Ary Toledo durante participação no programa Persona, na TV Cultura |
Prestes a completar 87 anos em 22 de agosto, o comediante Ary Toledo pretende voltar aos palcos brevemente. Após um período de convalescência por causa de uma pneumonia que o deixou acamado por alguns meses, o humorista foi homenageado recentemente no programa Persona na TV Cultura, apresentado por Atílio Bari e Chris Maksoud.
A certidão de casamento dele com a atriz e vedete
de teatro Marly Marley, com quem esteve casado por 45 anos até ela falecer, de
câncer, em 2014, consta como ele ter nascido na cidade de Martinópolis,
interior paulista. Mas foi em Ourinhos que Ary, filho de um ferroviário e de
uma costureira, começou sua carreira no rádio, como locutor, humorista e
cantor.
Contou no programa que o instinto para fazer
piadas nasceu com ele desde criança. “É um dom que me acompanha desde a infância”,
revelou. “Quando tinha nove anos estava jogando bola-de-gude com meus
amiguinhos na rua de terra batida, com poeira, quando passou o padre Arnaldo e
perguntou onde era o Correio. Eu expliquei a ele e depois ele, sutilmente, sugeriu
que nós saíssemos da rua, cheia de pó e fossemos à igreja para que nos
ensinasse o caminho de Deus. Disse ao padre que não iriamos lá coisa nenhuma,
pois se ele não sabia o caminho do Correio, como podia saber o caminho de Deus?
O padre achou graça e disse que eu era muito espirituoso. Na época eu não
sabia, mas estava fazendo humor”.
Aos 12 anos ganhou uma gaita de presente da mãe. E
depois um cavaquinho, comprado com muito esforços pelo irmão mais velho. Ari
contou que fazia um programa no rádio quando o pessoal de um grupo de teatro o
chamou para encenar a peça “Auto da Compadecida”, de Ariano Suassuna. Ele topou
e a peça fez sucesso na região. Quando o grupo paulistano compareceu em
Ourinhos para apresentar a peça “Eles não usam Black-tie”, de Gianfrancesco
Guarnieri, Ary ficou ciceroneando os atores. “Fiz amizade com o Milton
Gonçalves e levei ele até para conhecer a zona do meretrício de Ourinhos”,
disse, em tom de gozação. “Daí falei que eu queria me profissionalizar no
teatro e perguntei como faria. O Milton me falou para quando fosse em São Paulo
para procurar eles no Teatro de Arena”.
Aos 22 anos com a cara e coragem Ary tomou um trem
e desembarcou em São Paulo. Descendo na estação tomou um bonde e foi direto
para o endereço do Teatro de Arena. Na frente do teatro tinha um bar e lá
estavam vários artistas, como Lima Duarte, Augusto Boal, Riva Nimitz, Flávio Migliaccio
e vários outros. “Procurei para ver se eu via o Milton Gonçalves, mas naquele
dia ele não estava. Dai tomei coragem e cheguei perto desse pessoal, me
apresentei e falei que queria trabalhar ali no Teatro de Arena”.
“’Você deu sorte estamos mesmo precisando de gente
e estamos com uma oportunidade aberta no teatro para a vaga de faxineiro’,
disse o Buol para mim. E na mesma hora eu disse: eu aceito essa vaga!”. Na
verdade, não era a vaga esperada pelo Ary Toledo. Mas o importante era que ele
estava trabalhando dentro do teatro. E ali ficou por uns dois ou três meses
varrendo o chão e limpando os banheiros do teatro até que lhe deram
oportunidade para atuar em cena.
Os primeiros meses em São Paulo foram de muitas
dificuldades. Ele e mais alguns colegas de palco dormiam em colchões improvisados
debaixo das arquibancadas do teatro. E passaram vários dias se alimentando
apenas com pão e mortadela.
Ary tentou primeira a vida como ator
de teatro e cantor. Se destacou na música quando tocou violão e cantou a música
“Pau de Arara”, composta por Vincius de Moraes e Carlos Lyra. A música era
parte da trilha musical de uma peça de teatro e, conta, de forma bem humorada,
as mazelas da dura vida de um retirante nordestino. Elis Regina ouviu a música
e propôs que Ary cantasse ao vivo em seu programa.
Com um terno emprestado lá foi Ary
Toledo par se apresentar no programa da TV Excelsior. Ao chegar e ver o público
com mais de 1.300 pessoas ficou bastante apreensivo e pediu para que Elis
permanecesse o tempo todo ao seu lado para lhe transmitir segurança. Assim foi
feito e a música foi lançada em disco, estourando nas paradas de sucesso como
uma das mais tocadas na época.
Ary Toledo na inauguração da TV Bandeirantes
Ary Toledo, em 1967, em programa na TV Bandeirantes, em São Paulo |
Na inauguração da TV Bandeirantes, em 1967, Ary ganhou um programa exclusivo onde com um banquinho e um violão apresentava suas músicas e contava alguns causos engraçados. Ary foi preso algumas vezes durante o regime da ditadura militar. Em uma de suas apresentações, logo após a decretação do famigerado AI-5 (Ato Inconstitucional número 5), no final do espetáculo ele falou “Quem não tem cão, caça com gato e quem não tem gato, cassa com ato”. Ao terminar o espetáculo já estavam no camarim policiais do DOP (Departamento de Ordem Público) aguardando-o para ser preso.
Em outro ocasião disse ter recebido um
telegrama dos órgãos do Governo Federal proibindo que se falasse o nome do presidente
Ernesto Geisel, mesmo que fosse para falar bem, nos espetáculos. “A Censura era
terrível e muito rigorosa. Implicava com qualquer coisinha”, lembra.
Durante o programa Persona vários artistas prestaram homenagens ao humorista. Entre eles o humorista Marcelo Porchat que revelou ter se inspirado muito em Ary Toledo para compor suas piadas e quadros de humor no teatro e na televisão. Ary agradeceu os elogios e disse que ficava honrado com essas revelações.
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Certidão de casamento de Ary com Marly |
Na Praça É Nossa, no SBT, com Carlos Alberto de Nóbrega |
Ary Toledo fazendo show em teatro |
Imprensa noticiava na década de 60 que a música de Ary tinha sido proibida pela Censura |
Ary Toledo no palco do programa Persona da Tv Cultura, em São Paulo |