Urna de lona era um sistema arcaico que permitia o surgimento de inúmeras fraudes |
Nelson Gonçalves, especial para a Folha2
Antigamente os sistemas de votação e apuração por cédulas eram suscetíveis a diversas formas de fraudes. Antes do início da votação, cédulas eram preenchidas a favor de determinado candidato e eram depositadas na urna de lona, que deveria estar vazia. Nesse caso a urna já chegava na seção eleitoral com votos dentro dela.
Também havia casos onde,
antes de chegar aos locais de votação, as urnas de lona eram furtadas
inviabilizando a votação em determinados locais. Tudo era feito de maneira
pensado, de modo a prejudicar ou beneficiar candidatos.
Outro sistema de fraude
era quando o eleitor recebia a cédula do mesário, entrava na cabine de votação
e, em vez de preenche-la e depositá-la na urna, guardava a cédula em branco e
colocava um papel qualquer na urna de lona. O organizador da fraude, que estava
fora da seção, recebia, mediante o pagamento de alguns trocados, a cédula
oficial, assinalava os candidatos desejados e entregava para outro eleitor.
Esse eleitor depositava a cédula já preenchida, pegava outra em branco e
entregava novamente para o organizador da fraude, que repetia o processo fraudulento
à exaustão.
Os votos eram preenchidos
com canetas na cor preta ou azul. Na apuração era proibido a entrada de canetas
com tintas dessa cor. Somente podiam entrar as de cores vermelha ou verde. Mas
brasileiro, todos sabem, dava jeito para tudo. As mulheres escondiam canetas
com as cores preta e azul dentro do sutiã ou por baixo da saia. Os homens
enfiavam dentro da cueca. E assim, discretamente, faziam a festa, mediante
recebimento de propinas, para alterar resultados. Preenchiam cédulas em branco com
o nome do candidato desejado ou simplesmente rabiscavam, com o intuito de
confundir o escrutinador para anular o voto daquela cédula.
As urnas de lona foram descartadas e substituídas por urnas eletrônicas |
Candidatos não oficiais
Outra prática bastante
comum que o sistema de cédula permitia era os votos em candidatos não oficiais.
Os eleitores podiam escrever o nome do candidato de sua escolha na cédula.
Com a votação cédulas, o
Brasil vivenciou casos pitorescos. Os brasileiros viram um rinoceronte
conquistar 100 mil votos, um chipanzé entrar para o Guiness (o livro dos
recordes) por chegar aos 400 mil votos e um “prefeito mosquito” vencer as
eleições municipais.
Em 1959, o Brasil
registrou o primeiro maior caso de protesto nas eleições municipais. Um
rinoceronte apelidado de “Cacareco” venceu as eleições para vereador de São
Paulo. O partido mais votado recebeu cerca de 95 mil votos, enquanto o rinoceronte,
sozinho, obteve aproximadamente 100 mil votos. Os votos obviamente foram
considerados nulos pela Justiça Eleitoral.
Outro fato pitoresco, como
forma de protesto contra a incapacidade do prefeito local conter uma epidemia
de dengue, a cidade de Vila Velha, no Espírito Santo, elegeu um inseto para
ocupar a prefeitura. O nome “mosquito” apareceu em mais de 29 mil cédulas. Mais
uma vez, a Justiça Eleitoral anulou os votos do “mosquito” e deu posse ao
segundo colocado.
Outro fato curioso ocorreu em 1988, no Rio de Janeiro, desta vez com o Macaco Tião. O animal virou celebridade no país após receber mais de 400 mil votos dos cariocas para ocupar a cadeira de prefeito da cidade. Ele ficou em terceiro lugar na disputa entre 12 candidatos. E entrou para o Guiness como o chipanzé a receber mais votos no mundo. Em São José do Rio Preto, nesse mesmo ano, o folclórico Caruaru, vigilante que vivia perambulando pelas ruas durante a madrugada, também quase foi eleito vereador.
.Leia também a matéria "Urna eletrônica agiliza votação, apuração e evita fraudes nas eleições", clicando aqui
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Urna de lona virou peça de antiguidade no Museu do Voto |
Macaco Tião ganhou até estátua no Zoológico do Rio de Janeiro. Tião tinha esse nome em homenagem ao padroeiro da cidade, São Sebastião |