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A famosa mistura de Caracu com ovo de galinha dizem que faz bem para a saúde |
Por Nelson Gonçalves, especial para a Folha2
Caracu foi e ainda continua sendo sinônimo de
cerveja preta no Brasil. Fundada pelo Major Carlos Pinho em novembro de 1899 na
cidade paulista de Rio Claro, no mesmo ano e mês em que era proclamada a República
no país, a fábrica de cerveja e gelo levou esse nome em referência a uma raça bovina
desenvolvida no período colonial brasileiro. O rótulo, que se mantém
praticamente igual até os dias atuais, apresenta a face estilizada de um touro
da raça Caracu. Uma das características marcantes da construção da fábrica– e que existe
até hoje – era a chaminé de quarenta metros de altura que, durante um longo e
já distante período, exalou o aroma de cevada por toda a cidade de Rio Claro.
Em 8 de fevereiro de 1902, a fábrica foi arrendada
por Pinho ao alemão Júlio Stern, que passou a investir pesado na expansão da
fábrica e em propaganda. Em 1920, a cervejaria foi adquirida por Oscar Batista
da Costa e se tornou a cerveja mais cara da Cervejaria Rio Claro, sendo
apresentada como cerveja tipo Guinness nacional.
Com a Grande Depressão ocorrida em 1929 nos
Estados Unidos, mas que teve muitos reflexos no Brasil, a cervejaria foi a
falência. Em 27 de novembro de 1929 o juiz Junior Soares Caiuby decretava a
falência da empresa.
Pouco tempo depois a fábrica foi parar nas mãos de
Nicolau Scarpa, imigrante italiano que fez fortuna adquirindo diversas empresas
e sendo um dos principais acionistas do Grupo Votorantim. Ele reativou a fábrica
e passou a vender a marca Caracu por todo o Brasil. Ao falecer, em 1942, seu
filho, Francisco Scarpa, pai de Francisco Scarpa Filho, o famoso milionário
Chiquinho Scarpa, herdou e, mais do que isso, expandiu ainda mais a fortuna da
família. Em 1967, ela foi vendida para a sueca Skol (saúde em sueco) e em 1980
teve o controle acionário adquirido pela Brahma.
Mais de 100 anos de boas histórias
Os 100 anos da instalação da fábrica foi comemorado
em 1999 com festa em Rio Claro. A prefeitura organizou informações para remontar
a história da fábrica. De acordo com Milton Machado, presidente da comissão
organizadora dos festejos, a ideia é a de, possivelmente, criar um museu na
cidade para contar a história da Caracu. E haja histórias para contar sobre essa secular cerveja!
Não se sabe o dia exato em que a cerveja começou a
ser fabricada. Mas sabe-se que foi em novembro de 1899. A cervejaria passou, ao
longo desses anos, por vários donos até chegar nas mãos da família Scarpa, que
a vendeu para a Skol e posteriormente para a Bhrama e hoje faz parte da multinacional
Ambev.
A grande novidade nos últimos anos foi o lançamento
da cerveja Caracu em lata de alumínio. Até então era vendida apenas em
garrafas. E, sempre, desde o início em garrafas pequenas de 360 ml. O carisma
da caracu vem desde o início com atribuições importantes para a melhoria da saúde
de gestantes ou da viribilidade dos homens. Teve até quem a receitasse para
eliminar pedras nos rins. Era considerada como uma cerveja diurética.
Caracu com ovo, prática tradicional no sul do país
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Uma das receitas é bater caracu com ovo, cravo e canela no liquidificador |
A Caracu é uma cerveja rica em ferro, o que fortalece o sangue e previne a formação de coágulos. Ela também é considerada como uma grande fonte de energia, já que possui baixo teor alcoólico e seus componentes dão disposição para o corpo. Além disso, auxilia o bom funcionamento do coração e hidrata a pele. Mas, como toda bebida alcoólica, deve ser consumida com moderação. E se beber, não se deve dirigir.
Atualmente a Caracu é produzida em Curitiba (PR) e
em Guarulhos (SP). Ela tem maior aceitação nos estados do Sul, principalmente
no inverno.
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Anúncio nos jornais da época divulgavam um dos primeiros outdoors no topo do Edifício Martinelli |
A inesperada descoberta estava fadada a permanecer
oculta para sempre não fosse o desastre ocorrido no imóvel vizinho. A
existência desta propaganda não era apenas uma publicidade do passado. Havia
uma razão especial para ela estar naquela parede.
Localizada na parede lateral do número 53 da rua
Antônio de Godoy, na área central da cidade, o prédio levava também o nome de
Edifício Cacaru e foi construído em meados da década de 1950 pela família
Scarpa. Ali abrigou por longos anos os escritórios centrais da tradicional
cervejaria rio-clarense na capital paulista. O acesso se dava pela extremidade
direita do edifício.
Os escritórios da Caracu, onde se realizavam as reuniões da diretoria e faziam contratos com grandes redes distribuidoras, ficavam no oitavo andar do edifício. O prédio possuía também, em outros andares, muitos escritórios pequenos alugados para as administrações de outras empresas, como a Companhia de Fiação de Tecidos Nossa Senhora do Carmo e a Companhia Imobiliária Tranquilidade.
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Cerveja Caracu é refrescante e rica em nutrientes para melhorar a saúde |
Caracu com ovo: mistura afrodisíaca bastante apreciada pelos mais velhos Propaganda que estava pintada na parede do Edifício Caracu e que só pode ser vista com a demolição do prédio que ficava ao lado
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Fábrica da Caracu, em Rio Claro, em foto da década de 1960 |
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Complexo fabril da Caracu, em vista aérea dos anos de 1970, foi a leilão em março deste ano por R$ 44 milhões. Mas não apareceu compradores. Atualmente funciona no local uma faculdade particular |
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Por muitos anos o edifício da fábrica em Rio Claro era uma das referências da cidade |
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Início da fábrica em foto por volta de 1929, onde já se destacava o chaminé |