A cidade
de Ibirá, na região metropolitana de Rio Preto, é conhecida internacionalmente
por causa das suas águas com vanádio, um importante mineral que ajuda a
prevenir doenças e também atua no combate ao envelhecimento precoce e que era
usada pelos indígenas há mais de três séculos. Mas também é conhecida, ao longo
de mais de um século, por abrigar uma das mais antigas lojas maçônicas da
região.
“A Loja
Maçônica Civilidade Latina Ibiraense é mais antiga do que o próprio município”,
destaca Leandro César Braga, que por ter exercido a função de carteiro é uma
das pessoas que mais conhece os nomes de ruas e avenidas da cidade. Ele teve a
honra de ter sido venerável da loja e, por duas vezes, ocupou o cargo de
Venerável Mestre Instalador, uma das funções mais importantes dentro da
Maçonaria. A loja, fundada em 1917, é quatro anos mais antiga do que o município,
emancipado em 1921. Ibirá era distrito de Jaboticabal. Nascida sob o berço do Grande Oriente do Brasil (GOB), a loja foi uma das fundadoras da Grande Loja Maçônica do Estado de São Paulo (Glesp) e posteriormente do Grande Oriente Paulista (GOP)
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Ao centro da obra estarão duas colunas jónicas e esquadro entrelaçado com o compasso, símbolos da Maçonaria
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Monumento
para homenagear a loja
Na
rotatória da avenida Mário Carvalho Silva, na saída para o distrito de Termas
de Ibirá, está sendo construído monumento em homenagem à Loja Maçônica
Civilidade Ibiraense e ao maçom Rachid Jorge. A família do homenageado e os
irmãos da loja se uniram para arcar com as despesas da obra.
Apesar do
prefeito Edvard Colombo fazer parte da Maçonaria, a prefeitura somente cedeu o
espaço, com autorização da Câmara Municipal. Mas não está ajudando com nenhum
recurso. Tudo está sendo arcado pelos maçons e pela família de Rachid Jorge.
Com uma história
rica que remonta a sua fundação em 5 de fevereiro de 1917, no templo da Loja Cosmos
em São José do Rio Preto, a Civilidade Latina Ibiraense é repleta de
curiosidades. A primeira reunião aconteceu em 28 de fevereiro de 1917, conforme
consta no livro de atas, na sede da Sociedade Italiana de Ibirá. Teve como
primeiro venerável o italiano Paolo Boungiorno, fundador da Liga Operária
Internacional, de tendências socialistas. Ele era músico e maestro. Foi também
fundador da Banda Musical União dos Operários. Entre 1912 e 1913 ocupou o cargo
de vice-presidente da Loja Cosmos e foi um dos líderes do movimento socialista
na região. Nos primeiros meses do funcionamento da loja ele vinha a cavalo de
São José do Rio Preto a Ibirá para presidir as sessões da loja maçônica.
Geralmente pernoitava na casa de um irmão, amigo ou se improvisava para dormir
no local onde faziam as reuniões.
Anarquistas fundaram a loja maçônica de Ibirá
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Ao longo de 106 anos, 43 homens assumiram a liderança da loja como veneráveis mestres
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Boungiorno
era detentor do Grau 32 e por ter o grau mais elevado entre seus companheiros
maçons foi escolhido para presidir a loja. A maioria dos primeiros integrantes
era de origem italiana, e de tendências anarquistas. Além de Boungiorno, os
demais oficiais da loja eram: Pasqual Ananias (1º Vigilante), Agostinho Morelli
(2º Vigilante), Alexandre Greco (Orador), Luiz Francisco da Silva (Secretário),
Caetano Giglio (1º Esperto) e Elias Alves Ferreira (2º Esperto).
Ao longo
de 107 anos de existência, a Loja Maçônica Civilidade Ibiraense se consolidou
como importante centro de fraternidade, filantropia e aprimoramento pessoal. Sua
história se confunde com a do município. Seus membros, denominados de “irmãos”,
dedicaram-se a cultivar valores como a liberdade, a igualdade, a democracia e a
justiça social, buscando contribuir para o bem estar da comunidade através de
diversas ações.
