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Fusca foi projetado por Porsche e teve Hitler como padrinho

 

Fusca antigo e restaurado é oferecido por R$ 412 mil. Revenda restaurou exemplar de 1949, primeira geração americana, com todas as especificações da época.




A trajetória de sucesso do Volkswagen Sedan, o popular Fusca para nós brasileiros, já foi contada em muitos livros, revistas, programas de televisão e virou até filmes na telona do cinema. Em Portugal é conhecido como Carocha. O chamado “patinho feio” da indústria automobilística foi projeto numa época de grande turbulência mundial e apadrinhado por um dos mais odiados déspotas da história universal.

O carro superou todos os estigmas e adversidades para se tornar o modelo mis popular produzido pela indústria automobilística, além de ter ficado na linha de montagem por mais de um século, mantendo basicamente a mesma configuração.

O mais curioso é que ele foi concebido por Ferdinand Porsche, engenheiro austríaco numa época em que viva desempregado e mais tarde se tornou dono da fábrica que produz automóveis caros e de luxo. Porsche tentou vender, sem sucesso, seu projeto do Fusca para várias fábricas. Entre elas a Mercedes-Benz, onde a proposta não teve aceitação pela diretoria da empresa.

A Editora Online, que já edita a revista Fisca & Cia, lançou a série o Grande Livro do Fusca em dez fascículos de 48 páginas cada, para contar todos os detalhes da verdadeira história do Fusca, que tem alguns exageros e informações conflitantes.

Adolf Hitler foi um dos primeiros, senão o primeiro, a sugerir a produção de um automóvel pequeno, leve, barato e popular. Político ladino, ele aproveitou a difícil situação econômica da Alemanha após a 1ª Guerra Mundial para lançar a proposta de mobilidade para o povo. Na época ele queria se popularizar,  procurava simpatizantes e vendia a ideia na qual cada operário teria direito ao próprio carro. O povo alemão, que sequer tinha dinheiro para a comida, ter um automóvel era um sonho aparentemente inalcançável.

Após o insucesso de uma tentativa de golpe de estado “armado” num boteco, Hitler ficou preso durante nove meses no castelo de Landsberg, com toda mordomia possível. Ali, se dedicou a leitura e leu a autobiografia de Henry Ford, que o deixou fascinado pelos automóveis.

Desenho baseado num besouro

Em 1931, Porsche convenceu o dono da Zundapp, Fritz Neumayer, que fabricava motocicletas a investir na proposta do carro popular. Três protótipos com o desenho assimilado a um besouro, que marcaria uma mudança radical no design de automóveis. O motor, entretanto, apresentou diversos problemas, como dificuldades na refrigeração, que era líquida e apresentava vazamentos. A Zundapp desistiu da produção. NSU, de Fritz von Falkenheim, outro fabricante de motos, sondou Porsche e resolveu bancar o novo projeto com o revolucionário motor refrigerado a ar. Contudo em 1933, de forma surpreendente, a empresa também acabou desistindo da proposta.

Jacob Verlin, antigo companheiro de trabalho de Porsche, se tornara consultor de Hitler e o levou até Berlim para falar com o chanceler. O futuro ditador demonstrou conhecimentos sobre o assunto. Para ele, o carro do povo deveria transportar quatro ou cinco pessoas, alcançar e manter velocidade de 100 km/h e fazer média de 14 km/litro. Além de custar, no máximo, 1.000 marcos alemães. Na ocasião, o DKW Front, equipado com motor bicilíndrico de dois tempos, era o automóvel alemão mais barato e custava 1.600 marcos.

Em 17 de janeiro de 1934, Porsche apresentava seu protótipo a Hitler. O único problema era o custo de produção, que sairia por 1.500 marcos. Como Hitler estava irredutível em relação o preço, Porsche sugeriu um subsídio governamental. Solução surgiu com Hitler convocando a associação que reunia os fabricantes de veículos automotivos para financiar a produção desses veículos. Foi dado a Porsche prazo de dez meses, depois transformados em vinte meses, para desenvolver a produção e realizar os testes necessários. Somente 1937 é que o Volskwagen começou a ser produzido em série. Mas aí a associação pediu 200 marcos de subsídio por unidade. O ditador ficou furioso e decidiu que o governo assumiria então toda a responsabilidade pela produção do Volkswagen.

O governo criou uma empresa, controlada pelo partido Nacionalista Socialista, para o desenvolvimento do carro e levantamento de fundos. Em 1938 o carro foi lançado no mercado. Porsche recomendou seu genro, Anton Piech, casado com sua filha Louise, para administrar a linha de produção da fábrica estatal. O carro era entregue por um sistema que eliminava intermediários, por meio de uma espécie de consórcio. Assim, o carro seria financiado pelo próprio povo.

