A Kombi parou de ser fabricada em 2013. Mas uma edição especial para marcar o fim da produção, prevista inicialmente para 600 unidades, teve de ser dobrada para 1.200 Kombis
Nelson Gonçalves, especial para a Folha2
No dia 2 de setembro comemorou-se 67 anos em que a
primeira perua Kombi saia, em 1957, da linha de produção da Volkswagen do
Brasil, inaugurando a fábrica de São Bernardo do Campo, sendo essa a primeira
unidade fabril da empresa fora da Alemanha. De lá para cá, durante 56 anos
ininterruptos, foram produzidas mais de 1,5 milhão de unidades de Kombis
somente nessa fábrica. Produzida mundialmente de 1950 a 2013, a Kombi é, sem dúvidas,
o veículo com mais histórias para contar do que qualquer outro veículo.
A Kombi é um dos símbolos mais famosos da
contracultura hippie dos anos 60. Levou durante muito tempo, para vários cantos
do mundo, variados grupos de artistas. O carro surgiu na Alemanha com a
carroceria montada diretamente sobre a plataforma do Fusca. Mas foi um holandês,
Ben Pon, que atuava no mercado de vendas de peças, quem esboçou, no final dos
anos 1940, num pedaço de papel o furgão utilitário mais vendido no Brasil e no
mundo. O conceito surgiu quando ele viu uma espécie de empilhadeira numa fábrica
de automóveis. E assim surgiu um veículo para o transporte de carga e de
pessoas.
O nome Kombi vem do alemão “Kombonationsfahrzeug”
que quer dizer “veículo combinado” ou “veículo multi-uso”. Os primeiros
protótipos tinham aparência horrível, mas foram retrabalhados na Faculdade de
Braunschweig dando a ele linhas mais arredondadas. Em 8 de março de 1950 a Kombi
foi colocada nas ruas das cidades da Alemanha.
Em 1953 a Kombi chega no BrasilA primeira Kombi foi montada no Brasil pela Brasmotor, que mais tarde se transformaria na famosa Brastemp, fabricante de geladeiras e máquinas de lavar roupas
Em 1953 as peças e motores importados para montagem
das primeiras Kombi chegam ao Brasil. Começam a ser montadas pela Brasmotor,
que mais tarde passou a se chamada de Brastemp e foi fundada pelo boliviano
Hugo Miguel Etchenique.
A história da Kombi é fascinante. O veículo com
mais histórias para contar do que qualquer outro automóvel ou utilitário. Sua
construção robusta, com carroceria e chassi trabalhando integralmente,
suspensão independente com barras de torção, além da diferenciada posição do
motorista sentado sobre o eixo dianteiro e com a coluna de direção praticamente
vertical.
A Kombi, na verdade, é um veículo simples e
robusto, de baixo custo de manutenção. Sua motorização é um caso a parte:
durante 50 anos o motor que a equipou no Brasil foi o tradicional com
refrigeração a ar, simples e muito resistente. A durabilidade do motor superava
em muito a do resto do carro, sendo comum nas ruas do Brasil ver Kombis com a
lataria totalmente destroçada, porém com o motor rodando perfeitamente.
Até 1961 provavelmente não havia muitos veículos
transitando pelas ruas brasileiras, pois foi neste ano que a empresa anunciou a
instalação das luzes de seta (pisca) na frente e uma nova lanterna traseira,
maior e com lente desmontável com parafusos aparentes, para facilitar a troca
em caso de quebra.
Em 1965 os veículos saiam de fábrica com dois
esguichos no lavador de para-brisas, trinco para o quebra-vento nas janelas
dianteiras, iguais a do Fusca. Em 1970 a Kombi ganha cinto de segurança e
extintor de incêndio, equipamentos que passam a ser obrigatórios em todos os
veículos.
Modelo com motor a diesel Saiu poucas unidades com a Kombi motor a diesel. Além do preço elevado, o radiador na frente esquentava demais e o sistema não agradou aos motoristas
Em 1981 se dá início das vendas do modelo com
motor diesel, refrigerado a água e radiador dianteiro. Utilizava o motor diesel
1.5 que equipava o Passat tipo exportação. Logo em seguida é lançada a pick-up
Kombi com cabine dupla. Em 1977 a Kombi substitui as portas laterais com
dobradiças por portas com corrediças, semelhante as que já eram usadas pelos
veículos utilitários no restante do mundo. Em 1998 também é lançado a Kombi com
injeção eletrônica, deixando para trás o motor carburado. É lançado o modelo
especial Carat, com bancos aveludados, numa versão luxuosa da Kombi.
A última Kombi foi produzida às 22h do dia 18 de
dezembro de 2013. A unidade foi a última e ficou preservada no acervo da
montadora. Antes do encerramento da sua produção, a Volkswagen lançou uma edição
limitada de 600 unidades, mas que tiveram de ser aumentada para 1.200 unidades,
dado a grande procura por parte dos clientes.
Jurandir de Jesus Garcia adquiriu sua Kombi, zero quilômetro, em 1972. Na época ele trabalhava na antiga Caixa Econômica do Estado de São Paulo e usava o veículo para poder passear com toda a família. Gostou tanto da Kombi que a conserva até hoje como veículo de estimação da família. “Já recebi inúmeras ofertas, mas não vendo minha Kombi de jeito nenhum. É uma relíquia de família”, afirma.
.As primeiras Kombis que circularam na Alemanha, invenção de um holâmdes A Kombi com seis portas saiu apenas por alguns meses. Eram portas demais para abrir e fechar. A novidade não agradou os motoristas e passageiros A sempre robusta Kombi se vê circulando até hoje pelas ruas de quase todas as cidades