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| Nilo Peçanha foi o primeiro presidente negro do Brasil |
Nelson Gonçalves, especial para a Folha2
Pouca
gente sabe, mas o Brasil já teve um presidente negro. Nilo Peçanha, eleito
vice-presidente na chapa do mineiro Afonso Pena, assumiu a Presidência da República em
14 de junho de 1909, após a morte do titular. Permaneceu no cargo por 15 meses
e é reconhecido como o patrono do ensino profissionalizante no país.
Nascido em 2 de outubro de 1867, em Campos dos
Goytacazes (RJ), Nilo era filho de um padeiro e de uma descendente de
agricultores. Criado em um sítio no distrito de Morro do Coco, carregou na
juventude o apelido de “mestiço do Morro do Coco”. Estudioso, ingressou na
Faculdade de Direito do Largo de São Francisco, em São Paulo, e concluiu o
curso na Faculdade de Direito do Recife.
Advogado
e professor, participou das campanhas abolicionistas e foi eleito deputado
constituinte em 1890. Em 1896 casou-se com Ana de Castro Belisário Soares de
Souza, a Anita, pertencente a uma família tradicional e aristocrática de
Campos. O casamento virou escândalo: a noiva fugiu de casa para se unir a um
“mulato pobre”, como se dizia à época, apesar do futuro político promissor de
Nilo. Anita era neta do Visconde de Santa Rita e bisneta do Barão de Muriaé, que hospedou Dom Pedro 2º durante a inauguração da luz elétrica no Brasil.
Sua
carreira ganhou força em 1903, quando foi eleito senador e, em seguida,
governador do Rio de Janeiro. No governo fluminense implantou as primeiras
escolas técnicas e profissionalizantes do país. Tinha como lema que a educação
liberta. Em 1906 foi eleito vice-presidente com expressiva votação: 272.529
votos (92,98%), derrotando de forma esmagadora o adversário Alfredo Varela, que
obteve apenas 618 votos.
Após presidir a República, retornou ao Senado em 1912
e, dois anos depois, voltou a governar o Estado do Rio de Janeiro. Em 1917 renunciou
ao cargo para assumir o Ministério das Relações Exteriores. Nesse período,
também tornou-se Grão-Mestre da Maçonaria, posto que deixaria em 1919 ao
reassumir mandato de deputado federal.
Embora
amplamente descrito como mulato, Nilo Peçanha era alvo frequente de ataques
racistas na imprensa, que o caricaturava por causa da cor da pele.
Historiadores afirmam que, apesar da tez escura, ele evitava expor publicamente
sua origem africana, negada também por familiares e descendentes. Há pesquisas
indicando que retratos oficiais foram retocados para clarear sua pele.
Em 1921, disputou novamente a Presidência da
República, mas foi derrotado pelo candidato governista Artur Bernardes, apoiado
pelo então presidente Epitácio Pessoa. Bernardes recebeu 466.877 votos contra
317.714 de Nilo, que venceu apenas nos estados do Rio de Janeiro, Bahia e
Pernambuco.
Nilo
Peçanha morreu em 31 de março de 1924, aos 56 anos, no Rio de Janeiro, vítima
de colapso cardíaco associado à doença de Chagas.
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| Nilo Peçanha em foto oficial de 1909 |