Hitler colocou a pedra fundamental

Em 26 de maio de 1938, o próprio Hitler colocou a pedra fundamental para a construção de uma nova fábrica para produzir o Volskwagen. Mais de 70 mil pessoas participaram da cerimônia. Mais de 150 mil pessoas entraram no consórcio, que fazia o comprador esperar por quatro anos pata põr as mãos no carro. Mesmo assim, no começo de 1939, mais de 300 mil alemães tinha aderido ao consócio que consistia na compra de selos em quaisquer agências de correios para preencher uma cartela. Porém, no primeiro dia de setembro daquele ano, Hitler ordenou a invasão da Polônia, marcando o início da Segunda Guerra Mundial. Nenhum comprador das cartelas de selo conseguiu então receber seu automóvel e o povo alemão teve de postergar por mais de uma década o sonho do carro próprio.

Guerra

Com início da Guerra, a fábrica, que estava sendo finalizada, foi requisitada para a produção de armamento e de utilitários, montados sobre a plataforma do Fusca, que servia como carro de apoio ao exército nazista.

Em 1945, após o fim da guerra o velho Porsche foi preso pelas tropas aliadas. A fábrica que produzia o Fusca tinha sido bombardeada durante a guerra e sobrava os destroços. Por sorte a cidade onde ela ficou localizada ficou sob o comando dos ingleses que retormaram a produção com uma linha de montagem para versões adaptadas para ambulâncias, furgões de entregas e correios.

No interior, o painel era tão simples quanto possível. Apesar dos muitos componentes longe dos padrões aceitáveis, o Fusca, inexplicavelmente, conquistou adeptos. Em 1947, o modelo foi lançado na Feira do automóvel de Hannover e a produção atingia 8,987 unidades naquele ano. AS primeiras exportações começaram a ser feitas para a Inglaterra, Estados Unidos e Holanda.

 Com a expansão dos negócios, o dirigente inglês da fábrica, Ivan Hirts, tomou duas atitudes fundamentais para a trajetória de sucesso do Fusca. Primeiro, condicionou que toda exportação teria de levar um estoque razoável de peçs sobressalentes, uma regra que ajudou o besouro a manter clientes fieis em diferentes países. Segundo, achou que era hora de contratar um profissional com experiência comprovada na indústria automobilística para dirigir a fábrica. A escolha recaiu sobre o alemão Heinrich Nordholf, que dirigiu a empresa por 20 anos. Ele conseguiu multiplicar a produção por quase dez vezes mais.

Fusca no Brasil

Em 1950, mais precisamente no dia 11 de setembro, os primeiros exemplares do Volkswagen Sedan desembarcavam no porto de Santos, no Brasil. Trazidos da Alemanha para o Brasil no Vapor Defland, os besouros de estilo inusitado e aparência frágil causaram estranhamento no público local, acostumados aos carros pesados e imponentes.

Visto inicialmente como esquisito, barulhento e com motor no lugar do porta-malas, o carrinho chamado pela imprensa brasileira como “tipo econômico”, precisou de algum tempo para convencer os consumidores bastante desconfiados. Uma das dúvidas levantadas pelos brasileiros era se um motor refrigerado a ar suportaria as altas temperaturas do clima tropical. Os primeiros modelos chegavam aqui com o vidro traseiro divido em em duas pequenas janelas.

Em 1953 os automóveis começaram a ser montados aqui no Brasil. O Fusca, carinhoso apelido que o carro recebeu no Brasil e que depois acabou virando nome adotado oficialmente pela Volkswagen quase no final de sua produção. O Fusca era diferente de tudo. Para retirar o motor traseiro do lugar era necessário retirar apenas quatro porcas. Tudo nele era muito simplificado. Qualquer mecânico sabia consertar e trocar as peças sem quaisquer problemas. Nada de radiador, de bomba d’água e mangueiras, como em outros veículos e que só dão problemas.

Em 1979, a Volkswagen lançou o Fusca 1300 L, motor mais potente, e vinha com lanternas arredondadas, que popularmente ficaram conhecidas como Fafá em alusão aos peitos da cantora Fafá de Belém. Em 1970 chegava no mercado o motor 1600 e surgiram uma série de outros carros derivados do mesmo motor, mecânica e plataforma de chassis, tais como o VW SP 2 e o karmanguia, que só transportavam duas pessoas, a Brasília, o TL, o Zé do Caixão, a Variant 1 e 2, a Kombi e os modelos esportivos Puma, Miura e Envemo Super 90.

Em agosto de 1993, o então presidente Itamar Franco, autor da ideia, reinaugurou a linha de montagem do Fusca na fábrica da VW, em São Bernardo do Campo, no ABC Paulista. Lá foi produzido o Fusca Itamar, um modelo básico com motor 1600 movido a álcool..


Família do Fusca: veículos montados usando o mesmo motor e a mesma chassis


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