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Loja maçônica de Ibirá nasceu antes da criação do município

Prédio da Loja Maçônica Civilidade Latina Ibiraense



Fachada da Loja Maçônica Civilidade Latina Ibiraense, fundada em 1917


Protótipo do projeto do monumento, de autoria do arquiteto Marcelo Vitor Mem, em homenagem ao centenário da loja maçônica

 
Por Nelson Gonçalves, especial para a Folha2

A cidade de Ibirá, na região metropolitana de Rio Preto, é conhecida internacionalmente por causa das suas águas com vanádio, um importante mineral que ajuda a prevenir doenças e também atua no combate ao envelhecimento precoce e que era usada pelos indígenas há mais de três séculos. Mas também é conhecida, ao longo de mais de um século, por abrigar uma das mais antigas lojas maçônicas da região.

“A Loja Maçônica Civilidade Latina Ibiraense é mais antiga do que o próprio município”, destaca Leandro César Braga, que por ter exercido a função de carteiro é uma das pessoas que mais conhece os nomes de ruas e avenidas da cidade. Ele teve a honra de ter sido venerável da loja e, por duas vezes, ocupou o cargo de Venerável Mestre Instalador, uma das funções mais importantes dentro da Maçonaria. A loja, fundada em 1917, é quatro anos mais antiga do que o município, emancipado em 1921. Ibirá era distrito de Jaboticabal. Nascida sob o berço do Grande Oriente do Brasil (GOB), a loja foi uma das fundadoras da Grande Loja Maçônica do Estado de São Paulo (Glesp) e posteriormente do Grande Oriente Paulista (GOP)

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Ao centro da obra estarão duas colunas jónicas e esquadro entrelaçado com o compasso, símbolos da Maçonaria

Monumento para homenagear a loja

Na rotatória da avenida Mário Carvalho Silva, na saída para o distrito de Termas de Ibirá, está sendo construído monumento em homenagem à Loja Maçônica Civilidade Ibiraense e ao maçom Rachid Jorge. A família do homenageado e os irmãos da loja se uniram para arcar com as despesas da obra.

Apesar do prefeito Edvard Colombo fazer parte da Maçonaria, a prefeitura somente cedeu o espaço, com autorização da Câmara Municipal. Mas não está ajudando com nenhum recurso. Tudo está sendo arcado pelos maçons e pela família de Rachid Jorge.

 Com uma história rica que remonta a sua fundação em 5 de fevereiro de 1917, no templo da Loja Cosmos em São José do Rio Preto, a Civilidade Latina Ibiraense é repleta de curiosidades. A primeira reunião aconteceu em 28 de fevereiro de 1917, conforme consta no livro de atas, na sede da Sociedade Italiana de Ibirá. Teve como primeiro venerável o italiano Paolo Boungiorno, fundador da Liga Operária Internacional, de tendências socialistas. Ele era músico e maestro. Foi também fundador da Banda Musical União dos Operários. Entre 1912 e 1913 ocupou o cargo de vice-presidente da Loja Cosmos e foi um dos líderes do movimento socialista na região. Nos primeiros meses do funcionamento da loja ele vinha a cavalo de São José do Rio Preto a Ibirá para presidir as sessões da loja maçônica. Geralmente pernoitava na casa de um irmão, amigo ou se improvisava para dormir no local onde faziam as reuniões.

Anarquistas fundaram a loja maçônica de Ibirá 

Ao longo de 106 anos, 43 homens assumiram a liderança da loja como veneráveis mestres

 Boungiorno era detentor do Grau 32 e por ter o grau mais elevado entre seus companheiros maçons foi escolhido para presidir a loja. A maioria dos primeiros integrantes era de origem italiana, e de tendências anarquistas. Além de Boungiorno, os demais oficiais da loja eram: Pasqual Ananias (1º Vigilante), Agostinho Morelli (2º Vigilante), Alexandre Greco (Orador), Luiz Francisco da Silva (Secretário), Caetano Giglio (1º Esperto) e Elias Alves Ferreira (2º Esperto).

