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Como é viajar mais de 600 km de trem, dentro do Brasil

 

Estação ferroviária de Belo Horizonte de onde partem, todos dias, os trens com destino à Vitória, no Espírito Santo

Nelson Gonçalves, especial para a Folha2

 Tem muitos brasileiros, principalmente os nascidos pós a era 2000, que desconhecem como é viajar de trem. Os trens de passageiros de longa distância praticamente desapareceram do cenário nacional. Atualmente, além de trens de turismo em distâncias curtas, existem apenas duas linhas regulares de passageiros. Uma delas, operada pela Vale, faz o percurso entre Belo Horizonte e Vitória, a capital do Espírito Santo. A outra, a Estrada de Ferro Carajás, liga São Luís (MA) e Parauapebas (PA).

Vamos abordar nesta matéria sobre o trajeto de 664 quilômetros que liga a capital de Minas Gerais com Vitória, no Espirito Santo. Mineiro, todos sabem, adora um trem. É um tal de “trem” para todo lado. E é nesse trem com 30 estações no percurso, sendo 21 localizadas em Minas Gerais e outras nove no estado do Espírito Santo, que vamos embarcar.

A Estrada de Ferro Vitória-Minas tem mais de 100 anos. Começou a ser construída em 1904 e no ano de 1997 a antiga Vale do Rio Doce, atualmente Vale S/A, obteve concessão para explorar além das cargas, o transporte de passageiros.

Trem sai todos os dias

Estação Pedro Nolasco, em Cariacica, no Espirito Santo, ponto de chegada para o trem que sai de Belo Horizonte, todos os dias. O trem sai as 7h da manhã e chega às 20h30

Todos os dias, às 7 horas em ponto, num horário religiosamente britânico, um trem parte da capital mineira com destino à estação de Pedro Nolasco, localizada em Cariacica, município vizinho a Vitória, onde tem início o km zero da BR-262, no estado do Espírito Santo. Ao mesmo tempo, um trem parte de Cariacica, no mesmo horário, às 7 horas da manhã, para encerrar a viagem às 20h30 em Belo Horizonte.

O trem tem saídas regulares diariamente partindo de Belo Horizonte (MG) para Cariacica (ES) e vice-versa. A viagem completa percorre 664 km, passa por 42 cidades, avistando-se muitas paisagens bonitas das matas mineiras e capixabas. Ao longo do caminho o trem faz 30 paradas para embarque e desembarque de passageiros nas estações. O percurso durante 13 horas e 30 minutos. A velocidade média do trem gira em torno de 60 km/h, podendo chegar em alguns pontos a 70 km/h.

Vagões fabricados na Romênia

Os vagões são confortáveis e, tanto os da classe executiva como econômica, possuem ar condicionado interno. 


Os vagões do trem foram fabricados no ano de 2013 na Romênia. Existem três tipos de vagões: classe econômica com 75 cadeiras por vagão; a classe executiva com 56 cadeiras por vagão, oferecendo um pouco mais de conforto aos passageiros e o vagão para pessoas Portadoras de Necessidades Especiais (PNE), com quatro espaços destinados aos cadeirantes e mais dois acompanhantes por deficiente, totalizando 12 passageiros. Além disso, há também o vagão restaurante com capacidade para 40 pessoas, onde são servidas refeições, como almoço, lanches, doces, salgados e bebidas. E, claro, o famoso pão de queijo que não pode faltar em Minas Gerais.

Vitor Sousa fez a viagem de Belo Horizonte à Vitória acompanhado de toda a família. “Era um sonho de infância”, diz. “Fomos em um grupo de sete pessoas: eu, meu irmão, meu pai, minha mãe, meu avô, minha avó e meu primo”. E segundo Vitor, cuja família teria condições folgadas para ir de avião, valeu muito a pena a experiência.

A compra das passagens foi realizada pelo site da própria Vale. É muito simples e permite inclusive a escolha dos assentos. A passagem na classe executiva, a mais cara, sai por 105 reais para todo o percurso. Depois da compra, a Vele envia um voucher por e-mail.

“Como o trem é muito grande. São 16 vagões. Tivemos que andar um pouquinho para chegarmos ao nosso vagão, que era o primeiro”, relatou Vitor, acrescentando que o trem era bem limpo e a classe executiva bem confortável e com ar condicionado. “A poltrona reclina bastante e o espaço para as pernas é grande. Eu que tenho 1,75 de altura, não tive não problemas para poder esticar as pernas”.

Uma das curiosidades sobre o funcionamento do trem é que somente o maquinista e o chefe do trem são funcionários da Vale. Os demais funcionários, pessoal do restaurante, da limpeza e segurança, são todos terceirizados. Toda viagem tem um enfermeiro par cuidar de alguma emergência médica. Segundo Vitor, o trajeto montanhoso de Belo Horizonte a João Monlevade é considerado o mais bonito da viagem.

A estação de Belo Horizonte é meio escondida e fica na Praça da Estação, no centro da cidade. “Existe uma estação grandona que é do metrô e a menor que é da Vale. Os funcionários são bastante atenciosos e o trem sai com horário britânico, sem atrasos”, informa Vitor. Somente passageiros, de posse dos bilhetes de viagem, podem entrar nas estações.

Serviços de bordo, sem bebidas alcoólicas

Uma das ponte pelo qual o trem, que sai de Belo Horizonte com destino à Vitória, passa

A viagem não inclui serviços de bordos. Logo que o trem começa a andar começam a passar carrinhos, parecidos com aqueles que servem comida e bebidas nos aviões. Só que a comida e bebidas são vendidas. Mas nada com preços exorbitantes. Tem café, chá, água mineral, sucos e refrigerantes. Não servem bebidas alcoólicas. Mas também não impedem ninguém de levar sua própria bebida.

Para informações mais detalhadas, dúvidas, e compra de passagens online, os interessados podem acessar o site da Vale, clicando aqui. Ou ligar para o Alô Ferrovia pelo telefone 0800 285 7000. Informações sobre horários de partidas e de chegadas dos trens pelo custo de uma ligação local também pode ser feita pelo telefone 0300 3135 580.

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Trajeto de 664 km, passando por 42 municípios e com 30 pontos de embarques e desembarques

Assista vídeo que mostra um dos trechos mais bonitos da ferrovia


Estação do trem da Vale, em Belo Horizonte (MG)

Parte interna, onde se compram as passagens, da estação de Belo Horizonte

Estação ferroviária do município de Aimorés, um dos pontos de parada do trem


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