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Morre Zé Gatão, um dos ícones do rádio e da música sertaneja

 

Radialista José Maria, o Zé Gatão, faleceu nesta quarta-feira aos 64 anos

Faleceu no final da tarde desta quarta-feira (6) na Santa Casa de Misericórdia de São José do Rio Preto, o radialista José Maria Vieira Lopes, o popular Zé Gatão. Ele estava internado desde o último final de semana na UTI (Unidade de Terapia Intensiva) do hospital. Segundo o filho, Raphael Ferrari Lopes, o estado de saúde, nos últimos dias, era bastante grave. Os rins pararam de funcionar e estava sedado.

 Nascido em Mirassol, em 5 de julho de 1960, José Maria, começou a trabalhar em rádio ainda menino. Seu pai, José Vieira Lopes, queria o filho trabalhando na roça. Mas o avô paterno, José Rocha, incentivou e investiu para o neto seguir a carreira de radialista. Com o dinheiro da venda de uma propriedade o avô adquiriu alguns horários para que o neto pudesse falar no microfone da rádio.

 Com 11 anos de idade de idade, com ajuda do avô, patrocinador de alguns programas, ele lia propagandas que iam ao ar pela Rádio Difusora Mirassol. Em pouco tempo conseguiu espaço para apresentador seu próprio programa. Seu jeito simples e sempre brincalhão ganhou fama na região. Aos 15 anos de idade foi contratado para trabalhar na Rádio Educadora, de Tanabi. Tinha orgulho de ter sido um dos mais jovens locutores, com carteira assinada, a trabalhar numa emissora de rádio. Lá ganhou o apelido de “Silvio Santos de Tanabi”, com programas super animados e repletos de vinhetas com efeitos sonoros.

Com 18 anos de idade estava empregado em emissoras de rádio em São José do Rio Preto. Trabalhou na Independência, Centro América, Anchieta e Metrópole. Sempre mantendo a liderança da audiência do horário. Renato Brito lembra de ter sido sonoplasta de um programa apresentado por José Maria na Rádio Stéreo FM. José Maria substituiu Antônio Aguilar, que tinha se mudado para São Paulo. "Ele lia no ar os recadinhos passados pelos ouvintes pelo telefone. O programa chamado Contatos Imediatos foi um precursor do whatsapp. Ficamos uns três anos juntos", conta Brito. 

O radialista Rogério Sorroche lembra que Zé Gatão foi pioneiro na TV Record de Rio Preto em levar dançarinas para o palco nos programas de auditório. "Ele comprou um ônibus, customizou, pintou, decorou e adaptou tudo com seu próprio dinheiro, sem receber um centavo das prefeituras e viajava por esse interior para animar festas em praças públicas e teatros improvisados de escolas", recorda Rogério. 

O ex-deputado e também radialista Marcelo Gonçalves lamentou a morte do colega. "Zé Gatão foi um bom amigo e companheiro. Viveu muitas histórias na sua vida como radialista. Amava tudo que fazia. Nunca deixou de sonhar. Tinha bom coração. Tenho muitas boas recordações das boas conversas e histórias com ele.  Que Deus o tenha e descanse em paz", escreveu Marcelo Gonçalves, em nota enviada para a redação da Folha2.

Fez sucesso em São Paulo

Na década de 1980, ele abriu as portas para Chitãozinho & Xororó e muitos outros cantores da música sertaneja para poderem se apresentar no rádio e na televisão

 Com ajuda do rio-pretense Antônio Aguilar, José Maria conseguiu ser contratado pela Rádio Mulher e logo depois ingressou na Rádio Capital, trabalhando ao lado de Hélio Ribeiro, Eli Corrêa, entre outros famosos do rádio. Recebia diariamente dezenas de cartas de fãs do seu programa.

 Em 1986 gravou um disco onde declamava poemas escritos por Tom Jobim, Vinicius de Moraes e Carlos Drumond de Andrade. Mas foi a partir de 1989, com a gravação da marchinha carnavalesca a “Marcha do Zé Gatão”, composta por Antônio Aguilar, que deu uma grande reviravolta em sua vida. O disco, um compacto duplo, foi um dos mais vendidos naquele ano. A música ficou entre as mais tocadas nos salões de bailes carnavalescos.

 Aproveitando do sucesso da música, José Maria incorporou de vez o personagem. Adotou o nome de Zé Gatão. Vestiu-se fantasiado a caráter para se apresentar em clubes e em programas de auditório no rádio e na televisão. Assim esteve nos programas do Silvio Santos, Chacrinha, Bolinha e Raul Gil. Foi convidado para atuar como jurado em diversos programas de calouros.