 Ao longo de 107 anos de existência, a Loja Maçônica Civilidade Ibiraense se consolidou como importante centro de fraternidade, filantropia e aprimoramento pessoal. Sua história se confunde com a do município. Seus membros, denominados de “irmãos”, dedicaram-se a cultivar valores como a liberdade, a igualdade, a democracia e a justiça social, buscando contribuir para o bem estar da comunidade através de diversas ações.

A importância histórica da loja se reflete não apenas em sua longevidade, mas também em seu papel fundamental no desenvolvimento de Ibirá. Ao longo dos anos, a instituição tem se destacado por sua atuação em diversas áreas, tais como educação, saúde, assistência social e cultura.

Desde o começo a loja tem um histórico de apoio a escolas e instituições de ensino da região, ajudando a promover a educação como ferramenta de transformação social. A loja contribuiu para a fundação e administração, por vários anos, da Santa Casa local, doando insumos e equipamentos para o hospital e unidades de saúde, além de realizar ações de conscientização sobre a importância da prevenção e do cuidado com a saúde. Também ajudou a fundar e administrar o clube recreativo, o asilo e a Associação Comercial de Ibirá. Foram os maçons que ajudaram, por exemplo, a construir o salão de festas da Igreja Católica, com a qual sempre mantiveram boas relações de amizade. "Os padres sempre frequentaram nossas festas e nós vice-versa, frequentamos e ajudamos nas festas da Igreja", informa o maçom José Amadeu Couto. 

 Atuação na benemerência e com o progresso da cidade

Fachada atual do prédio da Loja Maçônica Civilidade Latino Ibiraense

A Loja Maçônica Civilidade Latina Ibiraense é conhecida por sua atuação filantrópica, prestando assistência a famílias em situação de vulnerabilidade e realizando ações para entidades beneficentes, na maioria das vezes no mais absoluto silêncio e anonimato. O maçom Mário Bento, coordenador estadual da Mutua Maçônica do Grande Oriente Paulista (GOP), revela que a loja de Ibirá sempre foi uma das primeiras a prestar auxilio e socorro aos mais necessitados, destacando a recente atuação dos maçons ibiraenses na ajuda mutua aos flagelados das enchentes do Rio Grande do Sul.

No setor cultural, a loja também promove a cultura local, apoiando eventos culturais e incentivando a preservação do histórico da região. A loja mantém preservado em seu acervo todos livros de atas que registram boa parte da história do município.

“Podemos dizer que a Loja Maçônica Latina Ibiraense se destaca como um símbolo de tradição, valores e compromisso com o bem-estar da comunidade”, afirma o vice-prefeito Francisco Januário da Silva Neto, o popular Xico da Caixa, que também é membro atuante da loja, tendo ocupado o cargo de venerável alguns anos atrás. A história centenária e atuação em diversos setores e áreas sociais a colocam como uma referência importante na região.

 Nas fileiras da loja desfilam membros desde a mais alta autoridade do município, como o prefeito Edward Colombo, professores, bancários, policiais, barbeiros, carteiros, garçons, mecânicos e até jardineiros. Dentro das paredes da loja todos são considerados iguais e sem distinções.

O interior do templo preserva as antigas e históricas cadeiras que foram usadas pelo cassino do Grande Hotel Termas de Ibirá

 Doce de leite é outra tradição da loja de Ibirá

Há mais de 20 anos, Beto Silva prepara, com muito amor e carinho, o famoso doce de leite inigualável

 Além da longevidade de sua atividade, a loja maçônica de Ibirá tem uma tradição peculiar que nenhuma outra loja maçônica da região e do Brasil tem: a produção do famoso doce de leite caseiro. Quem prepara o tradicional doce de leite caseiro, cremoso, rico e com um sabor único que supera em muito as versões industrializadas, é o comerciante e ex-vereador Roberto da Silva, o popular Beto.

