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Como era e como está...



* Silvio Palma Caruso


Até os anos 80, ou 90, creio eu, os casais, homem e mulher se uniam através de um matrimônio, geralmente para sempre. Desse casal nasciam os filhos, que recebiam uma “educação rigorosa”, dentro de casa, com princípios rígidos como respeito, honestidade, verdade, Esses eram “sagrados”, não se discutia, seguia. Outros mais brandos, mas nem por isso desprezados. A escola se ocupava do “ensino” de conhecimentos, leitura, matemática, história, geografia e muitas outras disciplinas inexistentes hoje. As escolas públicas, sempre as melhores, eram exigentes, excelentes e cobravam tudo, em provas rigorosas, que reprovavam os alunos. O respeito pelos professores era tão severo, que os alunos ficavam de pé e calados quando eles entravam na sala de aula. Tapa, puxão de orelha, regoada, comia solto, sem nunca machucar ninguém. E ninguém tinha coragem de reclamar em casa, se não, a coisa ia ficar pior.

Bandidagem sempre existiu, mas os bandidos tinham medo da polícia. Eram calmos e sem violência. “Batedores de carteira” eram tão sutis e suaves que tiravam carteiras de bolsos e bolsas, sem que os donos sequer sentissem qualquer contato. Assaltante até romântico como o lendário “Bandido da luz vermelha”. Estudava a movimentação de um apartamento que deixava a janela aberta no verão, nada anormal para um morador de andares altos. Nada, até que o Luz Vermelha começou a ficar famoso. Ele escalava prédios como um verdadeiro “Homem aranha”, a luz vermelha era justamente pra não acordar os moradores e sempre desarmado, escolhia o que queria, ou podia levar. As vítimas só percebiam o assalto no dia seguinte, ou quando começavam a notar a falta de objetos.

A Polícia era dura, mas não tão violenta. Eu mesmo passei por uma abordagem violenta da polícia. Aquele vexame de mão na cabeça, revista geral. Só fiquei puto com o jeito do policial, que me abordou: de arma engatilhada em punho apontada para minha cabeça e tremendo de medo, ou de nervoso! Quando se acalmou e me identifiquei e perguntei quem comandava aquilo. Ele apontou um Tenente que estava distante e fui falar com ele. Do jeito mais calmo que consegui, critiquei profundamente a forma que fui abordado. O Tenente tentou se justificar, se desculpou e preferi não criar caso com a polícia. Ouso dizer que o relacionamento, sociedade, polícia e bandido era cordial!

Visitei, várias vezes como jornalista, é claro, o Presídio do Carandiru, quando era tido com “barril de pólvora”, com o temido Pavilhão 9. O Diretor era um tal de Coronel Guedes, não sei e nunca perguntei coronel de que? Um camarada simpático, sorridente e brincalhão que atendia todos os presidiários que quisessem falar com ele. Numa dessas visitas ele me disse que lá dentro só tinha inocentes presos, se eu queria ver? Claro que aceitei a proposta, e ele disse: então vamos dar uma volta no pátio que é hora do banho de sol. 

Achei aquilo estranho, mas nem tive tempo de perguntar nada, e fomos saindo da sala do Coronel. Dois camaradas nos acompanhava que entendi como seguranças. Quando entramos no pátio repleto de presos, de todos os tamanhos modelos e caras de boas vindas, senti que nossa “insegurança” dependia daqueles dois “ guarda costas”, engoli seco e acompanhei. O Coronel conhecia o caso de cada um, mas chamava todos eles de fdp, isso mesmo, filho daquela... 

Entre o sorriso e o susto ele apontou para um presidiário e simplesmente ordenou: ô fdp, vem aqui! O fdp se aproximou cabisbaixo e com as mãos para trás e disse: pois não, coronel. O Coronel tranquilamente falou pra ele, que todos lá dentro ficaram sabendo da chegada da imprensa quando eu passei pela portaria. Então, conta pra ele porque você está aqui. O fdp, mais relaxado, olhou pra mim e começou pelo número do artigo foram presos. Logo a seguir uma desculpa. Todos os fdps, a mesma postura e as mais variadas desculpas: o advogado que me indicaram é muito ruim, não cuida do meu processo direito; não fui nem julgado, mas estou aqui; já cumpri minha pena, mas não consigo sair e por aí vai. 