Caravana do Zé Gatão

Capa do primeiro disco gravado por José maria, onde declamava poemas

 Ganhou fama e dinheiro. Comprou um ônibus Mercedes-Benz e personificou toda a frente do veículo com a cara de um gato grande. Criou a Caravana do Zé Gatão, que levava artistas, como Marcio Greyk,  Wanderléa, Moacir Franco e várias bailarinas. Nessa época teve casos amorosos, se envolveu com bailarinas e perdeu o casamento com Maria Aparecida Ferrari, com quem teve o filho Raphael Ferrari Viera. Formado em Jornalismo, o filho segue hoje os passos do pai no rádio, apresentando programas em emissoras de rádio e televisão.

 Após o período da fama, veio um certo ostracismo na carreira. Se tornou alcoólatra.  Convidado pelo deputado Ayres da Cunha trabalhou, durante quatro anos, em Franca como apresentador na Rádio Imperador. Em 1998 chegou a montar uma emissora de rádio em Ibirá, onde também fundou a Folha de Ibirá. Foi sócio, por três anos, do jornalista Nelson Gonçalves no jornal Folha do Povo. Nesse período atuou como empresário e apresentador de shows na região de cantores como Moacir Franco, Sérgio Reis, Márcio Greyk, entre outros.

 Nos últimos 30 anos, Zé Gadão fez amizade e parcerias com os apresentadores Jaborã e Gentil Rossi, dividindo, por inúmeras vezes, o palco de seus programas. Sempre com um sorriso no rosto, ele se tornou amigo pessoal de grandes e importantes nomes da música sertaneja, tais como Chitãozinho & Xororó e Daniel. Também tentou se enredar pela política. Por quatro vezes foi candidato a vereador. Duas vezes em Mirassol, uma em Rio Preto e outras em Ibirá. Mas não obteve sucesso. Em Ibirá, sua melhor performance nas urnas, conseguiu ficar como segundo suplente, mas nunca assumiu o cargo de vereador.    

Homenageado em vida pela Prefeitura 

Durante homenagem no Festival Nacional da Viola: Raphael (filho), Zé Gatão, prefeito Edinho Edinho, primeira-dama Maria Elza, e José Vieira Lopes (pai do Zé Gatão)

Em outubro de 2019, Zé Gatão juntamente com os radialistas Santo Beluci e Jaborã foram homenageados pela Prefeitura de São José do Rio Preto durante o Festival Nacional da Moda de Viola. Evento que contou com 67 inscrições de 10 Estados, que resultou em 30 selecionados para três dias de festival.

 Antes do início do Festival, o prefeito Edinho Araújo, ao lado dos secretários Pedro Ganga (Cultura) e Mário Soler (Comunicação), homenageou o compositor Valdemar Alves dos Reis, autor entre outras da música “Reino Encantado”. O festival contou com apresentações da duplas Irmãs Galvão, Divino & Donizete e do cantor e compositor Almir Sater. Zé Gatão ficou emocionado com a homenagem. “Este reconhecimento é a forma de lembrar um trabalho de anos sempre voltado na preservação da música sertaneja”, afirmou Zé Gatão, no dia, em nome de todos os homenageados. “Fico honrado em poder colaborar com a cultura raiz e a forte ligação que ela tem junto às pessoas”..

Velório e sepultamento

O corpo do radialista está sendo velado, até as 16h10, na Capela Prever, na rua Francisco Curti, 244, no bairro Distrito Industrial, próximo do aeroporto. Depois seguirá para o Cemitério de Mirassol, sua terra natal, onde será sepultado, ao lado do corpo do seu irmão mais velho, Oswaldo Vieira Lopes.

Junto com o apresentador Jaborã, amigo inseparável, no programa Porteira do Oito

Zé Gatão com bailarinas na época em que se fantasiava à cárater

No começo da carreira em São Paulo com Antõnio Aguilar e outros famosos

Zé Maria entrevista o filho Raphael, quando criança. E depois o filho Raphael, quando adulto, entrevista o pai em seu programa na TV Morada do Sol


Junto com o filho Raphael Ferrari e com o prefeito Ediho, de quem era admirador

Zé gatão trabalhando na Rádio Imperador, em Franca

Zé Gatão com os amigos Mário Soler e Jocelino Soares, diretor da Casa de Cultura

 

Zé Gatão agradecendo homenagem recebida no Festival da Viola

 

Zé Gatão e Sérgio Reis se tornaram amigos

Zé Gatão entrevista Sérgio Reis no início de carreira

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