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Mariangela Hungria ganha o “Nobel” da agricultura mundial

 

Brasileira ganha o Prêmio Mundial de Alimentação, considerado como o Nobel da agricultura


A engenheira agrônoma e pesquisadora brasileira Mariangela Hungria, pesquisadora da Embrapa Soja e integrante da diretoria da Academia Brasileira de Ciências, foi laureada com o Prêmio Mundial de Alimentação (World Food Prize), reconhecido como o “Nobel” da agricultura. O anúncio ocorreu nesta terça-feira (13), na sede da Fundação World Food Prize, nos Estados Unidos.

 Concedido anualmente, o prêmio reconhece as personalidades que contribuem para aprimorar a qualidade e disponibilidade de alimentos no mundo. Apesar do sobrenome Hungria, Mariangela é brasileira nascida em Itapetininga (SP). Escolheu o Paraná como sua base de atuação cientifica e construiu sólida trajetória vinculada à Embrapa Soja, em Londrina, à Universidade Estadual de Londrina (UEL) e à Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR).

 A origem dos Hoffbauers Hungria teve início na Alemanha, no estado da Bavária, cortada pelo rio Danúbio. Parte do clã se deslocou para a Hungria e dos irmãos, João Carlos e Francisco Carlos se envolveram em guerras políticas e foram obrigados a deixar o país. Vieram, em meados de 1800, para o Brasil. O primeiro se instalou em Bananal, depois Sorocaba e se radicou em Itapetininga. O outro se fixou em Minas Gerais, na antiga Vila Paraibana, hoje Juiz de Fora. Com a vinda para o Brasil os dois adotaram o apelido de Hungria que logo se tornou sobrenome de toda a família.

Primeira mulher brasileira e a oitava do mundo a receber a premiação World Food Prize

 Premiação inédita para uma mulher brasileira

 Em anúncio sobre o prêmio, a fundação destacou que as descobertas de Mariângela ajudaram o Brasil a se tornar uma potência agrícola global. Com mais de 40 anos dedicados à pesquisas, Mariangela é reconhecida pelo desenvolvimento de tecnologias inovadoras em microbiologia do solo.

“Substituir o uso de produtos químicos por produtos biológicos na agricultura tem sido a luta da minha vida. Tenho muito orgulho de contribuir para a produção de alimentos e, ao mesmo tempo, diminuir o impacto ambiental. A meta era aumentar a produtividade com o menor uso possível de produtos químicos, e conseguimos isso com mais produtos biológicos”, afirmou Mariangela.

 Para ela, a láurea é um reconhecimento também à ciência feita no Brasil e um estímulo a outras pesquisadoras. “Não consigo acreditar que agora estou recebendo o Prêmio Mundial da Alimentação. Muitas pessoas questionaram minha capacidade ao longo de minha carreira, mas eu acreditei no que estava fazendo e perseverei. O papel das mulheres na agricultura, da agricultura à ciência, merece mais reconhecimento. Espero que minha conquista inspire outras pessoas a perseguirem suas paixões na ciência.”

Inspirada por Johanna Dobereiner, reconhecida internacionalmente por suas contribuições à agricultura, Mariangela foi uma das primeiras defensoras da fixação biológica de nitrogênio, processo no qual culturas formam uma associação mutuamente benéfica com as bactérias do solo que fornecem nitrogênio, nutriente essencial para o crescimento das plantas.

 Ao longo da carreira, desenvolveu dezenas de tratamentos biológicos, reduzindo a necessidade de fertilizantes sintéticos e aumentando a produtividade.  A estimativa é que suas tecnologias tenham sido usadas em mais de 40 milhões de hectares no Brasil, economizando aos agricultores até US$ 25 bilhões por ano em custos de insumos e evitando mais de 230 milhões de toneladas de emissões equivalentes de CO2 por ano.

 Segundo a Embrapa, onde ela atua desde 1982, a ênfase das pesquisas de Mariangela tem sido no aumento da produção e na qualidade de alimentos por meio da substituição total ou parcial de fertilizantes químicos por microrganismos portadores de propriedades como fixação biológica de nitrogênio, síntese de fitormônios e solubilização de fosfatos e rochas potássicas.

 Além das pesquisas com soja, Mariangela também já coordenou estudos que levaram a tecnologias para outras culturas, como feijão, milho e trigo. Em 2020, foi classificada entre os 100 mil cientistas mais influentes no mundo pela Universidade de Stanford (EUA). Graduada engenharia agronômica pela Esalq/USP, Mariangela tem mestrado em solos e nutrição de plantas (Esalq/USP), doutorado em ciência do solo (UFRRJ) e pós-doutorado em três universidades: Cornell University, University of California-Davis e Universidade de Sevilla. Iniciou a carreira em 1982 na Embrapa Agrobiologia, em Seropédica (RJ). Desde 1991, atua na Embrapa Soja, em Londrina (PR). É ainda professora da Universidade Estadual do Paraná e da Universidade Federal de Tecnologia do Estado do Paraná.

Nascida em Itapetininga e morando hoje em Londrina, Mariangela é destaque mundial

Descoberta pode quadruplicar produção agrícola 

Em entrevista à Rádio CBN, na manhã desta terça-feira, Mariangela Hungria afirmou que sua descoberta cientifica possibilita economia para o país, pois cerca de 80% dos fertilizantes são importados. E o Brasil pode aumentar em quatro vezes a sua produção agrícola sem necessidade de degradar o solo como o uso de fertilizantes químicos e sem ser preciso derrubar uma única árvore nativa.

 Ela é a primeira mulher brasileira a receber o prêmio, que já laureou outros três representantes do Brasil no passado. Entre eles o ex-ministro da Agricultura Alysson Paulinelli, cujo sucesso fez muitos pais batizaram seus como forma de homenagear e reconhecer o trabalho do então ministro. Em 2011, dois ex-presidentes, Luiz Inácio Lula da Silva, do Brasil, e John Kufuor, de Gana, foram escolhidos por sua atuação no combate à fome como chefes de governo.

O prêmio foi idealizado por Norman E. Borlaug, vencedor do Prêmio Nobel da Paz em 1970 por seu trabalho na agricultura e considerado “pai” da revolução verde. A láurea foi criada em 1986, com patrocínio da General Foods Corporation. Com o reconhecimento, Mariangela receberá US$ 500 mil e uma escultura projetada pelo artista e designer Saul Bass. A solenidade de entrega do prêmio será em 23 de outubro, em Des Moines (EUA).

 Presente no anúncio, a governadora do estado de Iowa, Kim Reynolds, reforçou o exemplo de Mariangela a outras mulheres. “Como cientista pioneira e mãe, a Dra. Hungria também serve como um exemplo inspirador para mulheres pesquisadoras que buscam encarnar ambos os papéis. Suas descobertas levaram o Brasil a se tornar um celeiro global”, afirmou.

“A Dra. Hungria foi escolhida pelas suas extraordinárias realizações científicas na fixação biológica que transformaram a sustentabilidade da agricultura na América do Sul”, afirmou o presidente do comitê de seleção dos indicados ao prêmio, Gebisa Ejeta. “Seu brilhante trabalho científico e visão comprometida no avanço da produção agrícola sustentável lhe renderam reconhecimento global, tanto no país como no exterior.”

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Marinagela defende o uso de produtos biológicos nas lavouras

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