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Rinópolis, a cidade onde o famoso Zé Bettio tinha fazendas

Vista aérea da Praça Eugênio Rino, a principal de Rinópolis 

 Nelson Gonçalves, especial para a Folha3

Rinópolis é um pequeno município, na região de Marília, localizado na região oeste do interior paulista. Atualmente possui cerca de 9 mil habitantes. O famoso radialista e sanfoneiro Zé Bettio não nasceu em Rinópolis. Mas lá era dono das fazendas Santa Rosa e Leonilda.

 A história de Rinópólis começou em setembro de 1927, quando a empresa Lélio Piza & Irmãos colocou à venda parte da Fazenda Goataporanga, localizada na margem esquerda do rio Aguapeí, com mais de 128 mil alqueires e despertou o interesse de diversos investidores.

 Um dos sócios da empresa dona da Fazenda Goataporanga, formada em 1910, era o Dr. Luiz de Toledo Piza e Almeida, advogado formado no Largo de São Francisco. O filho, Lélio de Toledo Piza e Almeida, também advogado, esteve à frente da Vemag, fabricante da DKV, participou das diretorias da Volkswagen, Mercedes-Benz e da Anfavea (Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores) e foi um dos incentivadores do primeiro Salão do Automóvel, ocorrido em 1960 no Anhembi em São Paulo. Na década de 70, foi presidente do Banespa.

 A fazenda era muito extensa. Até Iacri existia plantações de algodão e café, mas depois era somente mata virgem. Entre os interessados nessas terras estava o coronel Eugênio Rino, chefe de uma família de destemidos agricultores radicados em Pirajuí. Manda seus filhos Domingos e Eugênio Filho, mais o genro Francisco Nascimento da Silva conhecerem a área a ser explorada.

 Os três viajaram de trem de Pirajuí a Bauru pela antiga estrada de ferro Noroeste. Depois embarcaram numa composição da Companhia Paulista até Marília. Dali viajaram de carro até Juliana (Iacri), seguindo então a cavalo por um picadão aberto na mata virgem. Demoraram aproximadamente 10 dias para chegarem até o local e outros 10 para voltar e comunicar ao pai que as terras eram boas.

 As terras eram de boa fertilidade e a família Rino adquiriu então 2.745 alqueires. Contrataram o engenheiro Marcondes Filho para fazer a demarcação da área. Objetivo era criar um loteamento. Mas esse ao adentrar na mata adoeceu e faleceu. Contratam então outro engenheiro, que também se perde na mata composta por densa vegetação. Passados quatro dias, sem notícias, o coronel Eugênio Rino manda seu genro e os filhos Vicente e Eugênio Filho a procura do engenheiro perdido na mata. Esses subiram margeando o ribeirão Itauna, atravessaram a nado o rio Feio, e encontraram o engenheiro. Demoraram mais quatro dias até chegarem ao córrego do Bri, onde plantaram o marco inicial para a fundação de um novo povoado que teria o nome de Rinópolis. O termo “polis” em grego significa “cidade”. Então, na prática, seria a “cidade dos Rinos”.

 A fertilidade da terra atrai novos compradores, como Luiz Wolf, Antônio Rodrigues da Cunha, Benedito Borges e a família do italiano Raphael Fiorillo. Eles juntam suas turmas de trabalhadores e abrem o prolongamento da estrada que ligava o povoado de Bela Vista (Piacatu) até a cidade de Birigui, por onde passariam as primeiras famílias que chegavam para habitar Rinópolis.

 Em 1930, a nova comunidade, concentrada nas margens do córrego do Bri, recebe a visita do bispo de Botucatu, Dom Ático Euzébio da Rocha, que celebra primeira missa no local, debaixo de uma frondosa figueira. Até pouco tempo essa árvore ainda resistia ao tempo no local.

 Daí em diante fazem as primeiras derrubadas, dando início a construção das primeiras casas e plantação de café. Domingos Rino abre o primeiro armazém de secos e molhados para atender os moradores pioneiros, que não tinham onde comprar os materiais de primeira necessidade.

 Organizam-se mutirões, todos colaboram e, em pouco tempo, é erguida a igreja, e por meio de picadões no meio da mata a estrada chega até Bastos, onde poderiam embarcar e receber mercadorias nos trens da Estrada de Ferro Sorocabana. Em 1937, Rinópolis é elevado como distrito de Araçatuba, passando alguns anos depois a pertencer ao município de Tupã, com o qual não tinha nenhuma ligação por estrada. Era preciso estabelecer uma ligação com a sede.

 Moradores de Rinópolis formaram comissão para ir falar com o prefeito de Tupã, para reivindicar a construção de uma estrada que fizesse a ligação entre o distrito e a sede. Mas o prefeito de Tupã, Arthur Fernandes da Conceição Santos, que sequer conhecia o distrito de Rinópolis, argumentou que não tinha dinheiro e nem gente para trabalhar nessa obra.

