Folha2

Conceição de Monte Alegre, o município líder do sertão rebaixado para distrito

Foto de Ivan Evangelista Jr. mostra a única de Conceição de Monte Alegre, uma das primeiras igrejas católicas fincada no sertão paulista 


 Por Nelson Gonçalves, especial para a Folha2

De 1896 a 1933, durante 37 anos o município de Conceição de Monte Alegre reinava praticamente sozinho por uma vasta área territorial que ia desde as divisas da Serra de Agudos, próximas do rio Capivari, até as barrancas do rio Paranapanema, na divisa com o estado do Paraná. Era conhecido como município líder da “boca do Sertão” no estado de São Paulo, de onde partiram os primeiros sertanistas para desbravar novas terras no vale do rio Paranapanema.

Para se ter ideia da extensão territorial e importância do município, cidades como Rancharia, Paraguaçu Paulista, Quatá, Martinópolis e Presidente Prudente faziam parte do território, algumas até como distrito de Conceição de Monte Alegre. Conforme seu território foi sendo ocupado, surgiram inúmeros povoados que foram elevados a distrito e posteriormente se emanciparam, desmembrando-se de Conceição de Monte Alegre.

Conceição de Monte Alegre foi fundada por José Teodoro de Souza em 1873, mineiro de Pouso Alegre, o mesmo que ajudou a fundar, 21 anos antes, a cidade de Campos Novos Paulista, ao adquirir alguns hectares de terra para a instalação dos novos povoados. Junto com José Teodoro de Souza, Manuel Pereira Alvim e José Antônio de Paiva foram os primeiros colonizadores, seguidos pelas famílias Moreira, Carvalho e Vieira a se instalarem nas margens do ribeirão Alegre. Alguns historiadores os relataram como verdadeiros posseiros de terras.

A ocupação, entretanto, não foi pacífica. Ocorreram choques extremamente violentos, com derramamento de sangue, entre os colonizadores, vindos principalmente de Minas Gerais, com os índios coroados, caingangues, xavantes, guaranis e os caiuás. Sete anos, após as primeiras ocupações e muitas brigas e confusões entre índios e os colonizadores, para dar mais segurança ao lugar era criado o Distrito Policial na localidade.

De vila para distrito em 1873

Foto de Ivan Evangelista Jr. mostra outro aspecto recente de Conceição do Monte Alegre, que já foi imperioso município no passado e hoje é distrito de Paraguaçu Paulista


Fac-simile do Diário Oficial publicando a Lei que criava o município

Em 24 de março de 1873, o Decreto nº 142, assinado pelo governador Américo Braziliense, criava o distrito de Conceição de Monte Alegre, subordinado ao município de Campos Novos Paulista. O primeiro ato lavrado no cartório de registro civil foi um óbito, datado em 14 de novembro de 1891. No mês seguinte, em 25 de novembro, foi feito o primeiro registro de casamento. E o de nascimento em 7 de dezembro de 1891.

Não demorou muito para ser elevado à categoria de município. Pela Lei nº 400, de 22 de junho de 1896, aprovada pela Assembleia Legislativa e sancionada pelo governador Ferraz de Campos Salles, o distrito de Conceição de Monte Alegre era elevado à condição de município, pertencente à comarca de Campos Novos Paulista. Nesse mesmo dia também era criado, na região metropolitana de São Paulo, o distrito de São Bernardo do Campo, hoje com 844 mil habitantes. Na justificativa para aprovação da lei, o governador informava que tinha sido procurado em seu gabinete por um grupo de moradores do distrito pedindo a emancipação porque a sede em Campos Novos Paulista ficava muito longe para resolverem seus problemas administrativos.

Decadência do município 

Fac-simile do Diário Oficial mostrando Decreto que transferia Conceição do Monte Alegre como distrito de Cafezal


Foto de Ivan Envagelista Jur. tirada do alto da igreja mostra que Conceição de Monte Alegre não evoluiu muito em seus 150 anos de fundação


Não se sabe muito ao certo como e nem o porquê começou a decadência de Conceição de Monte Alegre. Mas muitos imaginam que tenha sido por falta de influência política e, talvez, por intolerância administrativa. Os trilhos da antiga Estrada de Ferro Sorocabana, iniciados em 1875, chegariam na região por volta de 1915. Era para ter passado próximo de Conceição de Monte Alegre. Mas houve resistências na cessão de terras para o traçado dos trilhos e construção da estação.

O agrônomo Nelcelino Maia, que em 1971 lecionou no Colégio Agrícola de Paraguaçu Paulista, conta ter ouvido de antigos moradores que uma mulher, considerada como “rainha das terras” em Conceição de Monte Alegre, não quis abrir mão de nenhum palmo de chão para ceder de graça à companhia Estrada de Ferro Sorocaba, que após construir vários ramais, passar por trocas de donos e fusões, foi adquirida à beira da falência pelo Governo do Estado em 1892.