Todos, por unanimidade a última fala era: sou inocente! Teve um que me chamou a atenção. Um baixinho, clarinho, disse que era contador e o coronel tinha dado à ele, a “oportunidade”, pra ele cuidar do almoxarifado. Mas aí, virou pro Coronel e disse: Ah, coronel, isso é mentira, inventaram isso! O Coronel com a mesma tranquilidade de um Padre, respondeu: ô fdp, sua historia eu sei muito bem, mandei contar pra ele. O baixinho se voltou pra mim e continuou: então o coronel me deu a oportunidade de cuidar do almoxarifado, aí, inventaram essa história que desfalquei o almoxarifado! O Coronel não resistiu em entrou na conversa: viu, ele nem falou da pena que já estava no final, mas vai começar a cumprir outra, pelo fato novo que ele nega! Fui obrigado a concordar com o Coronel “dentro dos presídios só existem inocentes”.

As raras rebeliões que existiam eram duramente reprimidas pelo método: CBB – Cassetete, Bomba e Bala e rapidamente controladas.


Como é hoje...


A família começa com um macho e uma fêmea seguindo o instinto de preservação da espécie. O macho faz a parte dele e parte para outra tentativa. A fêmea continua tentando com outros machos para garantir a preservação. O macho sabe que a fêmea é do bando, e não dele. A fêmea não sabe quem é o pai. Os filhotes nascem sem a menor noção de pai ou mãe, sem preparo nenhum, por que não tiveram nenhuma orientação para a vida. Pelo instinto de sobrevivência, os filhotes vão sobrevivendo como podem...

Se/quando vão para a escola, sem nenhuma educação que não tiveram em casa, encontram as escolas públicas também destruídas, sem a menor atenção do poder público. Os professores enforcados por baixos salários e por estarem amarrados aos novos estatutos, não podem nem castigar os rebeldes, se por acaso reagirem são punidos por isso. Ou seja, o ensino foi igualmente foi prolixo.


O tal de “Direitos Humanos”, contidos na Constituição, só são defendidos por Sociedades, Associações, Ongs, e Ordens, OAB, C ou D e estatutos quando têm interesses diversos. Por exemplo: O Estatuto das Crianças e dos Adolescentes se esquece das crianças sem creches, sem escolas, sem merendas, muitas vezes sofrendo abusos dentro de casa, e só cuidam dos “adolescentes infratores”. Quando um jovem não infrator é assassinado depois de ter entregado o celular, a mochila, ou seja, lá o que for, é morto por outro menor, ou maior, pelo simples prazer de matar, ou para aumentar seu “currículo do crime”. Se for “de menor”, vai ser aprendido e uma semana depois está solto pelas ruas. Nunca vi uma única manifestação, no mínimo de apoio às famílias da vítima, em algo semelhante ao que acontece quando a vítima é um ”jovem infrator” pronto! Já armam o circo esperneando e gritando. Se o tiro foi dado por um policial então, já é tratado como “crime”. O policial deveria receber o primeiro tiro antes de revidar? Claro que não é assim, mas se existe um carro em fuga, é no mínimo suspeito, vai depender do comportamento dos fugitivos!

Os presídios continuam lotados de inocentes. Existem exceções, claro, por culpa de quem? Só pode ser do poder público que não cumpre a Constituição. Mas só tem direitos humanos dos presos, os honestos e soltos, não. A primeira coisa que dizem quando se referem a presídios é a capacidade e qual a quantidade de presos lá existentes. Será que é por que não existem mais presidiários, são reeducandos? Por que ninguém fala da superlotação dos hospitais e das creches? Será por que lá não fazem rebeliões? Ou, será que têm interesses escusos? E as regalias, como indultos, redução de pena, visita íntima, auxílio preso, e tantos outros, que os outros humanos não têm? Ao menos, acho que tenho o “Direito da Dúvida”!

Até os Direitos Humanos dos Presos não está sendo cumprido e cobrado por esse pessoal metido em direitos. Não vi nenhuma manifestação quando o ex-presidente de uma quadrilha foi autorizado a dar entrevistas e outros não! Esqueceram os direitos dos ex-presidentes e hoje, igualmente presidiários, Marcola e Fernandinho Beira Mar?

Afinal, melhorou, ou piorou?

Minha esperança é que a parte inda saudável da população reaja de todas as formas possíveis contra tudo o que não concordar. O que eu quero, é no mínimo o direito de me de fender, mesmo por que, não temos mais segurança. Se os políticos ainda querem ignorar o referendo das armas em 2005, ou negar os resultados da última Eleição Para Presidente, em 2018, não fiquem inventando desculpas para “negociar” o apoio, para aquilo que

o povo já se manifestou anteriormente, que façam um novo “Plebiscito”, isso mesmo, é o apelido que foi dado ao “referendo das armas”. Se isso me for negado, serei um fora da lei, pois prefiro ser preso e processado, ou morto defendendo meus filhos, meu espaço e as estradas por onde estiver. Se isso vier a acontecer, vão encontrar um cadáver sorrindo e outros dois ou três, que terei levado junto comigo pro inferno...

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