de apoio ao presidente e contra adversários políticos.
O relógio destruído pela fúria raivosa do mecânico
durante os atos golpistas em Brasília é uma peça do relojeiro francês Balthazar
Martinot. Foi um presente da corte de Luís 15 ao rei Dom João 6º, durante o
período em que família real se encontrava
no Brasil. Era o único relógio no mundo, de valor artístico e cultural
imensurável. O mais próximo e parecido é um relógio de tamanho menor que está
no Palácio de Versalhes, na França.
O carro do criminoso foi visto saindo de Brasília na madrugada do dia 9 de janeiro em direção à cidade goiânia de Catalão
Fakes
Após o episódio que viralizou as imagens pela internet
começou a circular em grupos de whattzap postagens, publicadas por defensores
do ex-presidente Jair Bolsonaro, atribuindo o crime a um militante do Movimento
dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST). Diversas postagens nas redes sociais
afirmavam que um jovem ligado ao MST seria o vândalo mostrado no vídeo das
câmeras de segurança.
A pedido do jornal O Estado de São Paulo, o perito
audiovisual Ricardo Caires dos Santos, presidente da Comissão Nacional de
Perícia Audiovisual, da Academia Brasileira de Ciências Criminais, avaliou os
vídeos em que apareciam tanto o homem quebrando o relógio quanto o integrante
do MST. Ele concluiu em laudo enviado ao jornal que não se tratavam da mesma
pessoa.
A direção do MST se posicionou e chegou a divulgar
nota afirmando que as postagens configuravam “montagem grosseira”. Confirmou
que o jovem que aparecia em vídeos, mas em outros locais, era realmente
militante do MST do Paraná. Disse a nota que tratava de um estudante que mora
com a família em um acampamento, no interior do Paraná, negando veementemente a
participação dele nos atos terroristas em Brasília.
A PF recebeu várias denúncias que ajudaram a
localizar o criminoso. E ao chegar as informações, os investigadores levantaram
dados sobre o veículo do vândalo e o trajeto feito por ele nas últimas semanas.
Nos bancos de dados, cruzados com câmeras de vários lugares, apontou que o
automóvel dele havia se dirigido para Brasília no dia 2 de janeiro e voltado
para Catalão na madrugada do dia 9 do mesmo mês, logo após a invasão às sedes
dos Três Poderes.
A partir daí, a PF começar a analisar as fotos do
suspeito. A imagem do vândalo foi submetida à avaliação de um sofisticado
programa de reconhecimento facial, que comparou com os vídeos do sistema de
segurança do Planalto. O resultado foi atestado por experientes peritos da
Polícia Cientifica e não foi difícil chegar até o criminoso, preso pela PF na cidade
de Uberlândia.
Em diversos grupos de Whatsapp na região de São José do Rio Preto circulou vídeos e postagens afirmando quem tinha jogado no chão o relógio, uma relíquia deixada por Dom João 6º para o patrimônio histórico do Brasil, teria sido um membro do MST (Movimento dos Trabalhadores Sem Terra), que seria um “infiltrado” do PT (Partido dos Trabalhadores) nas depredações e atos de vandalismos praticados contra a sede dos Três Poderes em Brasília. A reportagem da Folha2 identificou postagens e comentários de pessoas acreditando nessa falsa narrativa em diversos grupos.
.Por um sofisticado sistema de reconhecimento facial a PF chegou facilmente até o endereço do mecânico