 Estação de trem

O distrito de Paraguaçu foi criado sete anos depois da inauguração da estação de trem


A estação de trem de Paraguaçu Paulista era para ser instalada em Conceição de Monte Alegre (foto de José Bellorio)


A estação da Estrada de Ferro Sorocabana foi construída e inaugurada a quase 8 quilômetros de distância da sede do município em 23 de março de 1916 com o nome de “Paraguassu”, denominação dada pela diretoria da estrada de ferro. O jornal “O Estado de S.Paulo” noticiava dias depois que a chegada do primeiro trem de passageiros, vindo de Bernardino de Campos, foi recebido com festa e muitas palmas na estação ferroviária. Estavam presentes na chegada do trem o coronel Albino Garcia, o deputado Ralph Pacheco, o juiz Arthur Milleth da comarca de Santa Cruz do Rio Prado, Pedro de Melo, chefe político de Ipaussu e o padre João Belchior, que celebrou benção a todos os presentes.

A partir da estação é que foi aberto o primeiro loteamento por Domingos Paulino Vieira, conhecido como Minguta. Em 8 de dezembro 1923, já com a denominação de Paraguaçu, é elevada a categoria de distrito pelo governador Whashington Luís, pertencente ao município de Conceição de Monte Alegre, até se emancipar dez anos depois, em 1933, com a denominação de Paraguaçu Paulista. Um ano depois, Paraguaçu ganha o distrito de Borá, que se emancipou em 1964 e ganhou fama por ser o menor, até hoje, município do Estado de São Paulo com 907 habitantes.

O orçamento do Estado para 1928 mostrava investimentos de 44 mil réis em Conceição de Monte Alegre e, como no ano anterior, zero de arrecadação e nem de renda. Com o mesmo valor de investimentos a cidade de Gália tinha, naquela mesma época, previsão para arrecadar 77 mil réis. O índice de mortalidade em 1928, em todo o estado, era de 99,13, o que dava o coeficiente de 14,54 por cada mil habitantes. O coeficiente de mortalidade infantil era elevado, disseminados pelas doenças como malária, maleita, febre amarela e outras doenças infectocontagiosas. Surgia assim, em 1928, o Instituto Butantã para produzir vacinas contra essas doenças.

Em foto Henrique Bellorio a placa, que serve de saudade para antigos moradores marca as próximas estações para onde se dirigiam os trens que paravam em Paraguaçu Paulista

Passageiros desembarcando na estação de trem em Paraguaçu Paulista no ano de 1960 (Arquivo Jornal A Semana)

Passageiros defronte ao trem parado na estação de Paraguaçu Paulista em 1960 (foto de Bernardet Paiola Oliveira)

Fachada da estação de trem de Paraguaçu Paulista, onde hoje funciona o Centro Cultural (foto de Arnaldo Beraldo)


Falta de liderança política 

Muito provavelmente por falta de arrecadação e mais ainda por ausência de liderança política, o interventor federal general Manoel Cerqueira Daltro Filho decretou, em 1933, a extinção do município de Conceição de Monte Alegre que passou a ser distrito de Sapezal, terra onde nasceram as irmãs Galvão, famosa dupla sertaneja. Inexplicavelmente Sapezal deixou de ser distrito de Conceição de Monte Alegre para se tornar município e incorporou sua antiga sede como distrito. Na condição de distrito, Conceição de Monte Alegre perdeu área em 1935 para a criação do município de Rancharia.

A alegria para os moradores do município de Sapezal durou, porém, pouco. Cinco anos depois, em 1938, Sapezal também seria rebaixada de município para distrito. Pelo Decreto 9.774, de 30 de novembro de 1938, assinado pelo interventor federal Adhemar Pereira de Barros, tornava Sapezal e Conceição de Monte Alegre como distritos de Paraguaçu Paulista.

Na condição de distrito, Conceição de Monte Alegre perdeu também terras, em 1944, para a formação dos distritos de Agissê e Gardênia, pertencentes a Rancharia. Em 2003 também perdeu terras para a criação do distrito de Roseta, pertencesse à Paraguaçu Paulista.

Atualmente Conceição de Monte alegre figura nos mapas, assim como Sapezal, apenas como distrito de Paraguaçu Paulista. O local não evolui e não passa, na verdade, de um pequeno vilarejo, onde, segundo o último Censo, não vivem nem 400 moradores.

Leia também matéria sobre o Restaurante Barracão, onde o antigo proprietário, que levava o apelido de Jóia, matou um cliente por ter reclamado da comida. Acesse este link para ler a matéria 

 

Postar um comentário

Postagem Anterior Próxima Postagem

vários

Folha2
Folha2