“É uma experiência gratificante e deliciosa”, afirma Beto, que uma semana antes das realizações das chamadas sessões magnas, quando ocorrem as posses dos veneráveis ou cerimônias de ingresso de novos associados à entidade, acende o fogo para preparar um verdadeiro “manjar dos deuses”. “É uma tradição deliciosa que vale a pena o esforço”, garante.

Embora o processo de produção exija tempo, amor e atenção, o resultado final é um sabor autêntico e inigualável. A fama do doce de leite da loja maçônica de Ibirá ganhou fama além das fronteiras do município.

 Na cerimônia de posse da instalação do venerável mestre Adalto César Couto Ferreira compareceram mais de 100 irmãos de mais de 20 lojas maçônica da região. A maioria, não esconde, veio atraída pelo cheiro do famoso doce de leite cremoso, preparado sempre com muito amor e carinho.

 Beto, que é considerado como o chef-mor de cozinha da loja, conta ter aprendido a receita, quase 30 anos atrás, com a cozinheira Augusta Abrantes. E ele não esconde os ingredientes utilizados no preparo. “Para cada dois litros de leite, utilizo quatro copos americanos de açúcar, uma colher de fermento e uma colher de amido de milho”, informa, acrescentando que a mistura tem que ficar pelo menos seis horas em fogo brando. “O leite é puro e pego direto das fazendas da região que possuem vacas leiteiras”. Na última cerimônia ele preparou 50 litros de doce de leite para deleite dos convidados.

O doce de leite servido após as cerimônias na Loja Maçônica de Ibirá é inigualável. Quem já experimentou assegura que não tem outro com sabor igual em nenhum outro lugar

 O município de Ibirá 

As águas da Fonte Saracura, de Ibirá, já eram utilizadas pelos índios que habitavam a região desde 1770. Ela possui propriedades medicinais que ajudam a combater diabetes, pressão alta e o envelhecimento precoce. 

Ibirá teve suas origens nas terras doadas pelo imperador Dom Pedro 2º para Antônio Bernardino de Seixas e seus filhos João e José Bernardino de Seixas, que por volta de 1878 acamparam a beira do Córrego das Bicas, onde hoje localiza-se o distrito de Termas de Ibirá. Mas antes disso há registros de que em 1770 os índios que viviam na região utilizavam-se das águas vanádicas para a cura de suas doenças, banhando-se nelas.

A primeira denominação do local foi Cachoeira dos Bernardinos, posteriormente Freguesia da Cachoeira e Freguesia de Ibirá. O nome Ibirá em tupi-guarani significa “árvore”, dado provavelmente em razão da grande quantidade de árvores a beira do córrego.

Em agosto de 1906, o governador Jorge Tibiriçá, sanciona a Lei nº 996, criando o Distrito de Paz de Ibirá e, em 1913, era elevado à categoria de Distrito Policial. Em fevereiro de 1917 era fundada a Loja Maçônica Civilidade Latina Ibiraense. E em 12 de dezembro de 1921 era enfim criado o município de Ibirá, por meio da Lei nº 1871, sendo instalado em 22 de março de 1922.

Paolo foi o primeiro venerável da loja em 1917

O bancário Paulo Zacur Audi foi um dos baluartes da loja

José Henrique de Carvalho e Rachid Jorge foram irmãos que se destacaram na Loja

Rachid foi venerável em duas ocasiões e será homenageado pela Loja

O italiano Paulo Bongiorno foi o primeiro Venerável Mestre da Loja

Placa instalada no átrio da loja mostra os nomes da primeira diretoria

Houve dois períodos tristes na Loja: a perda de irmãos para a Covid-19 e o fechamento da Loja por ordem judicial por ordem do então presidente Getúlio Vargas

Durante 11 anos a loja ficou fechada por causa da Segunda Guerra Mundial

José Henrique de Carvalho foi venerável duas vezes e foi uma das vítimas da Covid

Protótipo do monumento que deve ser inaugurado no mês de agosto em Ibirá


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