A quantidade de cartas recebidas pelos programas de rádio serviam também para atestar a audiência das emissoras |
Num tempo em que não
existia celular, nem internet e telefone em casa era coisa rara, as cartas eram
o meio de comunicação entre os ouvintes e as emissoras de rádio. A jornalista
Jaqueline Silva Casanova trabalhou no auge da Rádio Independência, entre o final dos anos 80 e começo da década de 90, e
guardou, com muito carinho, várias dessas relíquias: as cartas recebidas das
ouvintes.
Jaqueline recebeu milhares
de cartas ao longo de sua carreira no rádio e preservou em seus arquivos
pessoais cerca de 500 cartas de ouvintes. “Como jornalista eu não poderia
simplesmente agora desfazer dessas cartas”, afirma Jaqueline, que resolveu,
mais de 30 anos depois, ir atrás de todas essas ouvintes para resgatar essas
histórias, publicar um livro e produzir uma série de programas para um documentário
que já começou a ser exibido pela TV Câmara de São José do Rio Preto.
Em entrevista, durante a
abertura do primeiro episódio da série na TV Câmara, Jaqueline contou ter
percorrido cerca de 500 quilômetros dentro de Rio Preto para encontrar suas
antigas ouvintes. “O mais sofrido foi enfrentar o sol da cidade”, informou, acrescentando
que encontrou histórias muito emocionantes.
O jornalista Alexandre
Gama, diretor da TV Câmara, lembra no programa que a Rádio Independência foi uma emissora “lendária e
mitológica” para São José do Rio Preto. A emissora, inaugurada em 1962 por
Maurício Goulart, fechou em 1995, quando foi vendida à Igreja Adventista do
Sétimo Dia.
No primeiro programa da
série são mostradas as cartas da família Salvador. A mãe Lourdes Garcia Salvador,
que já faleceu, escrevia cartas junto com as filhas gêmeas Kátia e Karla,
quando elas tinham 12 anos. Assim como elas, muitas donas de casa nasceram,
cresceram e ainda continuam ouvindo rádio. Uma das irmãs contou que até o
cachorro da família ouvia a rádio: “Tínhamos um cachorro da raça doberman, que
parecia que ele até entendia, e chorava quando escutava a música de prefixo do
programa ‘Hora Fantástica’ da Rádio Independência”.
Durante cinco anos, de
1988 a 1992, Jaqueline apresentou o programa “Forno & Fogão”, líder de
audiência no horário, pela Rádio Independência. Um detalhe importante é que as
cartas eram todas manuscritas, com caligrafias impecáveis. Todas traziam
receitas de doces, salgados, sorvetes e de diferentes comidas para disputar os prêmios oferecidos pelos patrocinadores do programa.
Entre os fãs do programa
de culinária também havia alguns homens. Um deles era o misterioso Paulo Roberto
Leandro, que se intitulava como “o cozinheiro fantasma” e além das receitas
escrevia também em suas cartas a lista de ingredientes necessários para o
preparo do prato sugerido. Uma das receitas dele, que ainda vale a pena ser
preparada, é o de fígado de frango com cerveja.
Depoimentos
O documentário e o livro trazem
também depoimentos de antigos
funcionários da Rádio Independência como o operador de som Altair Marciano, o famoso
Pacote como se tornou conhecido em toda região. Pacote lembra algumas histórias
pitorescas como o dia em que a apresentadora do programa bateu com sua moto
contra o muro de uma residência e chegou chorando na emissora. “Mas ela foi
muito profissional e apresentou o programa normalmente”, lembra.
O primeiro episódio do documentário “Cartas da Rádio Independência” já está no ar e pode ser assistido nas redes sociais da TV Câmara, que funciona pelo canal 4 da NET ou em sinal aberto e digital pelo 28.2 (UHF).
Assista clicando aqui o primeiro episódio do documentário "Cartas da Rádio Independência" levado ao ar pela TV Câmara.
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As irmãs Karla e Kátia reencontram com a apresentadora do programa "Forno & Fogão", Jaqueline Casanova, de quem eram fãs desde crianças |
Uma das cartas recebidas pela apresentadora em seu programa na Rádio Independência de São José do Rio Preto |
Em todas as cartas a caligrafia eram perfeitas |
Jornalista Alexandre Gama, diretor da TV Câmara, entrevista a jornalista Jaqueline Casanova durante o programa "Documento Rio Preto" |
Rádio Independência ocupava um andar inteiro do Edifício Galeria Bassitt |
Jaqueline Silva Casanova relembra histórias do rádio em livro e programa |
Altair Marciano, o Pacote, fez parte da história do rádio e dá depoimento para o livro e documentário produzido por Jaqueline Casanova |