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A vida imita a arte muito mais do que a arte imita a vida

 
Dois presidentes com manias de poder


A vida imita a arte

·       * Nelson Gonçalves


A vida imita a arte muito mais do que a arte imita a vida. A frase atribuída ao escritor irlandês Oscar Wilde parece estar relacionada aos fatos atuais. Sem querer entrar no mérito dessa guerra deflagrada entre a Rússia e Ucrânia é interessante saber e conhecer a vida, antes do ingresso na política, dos presidentes desses dois países. Ambos formados em Direito, com excelente retórica e passagens como ator na telona dos cinemas.

 Volodymyr Zelensky até o início de 2019 vivia como humorista de sucesso na Ucrânia. Representava justamente um presidente em “Servo do Povo”, programa de sátira política criado e produzido por ele. Posteriormente o nome do programa virou o nome do seu partido. O enredo mostrava um professor, grosseiro e revoltado, que inesperadamente era eleito presidente da Ucrânia, após viralizar vídeo em que ele aparecia como herói contra a corrupção, empunhando duas metralhadoras para atirar contra todos os políticos que faziam parte do parlamento do seu país.

 Quando ele anunciou sua candidatura à presidente, no começo poucos o levaram a sério. Seu estilo irreverente, com fortes críticas à velha política e discurso anticorrupção, a campanha foi realizada quase como uma grande piada e humilhação aos candidatos tradicionais, principalmente nas redes sociais que ele dominava.

 Com propostas extremamente vagas, assumindo a tática de que “se não tem promessa, não tem decepção”, Zelensky foi eleito, sem qualquer experiência administrativa, na onda contra a classe política, com o chamado voto de protesto e com 73% dos votos no segundo turno.

 Assim o comediante chegou ao poder e com ele se deslumbrou. Logo em sua posse, dissolveu o parlamento para renová-lo e não ter oposição contra si. A transcrição de uma ligação telefônica vazada dele com Donald Trump, onde rasgava elogios ao norte-americano, que o pressionava para investigar a empresa ucraniana de gás Burisma, na qual trabalhou o filho do presidente Joe Biden, surpreendeu os críticos. Em certo momento o presidente ucraniano dizia ter aprendido muito com Trump e que ele foi vital para sua vitória nas eleições.

 Zelensky formou-se em Direito, mas nunca trabalhou na área. Atuou em oito filmes e participou da versão ucraniana “Dança dos Famosos”.

 Vladimir Putin está no seu quarto mandato como presidente da Rússia. É um megalomaníaco pelo poder. Está no governo desde 1991, quando Boris Ieltsin o nomeou como primeiro-ministro e depois o indicou como sucessor. No final de 2007, após dois mandatos seguidos, não podendo se reeleger, Putin indicou como presidente seu amigo e primeiro-ministro Demitri Medverdey, que o nomeou como primeiro-ministro e novamente para sucedê-lo ao cargo, para o qual foi reeleito em 2018.

 Putin estudou Direito e após concluir o curso foi contratado para trabalhar na KGB, o serviço de espionagem secreto da antiga União Soviética. Morou por seis anos na Alemanha, onde nasceu uma de suas duas filhas. Como agente do serviço secreto ele atuava como ator, interpretando na vida real personagens para a espionagem. Depois, já como político, aparece interpretando, ele mesmo, em oito documentários produzidos para o cinema internacional.

 O ex-agente secreto acumulou poder como nenhum outro antecessor desde a morte de Stalin. Vários assassinatos de jornalistas, oposicionistas e defensores dos direitos humanos, no país e no estrangeiro, foram atribuídos a figuras do topo de sua administração. Em 2006, o governo russo aprovou leis autorizando seus agentes a matar os “inimigos do Estado” no estrangeiro. O próprio Putin foi bem claro em declarações na televisão estatal. “Os traidores vão morrer. Confiem em mim”, afirmou ele, em alto e bom som para que todos ouvissem.

 Putin é conhecido e por deixar-se ser fotografado como praticante de artes marciais. Pratica sambo e judô, onde é faixa preta. Cultiva deliberadamente a imagem de atleta e de super-herói. Parece estar, cada vez mais, fascinado pelo poder.

 Divorciou-se em 2013 da esposa Ludmila. E desde então existem diversos rumores de envolvimentos com outras mulheres, especialmente atrizes e atletas. Opositores e a revista norte-americana Wired o acusam de possuir palácios, aviões e imensa fortuna, com milhões de dólares, em seu poder.

 Ele também produziu inúmeras declarações atrapalhadas e gafes verbais que ficaram mundialmente conhecidas. Um dos seus bordões, conhecidos como putinismos, é o “arrebentar na latrina”, quando prometeu acabar com os terroristas onde quer que eles estivessem, incluindo os banheiros públicos.

 Integrantes do governo dos Estados Unidos acusaram-no de liderar interferência russa, com o disparo de notícias falsas contra Hillary Clinton, na eleição presidencial que elegeu Donald Trump. Alegação que tanto Trump quanto Putin frequentemente negam e criticam.

 Enfim, parece uma trama de ficção pelo poder. Mas é totalmente real! E já vimos esse filme antes, inúmeras vezes.

*Nelson Gonçalves é jornalista em São José do Rio Preto e editor do jornal Folha do Povo


Vídeo interpretado por 
 Zelensky na época em que atuava no cinema e na televisão e aparece empunhando metralhadoras para atirar e matar 

 

 





 

 


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