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Dinossauro da Cometa era de fabricação exclusiva da empresa

 

Os famosos Dinossauros Flecha Azul eram de fabrica exclusiva da Cometa

 Nelson Gonçalves, especial para a Folha2

Os famosos e inconfundíveis ônibus Dinossauros da Viação Cometa marcaram época nas estradas. Modelos inspirados em ônibus americanos são tão resistentes que, apesar de fabricados há mais de quatro décadas, muitos ainda rodam por aí pelo Brasil afora. Os últimos modelos desses “reis da estrada” foram fabricados há mais de 10 anos.

 Até quem não se liga muito na história dos ônibus tem uma lembrança peculiar quando se pensa em “ônibus robusto e peso pesado”. São os famosos modelos duralumínio que a Viação Cometa operou com exclusividade por longo tempo. Os veículos, parecidos com os ônibus americanos, na cor alumínio e com forte motor, deixavam muitos carros de passeio para atras nas rodovias.

 O primeiro modelo Dinossauro surgiu em 1972 sobre chassis da Scânia BR 115, no Salão do Automóvel daquele ano. Inspirado nos GM Coach americanos, referência mundial em transporte rodoviário, alguns Flechas, apesar dos mais de 40 anos de história, ainda podem ser vistos pelas estradas sob a bandeira de empresas menores, transportando sacoleiros ainda em perfeito estado e reformados por colecionadores. Um dos exemplares desse ônibus Dinossauro estava sendo vendido, na semana passada, pelo site do Mercado Livre ao preço de R$ 250 mil.

Dinossauro e Flecha Azul fabricados pela Cometa

 A história do Dinossauro e, posteriormente, do Flecha (um Dinossauro feito pela própria Cometa), nas décadas de 1950 a 1980, época em que o progresso era sinal de aberturas de estradas. Até então o trem era o principal meio de transportes de passageiros e de cargas para as longas distâncias. A Viação Cometa, que se iniciou em 1937 a partir de uma pequena empresa urbana, fundada pelo aviador italiano Tito Maschioli, crescia e acompanhava o desenvolvimento do país. A empresa surgiu, na verdade, para suprir a dificuldade do agrimensor e corretor de imóveis Arthur Brandi, que mais tarde viria a ser cunhado de Maschiolli, em levar possíveis compradores de lotes no recém formado bairro do Jabaquara. Assim surgiu uma linha de ônibus que transportava passageiros da Praça da Sé até o Jabaquara, em São Paulo, e nascia a Cometa.

 Para se diferenciar do mercado e por não achar modelos nacionais a altura do ambicioso desejo de oferecer transporte rodoviário com requintes de aéreo, a Cometa importou ônibus da General Motors dos Estados Unidos. Eram os GMPD Coache que tinham ar condicionado, bancos de couro, janelas com excelente visibilidade para passageiros e motorista, itens nos quais a indústria brasileira ainda engatinhava e eram verdadeiros luxos para a época.

Quando o presidente Juscelino Kubitschek impôs restrições às importações de veículos, a Cometa queria manter o padrão americano para se distanciar das empresas concorrentes, em especial na lucrativa linha Rio-São Paulo. A solução foi abrir parcerias com empresas montadoras nacionais. A primeira delas, no início dos anos 60, foi com a encarroçadora Striull, que obteve licença da GM dos Estados Unidos para produzir seus veículos por aqui, Uma boa parte desses veículos eram colocadas sobre o chassis Mercedes Benz, A Striulli apresentou problemas financeiras e a fábrica teve de ser fechada.

Motor potente e carroceira mais leve

 A história começa a mudar no início dos anos 70. Foi quando a Cometa numa parceria com a Ciferal (Comércio de Alumínio e Ferro Limitada) resolveu produzir seus próprios veículos. Assim nascia o Dinossauro, arrancando suspiros dos visitantes no Salão do Automóvel de 1972. Um acordo com a sueca Scânia garantia a entrega dos motores potentes para o novo modelo de ônibus.

 O modelo era feito de duraliminio, um material formado por ligas metálicas de forja de alumínio com cobre, magnésio, manganês e silício. Isso deixava o ônibus mais leve. Junto com sua aerodinâmica de frente caída, o ônibus se tornaria uma espécie de “avião a jato” com motores super potentes. Logo se tornaram populares nas estradas que, com sua robustez, imponha respeito. Com 13 metros e meio de comprimento, um gigante para a época, o Dinossauro fazia sucesso e chamava a atenção por onde passava. Apesar de grande, era super econômico em comparação com outros veículos da época. Consumia um litro para cada 11 quilômetros rodados. 

Em 1982 a Ciferal entrou em concordata. A unidade do Rio de Janeiro foi assumida pelo governo do Estado quando Leonel Brizola era governador. Os Dinossauros, apesar do apelido, eram modelos de ônibus mais leves, menos “beberrões” e por isso, andavam mais depressa nas estradas. Logo em seguida surgiram o Flecha Azul, nome dado por causa da faixinha azul sobre a carroceria aluminizada nos ônibus. Foram os primeiros carros com câmbio automático da empresa.

A Cometa chegou a ter 2.200 funcionários e uma frota com 2.500 ônibus. Passou por várias fases e por vários administradores e proprietários. Um deles foi João Havelange (1916-2016), que foi presidente da Confederação Brasileira de Desportes (CBD) entre 1958 a 1975 e presidente da Federação Internacional de Futebol (Fifa) entre 1974 a 1998.

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Somente a Viação Cometa possuía esse tipo de ônibus

O modelo Dinossauro da Cometa hoje virou peça de museu

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