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A trajetória de sucesso do
Volkswagen Sedan, o popular Fusca para nós brasileiros, já foi contada em muitos
livros, revistas, programas de televisão e virou até filmes na telona do cinema. Em Portugal é conhecido como Carocha. O chamado “patinho
feio” da indústria automobilística foi projeto numa época de grande turbulência
mundial e apadrinhado por um dos mais odiados déspotas da história universal.
O carro superou todos os
estigmas e adversidades para se tornar o modelo mis popular produzido pela
indústria automobilística, além de ter ficado na linha de montagem por mais de
um século, mantendo basicamente a mesma configuração.
O mais curioso é que ele
foi concebido por Ferdinand Porsche, engenheiro austríaco numa época em que
viva desempregado e mais tarde se tornou dono da fábrica que produz automóveis caros
e de luxo. Porsche tentou vender, sem sucesso, seu projeto do Fusca para várias
fábricas. Entre elas a Mercedes-Benz, onde a proposta não teve aceitação pela
diretoria da empresa.
A Editora Online, que já
edita a revista Fisca & Cia, lançou a série o Grande Livro do Fusca em dez fascículos
de 48 páginas cada, para contar todos os detalhes da verdadeira história do Fusca,
que tem alguns exageros e informações conflitantes.
Adolf Hitler foi um dos
primeiros, senão o primeiro, a sugerir a produção de um automóvel pequeno,
leve, barato e popular. Político ladino, ele aproveitou a difícil situação econômica
da Alemanha após a 1ª Guerra Mundial para lançar a proposta de mobilidade para
o povo. Na época ele queria se popularizar, procurava simpatizantes e vendia a ideia na
qual cada operário teria direito ao próprio carro. O povo alemão, que sequer
tinha dinheiro para a comida, ter um automóvel era um sonho aparentemente
inalcançável.
Após o insucesso de uma
tentativa de golpe de estado “armado” num boteco, Hitler ficou preso durante
nove meses no castelo de Landsberg, com toda mordomia possível. Ali, se dedicou
a leitura e leu a autobiografia de Henry Ford, que o deixou fascinado pelos automóveis.
Desenho baseado num besouro
Em 1931, Porsche convenceu
o dono da Zundapp, Fritz Neumayer, que fabricava motocicletas a investir na
proposta do carro popular. Três protótipos com o desenho assimilado a um
besouro, que marcaria uma mudança radical no design de automóveis. O motor,
entretanto, apresentou diversos problemas, como dificuldades na refrigeração,
que era líquida e apresentava vazamentos. A Zundapp desistiu da produção. NSU,
de Fritz von Falkenheim, outro fabricante de motos, sondou Porsche e resolveu
bancar o novo projeto com o revolucionário motor refrigerado a ar. Contudo em
1933, de forma surpreendente, a empresa também acabou desistindo da proposta.
Jacob Verlin, antigo
companheiro de trabalho de Porsche, se tornara consultor de Hitler e o levou
até Berlim para falar com o chanceler. O futuro ditador demonstrou
conhecimentos sobre o assunto. Para ele, o carro do povo deveria transportar
quatro ou cinco pessoas, alcançar e manter velocidade de 100 km/h e fazer média
de 14 km/litro. Além de custar, no máximo, 1.000 marcos alemães. Na ocasião, o
DKW Front, equipado com motor bicilíndrico de dois tempos, era o automóvel
alemão mais barato e custava 1.600 marcos.
Em 17 de janeiro de 1934,
Porsche apresentava seu protótipo a Hitler. O único problema era o custo de
produção, que sairia por 1.500 marcos. Como Hitler estava irredutível em
relação o preço, Porsche sugeriu um subsídio governamental. Solução surgiu com
Hitler convocando a associação que reunia os fabricantes de veículos automotivos
para financiar a produção desses veículos. Foi dado a Porsche prazo de dez
meses, depois transformados em vinte meses, para desenvolver a produção e
realizar os testes necessários. Somente 1937 é que o Volskwagen começou a ser
produzido em série. Mas aí a associação pediu 200 marcos de subsídio por
unidade. O ditador ficou furioso e decidiu que o governo assumiria então toda a
responsabilidade pela produção do Volkswagen.
O governo criou uma
empresa, controlada pelo partido Nacionalista Socialista, para o desenvolvimento
do carro e levantamento de fundos. Em 1938 o carro foi lançado no mercado.
Porsche recomendou seu genro, Anton Piech, casado com sua filha Louise, para
administrar a linha de produção da fábrica estatal. O carro era entregue por um
sistema que eliminava intermediários, por meio de uma espécie de consórcio.