 Diante da negativa do prefeito de Tupã em atender a reivindicação, Eugênio Rino Filho convoca os moradores e esses constroem, por conta própria, a estrada que liga Rinópolis à Tupã. Aberta com facões e enxadões. Sempre unidos, para eles nada seria obstáculo sem solução.

 Em 30 de novembro de 1944, o Decreto 14.334, assinado pelo interventor Fernando Costa, criava entre outros, o município de Rinópolis. A medida vinha coroar os esforços do coronel Eugênio Rino e dos filhos, além dos desbravadores Orestes Pagliusi, José Tavares de Melo, Francisco Stramandinolli e a ajuda imprescindível do geografo e educador Sud Mennuci, um dos fundadores do Centro do Professorado Paulista (CPP). Eugenio Rino Filho foi nomeado como o primeiro prefeito da cidade.

 Áurea Gonçalves Fiorillo, considerada como memória viva do bairro do Bri, onde reside desde quando nasceu, lembra ter crescido ouvindo seus pais, Silvino e Valentina, contarem as histórias e dificuldades enfrentadas por seus avós maternos. “Minha mãe contava que o pai dela era sobrinho do coronel Eugênio Rino e que aportou aqui na região junto com a família Rino”, recorda. “Meu avô inclusive morou na casa dos Rinos até poder construir a sua própria casa. Naquele tempo era tudo muito difícil, tanto para os ricos como para os pobres. Nunca ninguém soube direito explicar o porquê o nome do bairro e do rio chamar Bri. Uns falavam que era o nome de um pássaro, outros que era nome de um índio”. Segundo o dicionário de nomes, Bri é de origem irlandês e significa alto, nobre e exaltado.

 Figura ilustre 


Nascido em Promissão, José Bettio, considerado como um dos maiores nomes do rádio brasileiro que fez muito sucesso nos anos de 1970 e 1980 comprou e mantinha fazendas em Rinópolis, onde costumava passar os finais de semana. Sanfoneiro e radialista, eternizou seus bordões como “olha a hora, olha a hora”, “o maridão não quer acordar, joga água nele” ou o “quem é?; é o Zé Bettio!”.

 Tocando sanfona e viajando por todo o estado Zé Bettio tornou-se locutor por acaso. Um dia faltou locutor na rádio Difusora de Guarulhos e pediram para ele ler os anúncios. Agradou com seu jeito simples e coloquial e acabou sendo contratado.

 Lançou nomes importantes como Milionário e José Rico. Fazia do Cine Coliseu sua casa de shows, nos finais de semana, com o Bailão do Zé Bettio. Recebia artistas e lotava o local. Amante da natureza, gravava com o próprio gravador o coaxar dos sapos e o chirriar dos grilos nas suas fazendas em Rinópolis. Depois colocava no ar o som dos bichos. E distribuía mel fresco, para os amigos. Sempre aconselhando: “Toma mel com limão com limão que é bom pra saúde”.

Poucos sabem, mas o histórico radialista foi também jogador de futebol. Foi em sua juventude quando, morando em Lins, dividia seu tempo entre a profissão de sapateiro e as partidas do Clube Atlético Linense. Morreu dormindo, aos 92 anos, em 27 de agosto de 2018, em sua casa no bairro do Horto Florestal em São Paulo. Gravou 27 LPs e nove CDs.

 MST 

Dissidentes do MST marcham rumo a Fazenda Leonilda, em Rinópolis

Em 2011, um grupo de famílias dissidentes do MST (Movimento dos Sem Terra) invadiram na madrugada do dia 2 de abril a Fazenda Leonilda. Eram cerca de 100 pessoas, procedentes dos acampamentos da região, que foram colocadas para fora. Mas no ano seguinte voltaram a invadir novamente a mesma fazenda.

 Antes de falecer fazia mais de um ano que Zé Bettio vinha trabalhando junto com o comunicador Zancopé Simões para lançar sua biografia em livro. Segundo Zancopé, pelo menos duas editoras foram procuradas por Zé Bettio. Uma delas implicou com o fato do texto não ter muitas datas. “Mas artista não tem data”, afirmou, justificando que apenas duas delas contavam no texto.

Uma das datas é da estreia de Zé Bettio na Rádio Record, enquanto outra é o dia em que ele levou um tiro de raspão na testa, durante um assalto. O médico que lhe atendeu perguntou a data em que ele nasceu e disse depois ele tinha mais um aniversário para comemorar: “você vai comemorar duas vezes por ano porque se a bala fosse meio centímetro de lado, não estaríamos aqui para conversarmos hoje”.

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Capela no interior da Fazenda Santa Rosa, que pertenceu ao Zé Bettio, em Rinópolis

Casas na Fazenda Santa Rosa, que era de Zé Bettio em Rinópolis

Zé Bettio em uma de suas poucas fotografias

A Yamasa, produtora de implementos para granjas, é uma das maiores indústrias instaladas em Rinópolis





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