Folha2

Boatos e notícias falsas atrapalham doações para os gaúchos

 

Estação de energia elétrica tomada pelas águas da enchente em Porto Alegre

Nelson Gonçalves, especial para a Folha2 

As enchentes no Rio Grande do Sul têm sido acompanhadas por uma onda de desinformação e notícias falsas. Só nos dois últimos dias as agências de checagem desmentiram mais de 10 fakes News espalhadas por grupos de whatsapp e outras redes sociais. Algumas são as mais estapafúrdias possíveis e colocam em xeque a inteligência das pessoas.

Uma das informações falsas era de que a Polícia Rodoviária Federal (PRF) e a Receita Federal estariam impedindo a entrada de caminhões no Rio Grande do Sul por falta de nota fiscal. Tem até um vídeo circulando com um caminhão da empresa Bread King, que realmente chegou a ser abordado, no posto de fiscalização na fronteira entre Santa Catarina e o Rio Grande do Sul, devido ao excesso de peso. “Porém o veículo foi liberado sem receber qualquer notificação ou atuação”, esclareceu a empresa, em nota divulgada à Imprensa.

“Ressaltamos que a Bread King está comprometida com a solidariedade em momentos difíceis como este. Informamos que novas viagens estão sendo planejadas para auxiliar nossos irmãos gaúchos, que enfrentam dificuldades neste momento tão desafiador”, complementa a nota da empresa, que possui armazéns em Porto Belo e Chapecó, em Santa Catarina, e em Valinhos (SP).

O secretário-chefe da Casa Civil do governo do Rio Grande do Sul, Artur Lemos, afirma que é fake a informação de que estão sendo retidas as doações em postos de cobrança de impostos. “Não, não estão”, garante. “As doações estão passando isentas e não há nenhuma cobrança de impostos”.

“Não estamos impedindo a circulação de nenhuma espécie de alimento para doação”, esclarece o coronel Douglas Soares, subcomandante geral da Brigada Militar. “Não estamos fazendo fiscalização de notas fiscais”. Além disso, as autoridades de Santa Catarina e Rio Grande do Sul negaram qualquer bloqueio nas fronteiras.

A Polícia Rodoviária Federal, por meio de nota do seu Departamento de Comunicação, também desmentiu a informação de que estaria bloqueando o transporte de doações. “É mentira que estejamos bloqueando o trânsito de veículos com doações por falta de nota fiscal ou que estejamos recolhendo reboques com motos aquáticas por falta de habilitação do proprietário”, afirma a nota da PRF. A PRF também esclarece que uma empresa teve um de seus veículos filmado enquanto era retido em uma barreira da receita estadual em Torres. O caminhão, com donativos destinados a desabrigados, seguiu viagem normalmente até o seu destino, entregando os suprimentos ainda durante a madrugada. “No posto de fiscalização, o veículo foi abordado devido ao excesso de peso, porém foi liberado sem receber qualquer notificação ou autuação”, acrescenta a PRF.

PF vai apurar autorias das fakes News

A Polícia Federal (PF) foi acionada pelo Ministério da Justiça, a quem está subordinada, para investigar a divulgação de fake news sobre supostas falsas ações de fiscalização de órgãos dos governos federais, estaduais e municipais. A PF já está de posse da lista dos nomes de influenciadores digitais, de contas em redes sociais e de diversos nomes de pessoas que andaram replicando essas notícias falsas. Replicar notícias falsas é crime.

Na região de São José do Rio Preto essas notícias falsas se espalharam como rastilho de pólvora em diversos grupos de whatsapp. Segundo o Ministério da Justiça, há “narrativas desinformativas e criminosas” que causam impacto no aprofundamento da crise social vivida pela população gaúcha. Entre as fakes News espalhadas e desmentidas pelas agências de checagem estão a que diz que o jogador Neymar teria alugado e doado 10 helicópteros para ajudar nos resgates de vítimas das enchentes no Rio Grande do Sul, bem como a que a cantora Madona teria feito uma doação secreta de 10 milhões de dólares para os desabrigados pelas enchentes.

Entre as notícias falsas há também aquelas que tentam vincular o show da cantora Madona como se fosse um evento tivesse sido promovido pelo governo federal com recursos da Lei Rouanet, quando na verdade foi um evento privado patrocinado pelo Banco Itaú e Heineken. É verdade, porém, que a Prefeitura do Rio e o Governo do Estado do Rio de Janeiro apoiaram o evento. 

A Advocacia Geral da União (AGU) também vai entrar com ações judiciais para pedir a retirada do ar de conteúdos falsos, direito de resposta nas plataformas e indenizações por dano moral e coletivo. O Ministério da Justiça também afirmou, por meio de nota, que abrirá processos criminais contra os disseminadores de desinformação.

Psicopatas das mentiras

“Muitos sabem que é mentira, mas insistem na desinformação”, avalia o professor Antônio Correa. “Grande parte das pessoas que replicam, feito idiotas que não pensam, sabem perfeitamente que aquilo que estão repassando em grupos e para as outras pessoas que se tratam de inverdades. É claro que essas pessoas maldosas sabem perfeitamente que é mentira. Mas são psicopatas que apostam na ignorância dos outros, que não checam informações. E vai que cola a desinformação!”.

Correa informa que tem analisado as postagens em diversos grupos e fica indignado como tem pessoas cultas, que ocupam cargos de lideranças em clubes de serviços como Rotary, Lions e Maçonaria e insistem em postar desinformações nas redes sociais. “Essas pessoas pelo alto conhecimento e estudo que possuem deveriam dar bom exemplo e não o mau exemplo de espalhar fake News. Isso nos leva a crer que não são pessoas do bem como elas se propagam ser”.

 Inundação deste ano é maior que a de 1941

O Centro Histórico de Porto Alegre totalmente invadido pelas águas das chuvas

A enchente deste ano no Rio Grande do Sul superou a de 1941 quando as águas atingiram 4,75 metros de altura. A enchente deste ano chegou pela primeira vez na história a 5 metros de altura. Em 1941, a capital gaúcha recebeu 24 dias de chuvas de maneira ininterrupta. Desta vez apenas em dois as chuvas causaram a maior inundação de todos os tempos no país.

Em 1941 foram cerca de 70 mil pessoas que ficaram desabrigadas. Agora esse número já passa de 1,5 milhão de pessoas e até a noite desta terça-feira (7) se contabilizava 95 mortes e 125 pessoas desaparecidas.

Pouco mais de 30 anos após a ocorrência de 1941, em 1974, foi finalizado o chamado Muro da Mauá. A estrutura fica ente o cais Mauá e a avenida Mauá, no Centro Histórico de Porto Alegre e tem 3 metros de altura e 2,6 quilômetros para conter as águas do lago Guaira. Mas as chuvas foram tão intensas que o nível da água ultrapassou 5 metros de altura.

Cerca de 467 mil dos 1,3 milhão de habitantes de Porto Alegre estão sem energia elétrica e sem água encanada em suas casas. Devido as inundações, as estações e subestações de energia elétrica da capital e de várias cidades gaúchas estão sem funcionar ou, por prevenção, tiveram de ser desligadas. Com isso, as bombas, que fazem funcionar o sistema de captação de água, também estão paralisadas. 

Em 1941 as pessoas precisaram ser socorridas por barcos em plena rua

A área defronte ao Mercado Municipal ficou toda inundada em 1941

Assim como a enchente de agora em 1941 o Centro Histórico ficou alagado

 

Postar um comentário

Postagem Anterior Próxima Postagem

vários

Folha2
Folha2