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Em 48 horas a covid mata três profissionais da imprensa na região de Rio Preto

 

 


Em 48 horas três profissionais da Imprensa da região de São José do Rio Preto faleceram por covid: Leandro Tavares de 36 anos, Sérgio Guzzi de 44 anos e Márcio Correia de 55 anos. Os dois primeiros eram da mesma turma da faculdade de Jornalismo.

Leandro faleceu nas primeiras horas desta sexta-feira (18). Ele trabalhou em jornais de Itapevi e de São José do Rio Preto, além das prefeituras de Adolfo e Sales. Ultimamente cursava o terceiro ano de Medicina na Universidade Unibol, em Santa Cruz de La Sierra, na Bolívia. Veio às pressas no último dia 21 ao Brasil para socorrer a mãe, que ficou infectada com covid e precisou ser intubada na UTI (Unidade de Terapia Intensiva). Além da mãe, Leandro como estudante de Medicina socorreu o pai, as duas irmãs e um cunhado. Todos precisaram ser hospitalizados por causa do vírus da covid-19.

Ele testou positivo no dia 25 de maio e passou mais de duas semanas internado na UTI do HB (Hospital de Base) de Rio Preto lutando contra essa doença. Leandro, além de jovem, e tomar todos os cuidados os protocolos recomendados pelas autoridades de saúde, era também atleta. Jogava futebol aos finais de semana e fazia academia.

Sérgio Guzzi

O jornalista Sérgio Guzzi foi criador e editor do site "018 News"


O jornalista Sérgio Guzzi, natural de Pindorama, faleceu na sexta-feira às 22h30, também vítima de complicações da covid. Estava internado na Santa Casa de Araçatuba desde o dia 29 de maio e, desde o dia 8 de junho ficou sedado e intubado, sob ventilação mecânica.

Guzzi ou Sérginho, como era chamado pelos amigos, testou positivo para covid-19 mesmo seguindo todos os protocolos sanitários da maneira mais rígida possível. Sem comorbidades, ele desenvolveu o modo mais grave da doença.

Guzzi atuou em diversos veículos de comunicação, como a antiga Folha de Rio Preto, Dia & Noite, Folha da Região de Araçatuba e no jornal Bom Dia Bauru, onde foi um dos editores-chefes. Seu trabalho sempre foi focado no jornalismo investigativo e na cobertura política.

O editor-chefe da Folha do Povo, Nelson Gonçalves, lembra que o levou para trabalhar em Araçatuba. “O Sérgio Guzzi tinha levado um ‘balão’ de um colega aqui. Estava desempregado. Chorando achando que o mundo tinha acabado. Aquilo nos chocou e sugerimos a ele para nos acompanhar no dia seguinte em uma viagem à Araçatuba. Iriamos buscar uns impressos na gráfica da Folha da Região”, lembra Gonçalves.

“E deu certo porque a Folha da Região tinha sido notificada, por passar de 100 funcionários, teria que abrir vaga para deficientes. E o Serginho mancava em uma perna. O Wilson Marine era editor e nos perguntou se endossávamos. Diante da lógica resposta positiva foi contratado para começar a trabalhar no dia seguinte”.

A jornalista Elaine Medalhano se manifestou pelas redes sociais sobre Sérgio Guzzi: “Meu amigo do peito. Colega de turma, amigo fraterno. Estamos muito tristes”. O jornalista Ruy Sampaio, que ministrou aulas como professor na faculdade de Jornalismo aos dois alunos, lamentou que ambos tinham planos, projetos e toda uma “longa estrada devida pela frente”. E aproveitou para criticar o presidente Jair Bolsonaro, negacionista desde o início da pandemia em relação à doença e que vem dando seguidos maus exemplos, estimulando a população a não se vacinar, a não usar máscaras e a se aglomerar.

 Guzzi seguiu carreira na Folha da Região onde se tornou editor e se casou, em 2008, com uma colega de trabalho, a também jornalista Silvia Helena. Além da esposa, deixou dois filhos e uma legião de amigos e fãs de seu trabalho. Ele foi sepultado neste sábado no jazigo da família no cemitério da Paz em São José do Rio Preto.

