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A comida do Jóia que, depois do crime, nunca mais ninguém reclamou

 

Pintado na Telha, prato que ganhou fama e causou até morte no restaurante em Conceição de Monte Alegre, distrito de Paraguaçu Paulista

Por Nelson Gonçalves, especial para a Folha2

O distrito de Conceição de Monte Alegre, localizado no município de Paraguaçu Paulista, ganhou fama e se destacou durante anos por toda a região com o restaurante conhecido como “O Barracão”. O restaurante situado ao lado da única igreja católica do lugar tinha esse nome porque na verdade não passava de um simples barracão, com telhas de barro e, no início, na verdade sequer paredes de alvenaria possuía.

No começo, contam os mais antigos, era cercado por bambus, que formavam uma espécie de balaústres de madeira para fechar o espaço bastante rústico que chamava a atenção dos frequentadores. Ali a própria prefeitura de Paraguaçu Paulista fazia banquetes para recepcionar políticos como deputados, senadores e até governadores. Paulo Maluf, Paulo Egydio Martins, Franco Montoro, Orestes Quércia e Fleury Filho foram alguns dos governadores ali recepcionados e puderam saborear o peixe pintado, preparado com molho de camarão e servido sob uma telha ondulada de barro com fogo de espiriteira em baixo, o principal prato da casa. 

Além de ficar com uma apresentação muito legal, o sabor desse peixe é incrível. É um peixe da região, encontrado com fartura nos rios Paranapanema e Paraná e, além de saboroso, reúne muita tradição. Era a base de alimentação dos índios que viviam na região, que os pescavam facilmente com arco e flecha. Com temperos e condimentos trazidos pelos espanhóis e portugueses, acrescido com camarões e rodelas de tomates e pimentão o sabor ficava inigualável.

  Não tinha quem não gostasse desse prato, preparado na cozinha pelo próprio dono do estabelecimento, conhecido por todos pelo apelido de Jóia. Aos domingos a fila dos frequentadores no local era enorme. Vinha gente de todas as cidades da região para experimentar o famoso “pintado na telha”, prato que ganhou fama entre os moradores das cidades de Assis, Maracaí, Tarumã,  Rancharia, Martinópolis, Tupã, Ourinhos e Marília, entre outros municípios vizinhos ou distantes.

O Jóia ganhou esse apelido porque após as pessoas degustarem do prato ele ia até as mesas e costumava perguntar se “estava tudo jóia” e se as pessoas tinham gostado da comida. Esse costume perdurou por anos, Até que por volta do final dos anos 80 lá apareceu certo dia o gerente de um banco para saborear o prato que era a especialidade da casa.  

Após pedir o prato, o gerente resolveu reclamar da comida que naquele dia, ao gosto do freguês, a comida não estava boa. Parecia que o cozinheiro tinha exagerado no sal sobre o peixe. Jóia, que estava cabisbaixo naquela semana porque tinha acabado de sair derrotado nas urnas, após intensa campanha para se eleger vereador, e que na sua mente era certeza absoluta de vitória, chegou até a mesa e como de costume perguntou se estava “tudo jóia”. Ao que o freguês reclamou que não estava nada jóia, porque a comida estava salgada demais. Nisso inconformado com a reclamação do cliente, Jóia foi até a cozinha, pegou seu revólver calibre 38 e descarregou a arma sobre o freguês. Dizem que o crime foi cometido na frente da esposa e dos filhos do gerente. Ele mesmo se integrou, mais tarde, à Polícia. Cumpriu parte da pena recluso e depois, em liberdade provisória, voltou a tocar o restaurante. Mas nunca mais ouviu, mesmo perguntando, nenhuma reclamação da comida.

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O pintado era servido numa telha de barro e acompanhava arroz e salada

Leia também matéria contando a história de Conceição de Monte Alegre, que durante quase 40 anos liderou como município a "boca do sertão" paulista. Em 1933, Conceição foi rebaixada para a categoria de distrito, inicialmente como distrito de Sapeza e depois e até hoje como distrito de Paraguaçu Paulista. Leia a matéria clicando neste link

 

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