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A direção do próprio You Tube estuda meios para barrar informações falsas e pede para os internautas denunciarem |
Está disponível o primeiro
estudo da série “Ciência Contaminada”, que analisa o uso do You Tube para a
disseminação de desinformação na internet. A publicação faz parte do projeto “Democracia
Infectada” e mostra que no período entre 1º de fevereiro a 17 de março de 2020
foram postados 11.546 vídeos sobre coronavírus, a maioria com informações
falsas, deturpando estudos científicos ou para destruir reputações de pessoas.
A quantidade é imensa. A
média de postagens nesses 46 dias da pesquisa é 251 vídeos por dia, comprovando
que existe uma verdadeira “indústria de mentiras” e “fábrica de boatos”,
escondida por trás do suposto anonimato da internet, por meio de pessoas que, covardemente, se
utilizam de contas e nomes falsos.
A iniciativa do trabalho é
fruto da cooperação entre o Centro de Estudos e Pesquisas de Direito Sanitário
(Cepedisa) da Universidade de São Paulo (USP), do Instituto de Ciência e
Tecnologia em Democracia Digital (INCT.DD) e Centro de Análise da Liberdade e
do Autoritarismo (LAUT). O trabalho foi realizado por uma equipe de
pesquisadores, formada por médicos, advogados, cientistas e professores dos cursos
da área de Engenharia da Computação, liderado pelos pesquisadores Caio Vieira
Machado, Daniel Dourado, João Guilherme Santos e Nina Santos.
O ambiente digital se
tornou importante campo de disputa informacional, difundindo informações fáceis
para o processo de desinformação, chamados de fake News (notícias falsas).
Segundo o estudo, o You Tube é a segunda maior rede social de maior audiência
nos celulares dos brasileiros. Detém 15% de participação dos vídeos assistidos,
atrás apenas da Rede Globo com 18% de visualizações. De acordo com essa mesma
pesquisa, nenhuma outra plataforma de vídeos das redes de TV aberta ou paga, na
internet, supera a marca de 6%.
E por ser num ambiente
menos controlado, diz a pesquisa, o You Tube se tornou opção atraente,
oferecendo ambiente fértil para migração desse tipo de material falacioso que
atinge em cheio as classes menos escolarizadas ou onde o ensino é precário. Além disso, o vídeo, que mostra imagem e som, mesmo que seja de um falso médico ou de programa de tv que não existe, torna-se muito mais "convincente" do que um longo texto. Brasileiro, de maneira geral, tem preguiça de ler. Mas quando o assunto lhe interessa, assiste do começo ao fim um vídeo, que muitas vezes o induzem para acreditar em mentiras.
Valendo-se de metodologia
quantitativa e qualitativa, o projeto “Ciência Contaminada” mapeou as
sucessivas ondas de desinformação contra a ciência em torno do tema do
COvid-19. Constatou inúmeras investidas contra as instituições que produzem
informação séria e de utilidade pública, incluindo universidades, centros de
pesquisas, laboratórios, órgãos de imprensa e o o próprio Ministério da Saúde e
Secretarias de Saúde e mesmo órgãos internacionais como a ONU (Organização das
Nações Unidas) e OMS (Organização Mundial da Saúde).
A pesquisa constatou a postagens
de vídeos, a maioria com informações falsas ou deturpadas, com forte rejeição
ao conteúdo cientifico. Muitos deles distorcendo a produção cientifica, focando
arbitrariamente em pontos que os interessam e ignorando outros que os
contradizem. Usam de forma enviesada dados científicos para fomentar o
entendimento para infundadas teorias de conspirações religiosas, políticas
nacionais ou mundiais. Além de investidas contra os órgãos tradicionais de informações.
O estudo conclui que esse
fenômeno das notícias falsas não é novo, sempre foi utilizado em larga escala
durante as campanhas políticas. Mas agora, as notícias falsas estão sendo
utilizadas, de maneira estratégica e amplamente organizada, por uma “indústria
de boatos”, bancada por políticos que pensam que podem se esconder no anonimato.
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Brasil