Assim, o carro seria financiado pelo próprio povo.
Hitler colocou a pedra fundamental
Em 26 de maio de 1938, o
próprio Hitler colocou a pedra fundamental para a construção de uma nova
fábrica para produzir o Volskwagen. Mais de 70 mil pessoas participaram da
cerimônia. Mais de 150 mil pessoas entraram no consórcio, que fazia o comprador
esperar por quatro anos pata põr as mãos no carro. Mesmo assim, no começo de
1939, mais de 300 mil alemães tinha aderido ao consócio que consistia na compra
de selos em quaisquer agências de correios para preencher uma cartela. Porém, no
primeiro dia de setembro daquele ano, Hitler ordenou a invasão da Polônia,
marcando o início da Segunda Guerra Mundial. Nenhum comprador das cartelas de
selo conseguiu então receber seu automóvel e o povo alemão teve de postergar
por mais de uma década o sonho do carro próprio.
Guerra
Com início da Guerra, a
fábrica, que estava sendo finalizada, foi requisitada para a produção de armamento
e de utilitários, montados sobre a plataforma do Fusca, que servia como carro
de apoio ao exército nazista.
Em 1945, após o fim da
guerra o velho Porsche foi preso pelas tropas aliadas. A fábrica que produzia o
Fusca tinha sido bombardeada durante a guerra e sobrava os destroços. Por sorte
a cidade onde ela ficou localizada ficou sob o comando dos ingleses que
retormaram a produção com uma linha de montagem para versões adaptadas para
ambulâncias, furgões de entregas e correios.
No interior, o painel era
tão simples quanto possível. Apesar dos muitos componentes longe dos padrões
aceitáveis, o Fusca, inexplicavelmente, conquistou adeptos. Em 1947, o modelo
foi lançado na Feira do automóvel de Hannover e a produção atingia 8,987
unidades naquele ano. AS primeiras exportações começaram a ser feitas para a
Inglaterra, Estados Unidos e Holanda.
Fusca no Brasil
Em 1950, mais precisamente
no dia 11 de setembro, os primeiros exemplares do Volkswagen Sedan desembarcavam
no porto de Santos, no Brasil. Trazidos da Alemanha para o Brasil no Vapor
Defland, os besouros de estilo inusitado e aparência frágil causaram estranhamento
no público local, acostumados aos carros pesados e imponentes.
Visto inicialmente como
esquisito, barulhento e com motor no lugar do porta-malas, o carrinho chamado
pela imprensa brasileira como “tipo econômico”, precisou de algum tempo para
convencer os consumidores bastante desconfiados. Uma das dúvidas levantadas
pelos brasileiros era se um motor refrigerado a ar suportaria as altas
temperaturas do clima tropical. Os primeiros modelos chegavam aqui com o vidro
traseiro divido em em duas pequenas janelas.
Em 1953 os automóveis
começaram a ser montados aqui no Brasil. O Fusca, carinhoso apelido que o carro
recebeu no Brasil e que depois acabou virando nome adotado oficialmente pela Volkswagen
quase no final de sua produção. O Fusca era diferente de tudo. Para retirar o
motor traseiro do lugar era necessário retirar apenas quatro porcas. Tudo nele
era muito simplificado. Qualquer mecânico sabia consertar e trocar as peças sem
quaisquer problemas. Nada de radiador, de bomba d’água e mangueiras, como em outros
veículos e que só dão problemas.
Em 1979, a Volkswagen lançou o Fusca 1300 L, motor mais potente, e vinha com lanternas arredondadas, que popularmente ficaram conhecidas como Fafá em alusão aos peitos da cantora Fafá de Belém. Em 1970 chegava no mercado o motor 1600 e surgiram uma série de outros carros derivados do mesmo motor, mecânica e plataforma de chassis, tais como o VW SP 2 e o karmanguia, que só transportavam duas pessoas, a Brasília, o TL, o Zé do Caixão, a Variant 1 e 2, a Kombi e os modelos esportivos Puma, Miura e Envemo Super 90.
Em agosto de 1993, o então
presidente Itamar Franco, autor da ideia, reinaugurou a linha de montagem do
Fusca na fábrica da VW, em São Bernardo do Campo, no ABC Paulista. Lá foi
produzido o Fusca Itamar, um modelo básico com motor 1600 movido a álcool..
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Família do Fusca: veículos montados usando o mesmo motor e a mesma chassis |