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Hillsong, megaigreja que se tornou fenômeno de crescimento

 

Igreja Hillsong no bairro dos Jardins, em São Paulo, parece uma casa de espetáculos

Nelson Gonçalves, Especial para a Folha 2

 A megaigreja australiana Hillsong tornou-se um fenômeno global. Os pastores são jovens, alguns tem tatuagens, falam informalmente e, como a congregação, se vestem à moda hipster, com jeans rasgados, camisetas compridas cortadas na manga, jaquetas de couro, colares, botas e alguns levam até sua prancha de surf para o palco-altar. As câmeras filmam a plateia e a banda e transmitem estas imagens super nítidas em telas enormes em tempo real. Tudo feito com muito profissionalismo. Há videoclipes extremamente profissionais contendo as novidades da igreja e testemunhos, entre o louvor, oferta e pregação.

Fundada em 1983 pelo casal neozelandês Brian e Bobby Houston, num bairro de classe média em Sydney, a Hillsong é uma igreja pentecostal que fez parte da Assembleia de Deus na Austrália. Após estabelecer filiais bem-sucedidas em muitas cidades europeias, tais como Londres, Estocolmo, Paris, Amsterdã, Barcelona, Berlim e até na cidade do Cabo, na África do Sul, também estabeleceu nos Estados Unidos, em Nova Iorque e Los Angeles.

Música é o carro chefe da Hillsong

Banda Hillsong Whorship é uma das quatro bandas da igreja Hillsong

A música é a principal vitrine da igreja. A Hillsong é também um selo musical altamente lucrativo e de alcance mundial. As canções gravadas por suas quatro bandas (Hillsong Worship, Hillsong United, Young & Free e Hillsong Kids) já ultrapassaram a marca de 16 milhões de álbuns vendidos e ganhando muitos prêmios.

Em 2015, a Hillsong partiu para a conquista da América do Sul. A fim de fundar uma filial em Buenos Aires, Chris e Lucy Mendez, um casal de pastores australianos, filhos de pais argentinos mudou-se para a cidade em julho de 2016. Em novembro do mesmo ano, a Hillsong Buenos Aires abriu sua porta.

Desde a chegada em Buenos Aires, Chris Mendez também começou a viajar por todo o Brasil para preparar o terreno destinado à implantação da filial brasileira, que começou a funcionar em outubro de 2016.

Chegada no Brasil criou fascinação entre fãs

A banda Hillsong United reúne faz anos uma multidão de fãs pelo mundo afora

Antes mesmo da igreja chegar ao Brasil, a “marca” Hillsong já fazia parte do imaginário da juventude cristã brasileira. Havia fãs clubes de suas bandas em diversas partes do país e os jovens se sentiam atraídos pela oportunidade de frequentar uma igreja frequentada por celebridades estrangeiras. Além disso, como a Hillsong mantem faculdades na Austrália e oferece oportunidades para estudantes de fora, no imaginário dos jovens brasileiros estaria aí uma “oportunidade de ouro” para poderem estudar e aprender inglês num país de primeiro mundo.

O anúncio de que a Hillsong estava chegando ao país causou tanto rebuliço em círculos evangélicos brasileiros que o pastor Chris Mendez precisou buscar uma estratégia de boa vizinhança com as demais igrejas. Ele passou a visitar igrejas locais e a se reunir com seus pastores para assegurar que a Hillsong não pretendia atrair jovens de suas congregações.

“Não estamos vindo para construir uma igreja que vai tirar cristão de outras igrejas”, afirmava Chris. “Estamos vindo para construir uma igreja onde o perdido possa ser salvo em uma cidade com milhões de habitantes”. Nas pregações, feitas nos cultos das outras igrejas evangélicas, ele reforçava: “Se você está plantado em uma igreja, por favor, não deixe sua igreja porque a Hillsong está vindo para São Paulo. A melhor coisa que você pode fazer para o Reino de Deus é continuar plantando. Aqueles que estão plantando na casa de Deus irão florescer”.

Presença de celebridades atrai público

Eventos que vai ocorrer em maio reúne nomes importantes do mundo gospel

A presença de celebridades nos cultos da Hillsong era tanta que ela ganhou a alcunha nas redes sociais como “a igreja de Justin Bieber”, depois que o cantor começou a frequentar a filial de Nova Iorque. A atriz Bruna Marquezine (ex-namorada do jogador Neymar) e a modela Stephannie Oliveira (filha do ex-jogador Bebeto) foram algumas das celebridades que frequentaram a Hillsong em Nova Iorque.

Em maio de 2015, quando o site oficial da Hillsong anunciou a primeira noite de informações sobre a igreja numa casa de shows nos Jardins, bairro de classe alta em São Paulo, o site ficou congestionado de perguntas. Muitos indagavam se o evento seria pago e se necessitaria fazer reserva antecipada, confundindo a noite de informações com um show da banda com o mesmo nome.

Quando o pastor sênior, Brian Houston, compareceu a uma destas noites, as filas na porta do Áudio clube, onde se realizaria o evento em São Paulo, começaram a se formar três horas antes da hora marcada. Naquela noite duas mil pessoas conseguiram entrar e outras três mil fiaram de fora. Muitas outras reuniões foram feitas, sempre com grande presença de público. No palco, os pastores australianos eram sempre auxiliados por líderes da equipe local, que traduziam suas explicações sobre a igreja e suas pregações. Todos esses eventos foram organizados por uma equipe brasileira, composta por ex-alunos do seminário da Hillsong na Austrália e por um grupo crescente de voluntários treinados por eles.