Duas últimas matérias



As duas últimas matérias do jornalista Sérgio Guzzi foram sobre a morte do empresário Carlos Biteli, por covid. Biteli era dono da Padaria Bandeirantes em Araçatuba, um dos mais tradicionais pontos de encontro da cidade, e faleceu por complicações da covid na UTI do hospital da Unimar em Marília.

 Guzzi também publicou, no dia 13 de maio, matéria informando que o professor araçatubense Renato Janine Ribeiro, que ocupou o cargo de ministro da Educação entre abril e setembro de 2015, tinha pedido ao STF (Supremo Tribunal Federal) que a Corte determinasse e a realização de perícia psiquiátrica para atestar a insanidade mental do presidente da República Jair Bolsonaro (sem partido). O ex-ministro Renato Ribeiro pediu os exames para comprovar a “inaptidão para a gestão da saúde e de outras áreas necessárias ao enfretamento de covid”.

“A interdição se pede, não por crimes, mas pela incapacidade do presidente de entender o que é certo ou errado, ou seja: ele, por incapacitado, haverá de ter a extensão de sua imputabilidade verificada”, escreveu o ex-ministro em seu pedido ao SFT..

 Márcio Correia

 

Márcio Correa, um fotografo e poeta que se vai por causa da covid

Outro jornalista que também faleceu por covid neste sábado (18) pela manhã, foi o repórter-fotográfico Márcio Correa. Nascido em São José do Rio Preto, Márcio iniciou sua carreira em 1988 no Jornal dos Bairros, do jornalista e historiador Lelé Arantes.

Para Lelé Arantes, Márcio Correa era um típico repórter-fotográfico poeta. “Era uma pessoa tranquila e um cara muito calmo. Ele batia bem as fotografias da mesma forma que escrevia”, relatou Lelé, sem esquecer de muitas das façanhas que vivenciou junto com o amigo.

Em uma delas, conta Lelé, que foram fazer uma sessão de fotos num restaurante muito famoso ali na rua 15 de Novembro, em Rio Preto. “O pessoal do restaurante preparou uma mesa com pernil de cabrito, que era a especialidade da casa. O Márcio bateu todas as fotos que precisávamos. E depois do trabalho, almoçamos ali, comendo o pernil de cabrito que os caras prepararam. Só que chegando em casa o Márcio descobriu que bateu todas aquelas fotos sem filme na máquina. Perdemos as fotos e perdemos também o cliente, pois o dono do restaurante não quis mais fazer um outro pernil de cabrito para refazermos as fotos”. Lelé acrescenta que continuou amigo do Márcio Correa por todos esses anos. "Não contamos essa história para denegrir e sim para acentuar o lado poético do Márcio".

O jornalista Nelson Gonçalves também conta outra lembrança hilária acontecida com o Márcio Correa. “O Mário Covas estava em campanha para presidente da República”, lembra. “Trabalhávamos no jornal ‘A Notícia’ e saímos às pressas para acompanhar o desembarque do Covas no aeroporto. Subimos no carro do jornal e o motorista nos levou até o aeroporto. Na porta do aeroporto, assim que descemos e o carro foi embora. Ele me fala que tinha esquecido a máquina fotográfica no jornal. Depois de passado uns tempos, nós dois demos muitas risadas desse episódio”.

O repórter-fotográfico Claudio Laos, com passagens por importantes veículos de comunicação, afirma que Márcio foi o seu “professor de fotografia”. “Tudo o que sei de fotografia, devo ao Márcio Correa”, afirmou. “Eu também peguei covid. Essa doença é devassadora”.

O presidente da Associação dos Fotográficos e Cinegrafistas de Rio Preto, Jorge Maluf, destaca que Márcio era também professor de fotografia em universidades e ensinou muita gente a fotografar. “O que ele sabia não guardava para ele, ensinava aos outros e deixou rastros de boas amizades”.

Pouco antes de falecer, Márcio escreveu em sua página no Facebook: “A covid me pegou. A cada dia, um sintoma diferente se estabelece. A dor de cabeça intermitente e a febre em 38 graus”.

1 Comentários

  1. Jesus em sua misericórdia, conforta todos os familiares e amigos das vítimas! Amém Jesus!

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