A Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto (Famerp) foi palco, na última quinta-feira (18 de setembro), de um dos eventos mais relevantes sobre saúde pública e envelhecimento populacional já realizados na região. Com auditório lotado, a palestra “Desafios Globais do Envelhecimento”, ministrada pelo médico e especialista internacional Dr. Alexandre Kalache, reuniu estudantes, professores, pesquisadores, profissionais da saúde, gestores públicos e a comunidade.
O evento, promovido pela Famerp em parceria com a Funfarme e a Unimed Rio Preto, e com apoio da Sociedade de Medicina/APM Rio Preto, teve como objetivo ampliar o debate qualificado sobre o envelhecimento da população — uma realidade que avança rapidamente no Brasil e no mundo. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), até 2050, haverá mais de 2 bilhões de pessoas com mais de 60 anos no planeta, sendo mais de 80% delas em países em desenvolvimento.
“A discussão sobre o envelhecimento populacional é urgente e necessária”, destacou o diretor geral da Famerp, Prof. Dr. Helencar Ignácio, na abertura do evento. “Ao trazer o Dr. Kalache para dialogar com a comunidade acadêmica e os gestores públicos da região, a Famerp reforça seu papel de liderança no debate sobre o futuro da saúde.”
Reconhecido internacionalmente como um dos principais nomes na área, o Dr. Alexandre Kalache é ex-diretor do Programa Global de Envelhecimento e Saúde da OMS e idealizador do movimento das Cidades Amigas dos Idosos. Em sua fala, ele reforçou a importância de uma abordagem positiva e prática sobre o processo de envelhecimento.
“Eu prefiro falar de envelhecimento ativo”, afirmou Kalache. “Você pode ter diabetes, hipertensão, problemas osteomusculares, mas pode continuar ativo. Isso depende de saúde, sim, mas também de conhecimento, de participação na sociedade e de segurança. A gente precisa combater a ideia ultrapassada de que envelhecer é se retirar da vida social.”
Durante a palestra, o especialista defendeu o conceito de curso de vida, ressaltando que envelhecer bem é resultado de escolhas e condições acumuladas ao longo de toda a trajetória. “Não depende daquilo que você faz depois que ficou velho. Quatro fatores fazem muita diferença: alimentação saudável, prática de atividade física, não fumar e controle do consumo de álcool. O álcool, especialmente no Brasil, é uma droga socialmente aceita e perigosamente banalizada”, pontuou.
Região de Rio Preto já sente os efeitos do envelhecimento
De acordo com a Fundação Seade, a Região Administrativa de Rio Preto registrou em 2022 um índice de envelhecimento de 93%, ou seja, quase um idoso para cada jovem de até 14 anos. A velocidade com que essa transformação vem ocorrendo acende um alerta para a necessidade de estruturação de políticas públicas e iniciativas intersetoriais.
“Estamos envelhecendo antes de enriquecer, o que agrava o desafio”, enfatizou o Prof. Dr. Helencar Ignácio. “Ao contrário dos países europeus, o Brasil está vendo sua pirâmide etária se inverter rapidamente, sem que tenha garantido as condições econômicas e sociais necessárias para atender dignamente essa população.”
A Famerp, segundo o diretor, está comprometida com a formação de profissionais capazes de lidar com essa nova realidade. “Contamos com cursos de Medicina, Psicologia e Enfermagem, e estamos em processo de criação de novas faculdades: Fonoaudiologia, Terapia Ocupacional e Fisioterapia — todas fundamentais para garantir um envelhecimento com qualidade e dignidade.”
Preconceito contra pessoas idosas
Em tom enfático, Dr. Kalache também abordou as lacunas do poder público no enfrentamento do envelhecimento da população, mesmo diante dos avanços representados pela criação do Sistema Único de Saúde (SUS). “O SUS é um marco civilizatório, mas estamos longe de estarmos preparados para atender com eficiência os idosos. Ainda se ignora essa questão, talvez por uma cultura masculina que evita reconhecer a própria vulnerabilidade.”
Kalache também fez duras críticas ao idadismo, o preconceito contra pessoas idosas, que segundo ele, precisa ser combatido com urgência: “Eu valho mais do que você por ser homem, por ser branco, por ser jovem? Essa lógica corrói os princípios civilizatórios da nossa sociedade. O Brasil é um dos países que mais rapidamente envelhecem no mundo. Precisamos mudar nossas atitudes.”
Para Dr. Kalache, a negação do envelhecimento custa caro à sociedade. “Todos estamos envelhecendo — é gerúndio. Aqueles que tomam decisões, como políticos e empresários, precisam entender que o capital humano do Brasil é cada vez mais velho, e que isso deve ser visto como um ativo, não como um problema.”
Segundo ele, políticas públicas de longo prazo são fundamentais para garantir que o Brasil possa aproveitar o potencial produtivo, social e intelectual da população idosa. “Não sairemos do subdesenvolvimento ignorando esse capital humano. Precisamos investir para que as pessoas envelheçam viáveis, saudáveis, participativas.”
Famerp na vanguarda do debate
Com o sucesso do evento, a Famerp consolida-se como uma instituição protagonista na construção de um futuro mais justo, digno e preparado para os desafios do envelhecimento populacional. A presença do Dr. Kalache e a intensa participação da comunidade acadêmica e local demonstram que o tema está em pauta e precisa seguir no centro das decisões públicas e privadas.
“A saúde, a qualidade de vida e a dignidade dos idosos não são temas do amanhã. São temas de hoje, que demandam ação urgente”, concluiu o Prof. Dr. Helencar Ignácio. “E a Famerp está comprometida em formar profissionais e construir caminhos para garantir esse futuro.”
Confira abaixo alguns registros do evento:
📸 Fotos: Johnny Torres / Famerp Divulgação