Pesquisa sobre a Hillsong

Porta de entrada do colégio da Hillsong em Sydney, nas Austrália


A pesquisadora Cristina Rocha, diretora do Centro de Estudos de Religião e Sociedade na Western Sydney University, na Austrália, e também editora da revista Journal of Global Buddhism, da editora Brill, estudou o fenômeno do crescimento da Hillsong. Ela constatou que o Brasil é o maior país pentecostal do mundo e é sede de várias megaigrejas.

Durante três anos, Cristina Rocha coletou dados, entrevistou tanto brasileiros que estudavam no colégio da Hillsong na Austrália como aqueles jovens que frequentavam os cultos de domingos na igreja em São Paulo. Ela constatou que a cultura de praia e surf da Austrália, a segurança nas ruas, a língua inglesa, a economia forte, o status de primeiro mundo e a possibilidade de estudar e trabalhar legalmente meio-período naquele país são alguns diferenciais que atraem os jovens brasileiros para a igreja. Estima-se que existam cerca de 70 mil brasileiros vivendo na Austrália. Depois da China, o Brasil é o segundo maior país por número de estudantes nos cursos intensivos de inglês para estrangeiros.

 Mas o carro-chefe que tornou a igreja famosa foi o sucesso extraordinário de suas bandas de louvor. Suas músicas estão traduzidas em vários idiomas e são cantadas em igrejas em todo o mundo. Sua fama é tão grande que, em 2015, a Hillsong United recebeu o Prêmio Awards de melhor artista cristão. Em 2016, a igreja abriu um canal de TV nos Estados Unidos e lançou aplicativo para celulares. A banda foi tema do documentário “Hillsong: Let Hope Rise” (Deixe a Esperança Crescer), dirigido pelo cineasta holywoodiano Michael Warren.

No Brasil, a Hillsong chegou por meio da música “Shout to the Lord” (Gritar ao Senhor) e do álbum com o mesmo nome, gravado pela vocalista Darlene Zechec com a banda Hillsong em 1994. Ana Paula Valadão e sua banda Diante do Trono gravaram a versão brasileira do álbum, que denominaram “Aclame ao Senhor”.

A pesquisadora Cristina Rocha notou que depois da chegada da Hillsong no Brasil ocorreu mudanças em algumas igrejas brasileiras. A maioria das igrejas brasileiras eram bem iluminadas com paredes brancas, com cultos longos, com duração de até três horas. Os pastores e a congregação vestem-se formalmente e não possuem tatuagens ou piercings. Também não se pula e dança dentro dos templos. Já na Hillsong, a igreja é tipicamente um teatro escuro e os cultos são mais curtos (exatamente 90 minutos) e há muito entretenimento. São quase um show de rock, com luzes coloridas no palco e telões enormes onde são projetadas imagens dos artistas, dos pastores e do público. No hall de entrada tem um café e uma loja vendendo os últimos livros dos pastores, CDs das bandas, DVDs dos cultos, camisetas com dizeres cristãos e outras lembrancinhas como cadernos, canetas, bolsas, etc.

Sede da Hillsong Church em Sydney na Austrália, em culto após a pandemia da Covid-19

 Denúncias de evasão de impostos e de assédio

Como em toda grande organização nem tudo são flores. Também existem problemas pontuais. Em setembro de 2018, a Hillsong deixou as Igrejas Cristãs Australianas, das quais Brian Houston, fundador dessa megaigreja, foi seu presidente nacional entre 1997 a 2009, para se tornar denominação autônoma.

Depois disso começaram a surgir alguns problemas e escândalos. Em janeiro de 2022, Brian Houston se afastou do seu cargo de dirigente da Hillsong depois de ter sido processado por sua suposta falha em não denunciar o abuso sexual de uma criança feita por seu pai, na década de 1990. Ele foi absolvido em 2023 pela justiça australiana.

Porém, pouco antes de ser absolvido, se viu envolvido em denúncias de assédio sexual praticado por ele contra duas mulheres. Denuncias que ele refutou e negou.

Em agosto de 2022, a Hillsong foi processada por um cidadão australiano que denunciou no tribunal federal local que a megaigreja havia transferido milhões de dólares ao exterior para evitar o pagamento de impostos. O denunciante alegou que a Hillsong fez “grandes presentes em dinheiro” para Houston e sua família usando dinheiro isento de impostos.

Desde então Brian Houston, embora absolvido no primeiro caso, continua afastado da direção da Hillsong. A igreja é administrada pelo Conselho Global e por um grupo de presbíteros conhecidos como Hillsong Eldership (anciões da igreja), liderados pelo pastores Phill e Lucinda Dooley desde 2022. Os presbíteros lideram a igreja espiritualmente, enquanto o conselho de administração, com mandatos de um ano, gerencia o corporativo.

Música Gospel diferente

 O jornalista Ricardo Feltrin, que durante 32 anos trabalhou como editor e repórter da Folha de São Paulo e do site UOL, tendo trabalhado inclusive em São José do Rio Preto para o caderno Folhanorte, escreveu um artigo onde ele revela não ser evangélico, mas que é fã da banda de música gospel Hillsong United. O depoimento dele, escrito na primeira pessoa, é emocionante. Para ler o artigo de Ricardo Fletrin, clique aqui

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Pastor da Hillsong se veste de forma totalmente atípica dos pastores tradicionais

As paredes e o teto são pintados de preto para dar mais destaque às luzes


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