O Fiat 147 foi o primeiro carro movido a álcool do mundo
Nelson Gonçalves, especial para Folha2
O 147 foi o primeiro modelo de automóvel produzido
pela Fiat no Brasil. Foi também o primeiro automóvel movido a álcool fabricado
em série. Foi lançado em 1976 e produzido até 1986, baseado no modelo italiano
127.
Fiat já era conhecida como uma das maiores
montadoras de carros do mundo. O nome Fiat é uma sigla que traduzido para o
português significa Fábrica Italiana Automobilística de Turim. A cidade de
Turim fica localizada na região norte da Itália e era o lar de Giovanni Agnelli,
que fundou a marca em 1899.
Em meados da década de 1960 surgiram os primeiros
rumores de que a empresa italiana estudava instalar uma fábrica no Brasil. Os
governos de Minas Gerais e da Guanabara travara batalha nos bastidores pela implantação
da futura fábrica. No fim Minas Gerais
ofereceu mais vantagens fiscais e, no final de 1968, a empresa adquiriu uma
gleba de terras na cidade de Contagem para inicialmente montar uma fábrica de
tratores de esteira, numa parceria com a Allis Chalmers. O projeto não saiu do
papel.
Em 1973, o presidente mundial da Fiat Gianni
Agnelli, herdeiro do fundador, esteve no Brasil e anunciou a montagem de
fábrica da Fiat em Betim para produzir o modelo 127. Projetado pelo engenheiro
Dante Giacosa e pelo designer Pio Marizó, o modelo 127 tinha vencido o prêmio “Carro
Europeu do Ano” em 1972.
Ao ser testado nas estradas brasileiras o modelo
italiano não se adaptou bem à realidade de nossas rodovias, esburacadas e
empoeiradas. Os primeiros 127 importados tiveram problemas de desempenho por
conta da gasolina brasileira ser inferior a utilizada na Europa.
147 foi baseado no importado 127
O pequeno Fiat 147 foi também o carro mais barato da sua época
Foi então que se pensou em produzir um carro
pequeno, econômico e robusto que pudesse enfrentar o dia-a-dia das estradas
brasileiras. Algumas mudanças foram feitas no modelo 127 e a Fiat optou por rebatizar
o veiculo como Fiat 147, anunciando, no final de 1976, a instalação da fábrica
em Betim com capacidade de produção de 150 mil veículos por ano.
O carro foi oficialmente mostrado ao público no
10º Salão do Automóvel, realizado em novembro de 1976, em São Paulo. Foram
expostos 15 unidades do Fiat 147 pintadas em cores diferentes e inclusive os primeiros
protótipos dos motores movidos à álcool. Era, na época, o carro de passeio com
o menor motor. Sobrava espaço no capô do motor para acomodar ali o pneu estepe,
com aro 13, um dos menores do mercado.
Os freios mistos, o disco no eixo dianteiro e
tambor no eixo traseiro, conseguiam parar o 147 a uma distância de 41 metros
quando acionado a uma velocidade de 100 km/h. A transmissão era considerada precisa,
porém o veículo apresentou certas dificuldades para o engate na troca de
marchas. “As vezes era preciso utilizar da força nas duas mãos para poder acionar
o câmbio para a mudança de marcha”, lembra Cecílio Moreira, que comprou um Fiat
147 logo que ele foi lançado no mercado.
Em março de 1978 durante um teste de automóveis
nacional promovido pela revista Quatro Rodas no Autódromo de Interlagos com o
piloto de Formula 1 Jody Scheckler o câmbio do Fiat 147 foi extremamente criticado.
Outro problema encontrado foi que o painel era tão pequeno que a própria Fiat
constatou que não havia nenhum fabricante nacional que produzisse auto-rádio
que coubesse no painel do carro. O problema para isso foi resolvido com a Fiat encomendando
para a fabrico Motorádio a produção sob encomenda de rádios de tamanho pequeno
que coubessem no painel.
O problema da transmissão do veículo foi
parcialmente sanado em 1979 após um reprojeto da caixa de câmbio. A intenção da
Fiat era competir com o Fusca da Volkswagen e bater de frente com Chevette da
Chevrolet. Em 1978, após sanar diversos problemas no câmbio e na potência do
motor, o Fiat 147 foi escolhido como o “Carro do Ano” pela revista Autoesporte.
Mas devido a concorrência de modelos mais avançados, também econômicos e mais
espaçosos, as vendas do 147 entraram em declínio.
Para diversificar a produção e ganhar novos
mercados, a Fiat lançou a perua Panorama em 1980. Com base na plataforma do
147, a Panorama entrou no mercado de peruas, restrito até então ao Chevrolet
Caravan e a Ford Belina.
A Fiat resolveu reestilizar o 147, considerando
que a plataforma estava defasada. Lançou o Oggi como novidade e acelerou o novo
projeto de um carro mundial, batizado como Uno, cujo lançamento estava previsto
para 1984 e foi antecipado para dois anos antes.
Lula com Marisa e os filhos junto com o Fiat 147 na garagem da casa
Quando foi eleito pela primeira vez, no ano 2000,
presidente da República, Luís Inácio Lula da Silva e a então primeira-dama
Marisa Letícia voltaram a São Bernardo do Campo para rever o Fiat 147 que
pertenceu à família. Acompanhado do então senador Aloizio Mercadante e sob as
câmeras de diversos órgãos de imprensa, Lula entrou, junto com Marisa, dentro
do carrinho, fechou a porta, virou a chave da ignição para dar partida e descer
alguns metros da rua João Bosco.
“Esse carro foi o carro que eu comprei em 1979”,
disse o presidente. “Eu vendi depois para o Meneguelli e ele até hoje não me
pagou”, brincou. Lula contou que comprou o Fiat 147 com dinheiro de uma
indenização recebida por Marisa. O terceiro dono do carro, José Rodrigues
Damasceno, ex-assessor de Jair Meneguelli, comprou o veiculo em 1986 e o mantém
intacto. Ele manteve inclusive um amassado em cima do capô que teria sido um
murro dado pelo próprio Lula num momento de irritação, durante uma das greves
no ABC.