Pelo menos oito ônibus fretados de empresas da região de Rio Preto levaram manifestantes para participar dos atos antidemocráticos, que depredaram as sedes do Congresso Nacional, as Suprema Corte e do Palácio do Planalto em Brasília. Classificados como terroristas pelas autoridades governamentais, 46 pessoas viajaram em um ônibus fretado da empresa São Matheus – Bady Bassitt Transportes e Turismo, que saiu na última sexta-feira defronte a sede do Tiro de Guerra, de São José do Rio Preto. A volta estava programada para terça-feira, mas o ônibus foi apreendido pela Polícia.
A direção da empresa apresentou documento que registra como contratante do veículo João Carlos Baldan, morador em São José do Rio Preto. O ônibus foi um dos 87 que o Supremo Tribunal Superior mandou apreender após a invasão e depredação dos prédios. Desse montante, 29 deles, quase um terço, tem placas registradas em cidades do interior paulista.
A empresa de turismo São Matheus Bady Bassitt, mas que possui sede no Distrito Industrial Adail Vetorazzo em São José do Rio Preto, pediu a liberação do veículo, argumentando que atuou como “mera prestadora de serviços” para levar passageiros a Brasília. O ônibus com placas LSN-3551 é avaliado em R$ 200 mil
O custo da locação foi de R$ 11 mil. Em documento apresentado à Justiça para a liberação do ônibus, a empresa alega não saber informar a relação com os nomes dos passageiros e informou ter recebido R$ 6 mil adiantado como parte do pagamento do fretamento.
Figura conhecida pela Justiça
João Carlos Baldan ameaçou o ministro do STF Alexandre de Moraes (foto: Divulgação Redes Sociais)
João Carlos Baldan que alugou o ônibus teve seus bens bloqueados pela STF. O nome dele figura na relação de 52 pessoas divulgada nesta semana que tiveram bens bloqueados para garantir, se condenados, o ressarcimento dos danos causados ao patrimônio público na sede dos Três Poderes.
A reportagem da Folha2, assim como jornalistas do Diário da Região e do UOL tentaram contato com João Carlos Baldan mas não conseguiram localizá-lo. O nome dele já é figura conhecida da Justiça por movimentos relacionados a atos de apoio ao ex-presidente Jair Bolsonaro. Ele foi denunciado pelo Ministério Público de São José do Rio Preto por protestos em frente ao prédio onde mora o prefeito Edinho Araújo (MDB) no período de lockdown em 2021. O protesto na época causou incômodos a toda vizinhança do local e não foi bem visto por parte da população local.
Baldan, segundo apurou a reportagem do site UOL, tem participado de atos bolsonaristas desde março de 2020. Ele esteve em manifestações a favor do presidente e contra as medidas de combate à Covid-19 decretada por prefeitos e pelo governador João Dória (PSDB). No ano passado, dias antes do feriado de 7 de setembro, ele adesivou sua própria caminhonete com a inscrição “Supremo é o povo”, para convocar manifestantes à Brasília em atos que pediam intervenção militar e a volta da ditadura.
Ao publicar uma das fotos do veículo no Facebook, ele fez uma ameaça ao ministro do STF escrevendo: “Aí vagabundo Alexandre de Moraes (sic) espera aí se tu é macho mesmo vagabundo. Estou chegando e não vai ser para conversar não”. Ele também fez fotos tendo uma bandeira do Brasil ao fundo para mostrar que estava armado com um revólver, com caráter estritamente intimidativo.
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Golpístas fotografaram e postaram fotos nas redes sociais, produzindo provas contra si mesmos |
Outros ônibus da região
Pelo menos outros dois ônibus de empresas da região de Rio Preto também foram apreendidos pela Polícia Rodoviária Federal (PRF). Entre eles estavam dois da empresa Astra Agência de Turismo, que transportou manifestantes de Mirassol, Fernandópolis e Votuporanga.
A Astra apresentou esclarecimentos no Supremo e afirma que apenas ofereceu o serviço, e repudio os atos violentos praticados pelos manifestantes considerados como terroristas pelas autoridades. Diversas autoridades e lideranças políticas se posicionaram classificando os atos como atentado de golpe e classificando os participantes como terroristas.
Segundo documento apresentado pela Astra à Justiça, ela atua como organizadora de viagens e fretamento de ônibus para turismo e “não tem qualquer envolvimento com os lastimáveis acontecimentos que mancharam a nossa bandeira nacional”.
Presos
Na relação de presos da região de Rio Preto, atualizada até a última quarta-feira, constam nomes de seis pessoas que estiveram participando dos de vandalismo antidemocráticos em Brasília no último domingo. São elas: Luciano dos Santos Rossi, Ray Aparecido Travassos, Gustavo Barco Ravenna e Rafael Antônio Ribeiro Meloze, todos moradores de Mirassol. Também constam na lista Jair Domingues de Morais, de Fernandópolis, e Kingo Takashashi, de Votuporanga.
A relação dos presos vem sendo atualizadas diariamente ao longo do dia. Os detidos que provocaram o quebra-quebra nos prédios públicos estão sendo identificados, com fotografia e colhimento de impressões digitais e de DNA. Inicialmente estão ficando em um ginásio da Polícia Federal em Brasília. Conforme estão sendo realizadas as audiências de custódio alguns estão sendo liberados e outros já encaminhados para as cadeias.
Todos os homens presos estão sendo enviados para o Centro de Detenção Provisória da Papuda e as mulheres encaminhadas para unidade prisional da Colmeia. Ao chegar nos presídios, todos recebem um colchão enrolado para dormirem. Além disso, recebem também um uniforme de preso e um kit de higiene contendo sabonete, creme dental e escova. No caso das mulheres está sendo disponibilizado absorventes.
As celas têm tamanhos diferentes. Por isso, cada uma recebeu um número diferente de detentos. Dentro de cada cela há um banheiro disponível. As camas são de concreto, sem qualquer tipo de artefato que possa ser retirado. Os presos considerados como terroristas, segundo informou a Agência Estado, estão separados dos demais nos presídios da Papuda e da Colméia. Dentro da cadeia, eles não têm acesso a celular. Todos aparelhos foram recolhidos e devem passar por perícias. E isso tem deixado muitos amigos daquelas pessoas que estão presas sem dormir a noite.
Ao chegar na prisão, os golpistas passaram por uma triagem médica. Uma fora-tarefa foi montada às pressas para fazer esses exames. Todos os presos estão sendo, obrigatoriamente, vacinados contra doenças como a Covid-19. Ainda segundo a Agência Estado apurou eles serão tratados iguais aos demais detentos que já estavam nessas unidades prisionais. Receberão quatro alimentações por dia, incluindo café da manhã, almoço, café da tarde e jantar. Por razões de segurança, cada detento recebeu apenas o colchão para dormir, sem cobertor e travesseiros, peças que são proibidas dentro das celas pois podem ser usadas para atos de violência.
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Golpistas invasores do prédio do STF fizeram baderna e vandalismo |