A
importância histórica da loja se reflete não apenas em sua longevidade, mas
também em seu papel fundamental no desenvolvimento de Ibirá. Ao longo dos anos,
a instituição tem se destacado por sua atuação em diversas áreas, tais como
educação, saúde, assistência social e cultura.
Desde o
começo a loja tem um histórico de apoio a escolas e instituições de ensino da
região, ajudando a promover a educação como ferramenta de transformação social.
A loja contribuiu para a fundação e administração, por vários anos, da Santa Casa
local, doando insumos e equipamentos para o hospital e unidades de saúde, além
de realizar ações de conscientização sobre a importância da prevenção e do
cuidado com a saúde. Também ajudou a fundar e administrar o clube recreativo, o asilo e a Associação Comercial de Ibirá. Foram os maçons que ajudaram, por exemplo, a construir o salão de festas da Igreja Católica, com a qual sempre mantiveram boas relações de amizade. "Os padres sempre frequentaram nossas festas e nós vice-versa, frequentamos e ajudamos nas festas da Igreja", informa o maçom José Amadeu Couto.
Atuação na benemerência e com o progresso da cidade
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Fachada atual do prédio da Loja Maçônica Civilidade Latino Ibiraense |
A Loja
Maçônica Civilidade Latina Ibiraense é conhecida por sua atuação filantrópica,
prestando assistência a famílias em situação de vulnerabilidade e realizando
ações para entidades beneficentes, na maioria das vezes no mais absoluto
silêncio e anonimato. O maçom Mário Bento, coordenador estadual da Mutua
Maçônica do Grande Oriente Paulista (GOP), revela que a loja de Ibirá sempre
foi uma das primeiras a prestar auxilio e socorro aos mais necessitados,
destacando a recente atuação dos maçons ibiraenses na ajuda mutua aos flagelados
das enchentes do Rio Grande do Sul.
No setor
cultural, a loja também promove a cultura local, apoiando eventos culturais e
incentivando a preservação do histórico da região. A loja mantém preservado em
seu acervo todos livros de atas que registram boa parte da história do município.
“Podemos
dizer que a Loja Maçônica Latina Ibiraense se destaca como um símbolo de
tradição, valores e compromisso com o bem-estar da comunidade”, afirma o
vice-prefeito Francisco Januário da Silva Neto, o popular Xico da Caixa, que
também é membro atuante da loja, tendo ocupado o cargo de venerável alguns anos
atrás. A história centenária e atuação em diversos setores e áreas sociais a
colocam como uma referência importante na região.
Nas
fileiras da loja desfilam membros desde a mais alta autoridade do município,
como o prefeito Edward Colombo, professores, bancários, policiais, barbeiros,
carteiros, garçons, mecânicos e até jardineiros. Dentro das paredes da loja
todos são considerados iguais e sem distinções.
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O interior do templo preserva as antigas e históricas cadeiras que foram usadas pelo cassino do Grande Hotel Termas de Ibirá
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Doce de
leite é outra tradição da loja de Ibirá
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Há mais de 20 anos, Beto Silva prepara, com muito amor e carinho, o famoso doce de leite inigualável |
Além da
longevidade de sua atividade, a loja maçônica de Ibirá tem uma tradição
peculiar que nenhuma outra loja maçônica da região e do Brasil tem: a produção
do famoso doce de leite caseiro. Quem prepara o tradicional doce de leite
caseiro, cremoso, rico e com um sabor único que supera em muito as versões
industrializadas, é o comerciante e ex-vereador Roberto da Silva, o popular
Beto.
