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Gordini, o carro que dava a impressão de que 4 adultos não caberiam dentro

Gordini II em teste para a Revista Quatro Rodas: carro super-econômico

 

Nelson Gonçalves, especial para a Folha 2

Dauphine e Gordini muitos pensam tratar-se de dois carros produzidos por fábricas diferentes. Mas não o são. Na verdade, os dois, com a mesma plataforma, foram produzidos no Brasil pela Willys-Overland para concorrer com o Fusca da Volkswagen.

O Dauphine foi projetado, em 1956, pelo engenheiro Fernand Picard para a fábrica da Renault, na França. Seria para dar ao consumidor uma alternativa ao envelhecido modelo Renault 4CV e para concorrer com o Fusca. Alguns detalhes eram até parecidos com o carro produzido pela alemã Volkswagen como motor traseiro e porta-malas na parte da frente do carro. A versão brasileira começou a ser fabricada, três anos depois do lançamento na França, sob licença da Renault pela Willys-Overland do Brasil em 1959.

Foi o primeiro carro de passeio da Willys-Overland do Brasil, que já fabricava o utilitário Rural Willys e o Jeep Willys e mais tarde produziu o Aero-Willys e luxuoso Itmarati. O Dauphine foi lançado com motor de quatro cilindros e potência de 26,5 cv. Com três marchas, leve, fácil de dirigir, barato e econômico que logo caiu no gosto da população. O consumo ficava entre 14,5 a 17 quilômetros por litro. Logo ganhou o apelido de “Rabo Quente” por causa do seu motor traseiro

Dauphine vira Gordini em 1962 

Modelo original do Dauphine, produzido na França tinha linhas menos arredondadas

O modelo evolui e, em 1962, passou a ser chamado de Gordini. O novo nome foi uma homenagem a um dos seus criadores, o italiano naturalizado francês Amedeo Gordini, que se destacou como piloto e projetor de carros. Tinha trabalhado antes produzindo carros de competições para a Pigozzi e a Simca, quando foi contratado pela Renault. Ele acrescenta dos carburadores e mais oito cavalos ao motor original do Dauphine e leva-o para competição. Ganha o Rally de Monte Carlo e por isso o carro passa ser batizado com o seu sobrenome.

Tanto o Dauphine como o Gordini tinham como concorrentes o Fusca e o DKW-Vemag. Sua carroceria do tipo monobloco se resumia em compacto sedã de quatro portas e mal acomodava dois adultos nos bancos traseiros. A impressão inicial era de que quatro adultos não caberiam dentro do carro. Na verdade ele não comportava cinco passageiros de jeito nenhum.  Tinha 1,42 m de largura e 1,44m de altura. O Gordini possuía motor Ventoux de 845 cc de míseros 40 cavalos que chegava a uma velocidade espantosa de 118 km/h, com aceleração de 0 a 100 em 36,5 segundos. O câmbio, antes com três marchas, passou a ter quatro marchas para a frente. O carrinho de linhas curvilíneas e charmosas repletos de adereços cromados era super-econômico, fazendo a média de 16km/l.

Versão Teimoso do Gordini

Versão Teimoso do Gordini foi lançado sem detalhes de frisos cromados para baratear o preço, que era 50% mais barato do que os veículos vendidos no mercado

A cada ano era lançado uma nova versão com mudanças em alguns detalhes no motor e na carroceria. No final de 1964, já como modelo 1965, chegava o Teimoso, uma versão mais simplória do Gordini com opção apenas de três cores: marrom, preta e cinza. Na época, o modelo custva até 50% a menos em relação as versões anteriores do Gordini.

A ideia era oferecer incentivos para a compra da versão básica do Gordini pela Caixa Econômica Federal com taxas de juros bem mais baixas do que aquelas praticadas pelo mercado financeiro. Esteticamente, o modelo era ausentado de cromados, frisos, calotas e internamente os estofamentos eram bem mais simples e o painel de instrumentos resumia apenas ao velocímetro e hodômetro, que respectivamente medem a velocidade e a distância percorrida.

Tanto o Dauphine como o Gordini ganharam o maldoso apelido de “Leite Glória, o que desmancha sem bater”. Isto porque a espessura da lataria era bem mais fina do que os veículos fabricados na época, para tornar o carro mais leve. E ao se envolver em alguns acidentes, o automóvel parecia se transformar em uma lata de sardinha amassada.

O pequeno veículo produzido no Brasil chegou a ser vendido nos Estados Unidos com enorme sucesso. Em 1957 foram vendidas 28.000 unidades e chegou a ultrapassar a venda do Fusca. Mas devido a sérias dificuldades de estabelecer uma rede sólida de revendedores e de assistência técnica pelo vasto território americano, a empresa resolveu suspender a exportação.

Ford compra a fábrica e encerra a produção 

A Willys-Overland do Brasil produziu o Gordini, lançando várias versões, até 1967 quando lançou o modelo Gordini IV 1968. Esse último modelo Gordini teve o mérito de ser o primeiro carro brasileiro equipado com freios dianteiros a disco como equipamento de série. Hoje todos os carros já saem de fábrica com freio a disco.

No final de 1968 o modelo teve sua produção encerrada com a compra da Willys-Overland do Brasil pela Ford do Brasil. E a Ford resolveu não dar continuidade à produção do Gordini porque naquele ano estava colocando no mercado o lançamento do Corcel, que viria depois ter a versão Corcel II e o modelo de luxo Ford Corcel Del Rey.

O charmoso Gordini com linhas arredondadas caiu no gosto dos brasileiros e dos americanos

Lançamento do Dauphine em 1959 no Salão do Automóvel em São Paulo

Gordini tinha o motor na parte traseira e o porta-malas na frente. O motor era refrigerado a água


Aero-Willys fabricado pela Willys em 1967. Era um carro de luxo para a época

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