“É uma
experiência gratificante e deliciosa”, afirma Beto, que uma semana antes das
realizações das chamadas sessões magnas, quando ocorrem as posses dos
veneráveis ou cerimônias de ingresso de novos associados à entidade, acende o
fogo para preparar um verdadeiro “manjar dos deuses”. “É uma tradição deliciosa
que vale a pena o esforço”, garante.
Embora o
processo de produção exija tempo, amor e atenção, o resultado final é um sabor
autêntico e inigualável. A fama do doce de leite da loja maçônica de Ibirá ganhou
fama além das fronteiras do município.
Na cerimônia
de posse da instalação do venerável mestre Adalto César Couto Ferreira
compareceram mais de 100 irmãos de mais de 20 lojas maçônica da região. A
maioria, não esconde, veio atraída pelo cheiro do famoso doce de leite cremoso,
preparado sempre com muito amor e carinho.
Beto, que
é considerado como o chef-mor de cozinha da loja, conta ter aprendido a
receita, quase 30 anos atrás, com a cozinheira Augusta Abrantes. E ele não
esconde os ingredientes utilizados no preparo. “Para cada dois litros de leite,
utilizo quatro copos americanos de açúcar, uma colher de fermento e uma colher
de amido de milho”, informa, acrescentando que a mistura tem que ficar pelo
menos seis horas em fogo brando. “O leite é puro e pego direto das fazendas da
região que possuem vacas leiteiras”. Na última cerimônia ele preparou 50 litros
de doce de leite para deleite dos convidados.
O doce de leite servido após as cerimônias na Loja Maçônica de Ibirá é inigualável. Quem já experimentou assegura que não tem outro com sabor igual em nenhum outro lugar
O município
de Ibirá
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As águas da Fonte Saracura, de Ibirá, já eram utilizadas pelos índios que habitavam a região desde 1770. Ela possui propriedades medicinais que ajudam a combater diabetes, pressão alta e o envelhecimento precoce. |
Ibirá
teve suas origens nas terras doadas pelo imperador Dom Pedro 2º para Antônio
Bernardino de Seixas e seus filhos João e José Bernardino de Seixas, que por
volta de 1878 acamparam a beira do Córrego das Bicas, onde hoje localiza-se o
distrito de Termas de Ibirá. Mas antes disso há registros de que em 1770 os índios
que viviam na região utilizavam-se das águas vanádicas para a cura de suas
doenças, banhando-se nelas.
A
primeira denominação do local foi Cachoeira dos Bernardinos, posteriormente
Freguesia da Cachoeira e Freguesia de Ibirá. O nome Ibirá em tupi-guarani
significa “árvore”, dado provavelmente em razão da grande quantidade de árvores
a beira do córrego.
Em agosto
de 1906, o governador Jorge Tibiriçá, sanciona a Lei nº 996, criando o Distrito
de Paz de Ibirá e, em 1913, era elevado à categoria de Distrito Policial. Em
fevereiro de 1917 era fundada a Loja Maçônica Civilidade Latina Ibiraense. E em
12 de dezembro de 1921 era enfim criado o município de Ibirá, por meio da Lei
nº 1871, sendo instalado em 22 de março de 1922.
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Paolo foi o primeiro venerável da loja em 1917 |
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O bancário Paulo Zacur Audi foi um dos baluartes da loja |
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José Henrique de Carvalho e Rachid Jorge foram irmãos que se destacaram na Loja |
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Rachid foi venerável em duas ocasiões e será homenageado pela Loja |
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O italiano Paulo Bongiorno foi o primeiro Venerável Mestre da Loja |
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Placa instalada no átrio da loja mostra os nomes da primeira diretoria |
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Houve dois períodos tristes na Loja: a perda de irmãos para a Covid-19 e o fechamento da Loja por ordem judicial por ordem do então presidente Getúlio Vargas |
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Durante 11 anos a loja ficou fechada por causa da Segunda Guerra Mundial |
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José Henrique de Carvalho foi venerável duas vezes e foi uma das vítimas da Covid |
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Protótipo do monumento que deve ser inaugurado no mês de agosto em Ibirá
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