A
falta de sensibilidade de um médico especialista sobre o tratamento da filha,
com pouco mais de 4 anos, foi o que motivou o auditor fiscal Aparecido Ferreira
Pacheco, junto com a esposa Márcia, a procurar alternativas de cura por todo o País e fundar em São José do
Rio Preto a Associação Renascer. O médico, para desespero dos pais, disse que
criança não ia falar e nem andar e que era bom eles se acostumarem com a
situação.
A
filha possuia Angiologia de Corpo Caloso (ACC) parcial, que é uma má formação caracterizado
pela ausência (agenesia) do corpo caloso no cérebro, o que faz apresentar
dificuldades que evidenciam a coordenação e atraso no desenvolvimento
psicomotor. Entre uma e três crianças a cada mil nascimentos podem ser
acometidas com o problema.
Pacheco
conta que ele e a esposa saíram desolados da consulta. “Sai do consultório, batendo
a porta e quase levei a maçaneta da porta”. Descobriu, porém, junto com outros
pais de crianças com múltiplas deficiências um método de reabilitação,
pesquisado e implantado na Filadélfia, nos Estados Unidos, que vinha sendo
utilizado por uma clínica particular no Rio de Janeiro.
O
método era caro e exigia a atenção dos pais e de diversos profissionais.
Funcionou para a filha Juliana. Hoje com 32 anos, forte e saudável, ela entende e se comunica muito bem para alegria da família e amigos. Sabendo da existência de
dezenas de casos semelhantes na região, Pacheco e o empresário Umar Buchala,
junto com suas esposas, queriam estender esse conhecimento e benefício para
outras famílias. Foi quando surgiu a ideia de fundar, em 1993, a Associação
Renascer.
Início
numa chácara
A Renascer começou
funcionando numa chácara, no bairro Recanto do Eduardo, atendendo oito crianças
e com apenas voluntários. O objetivo da Renascer era proporcionar acesso a esse
novo método de pessoas com deficiência na cidade e região, provindas de
famílias desfavorecidas, sem condições socioeconômicas.
Dois
anos depois a entidade ganhava uma área nas margens da Represa Municipal e próxima
dos trilhos da ferrovia, no Jardim Soraia. O terreno foi cedido à instituição,
pela Prefeitura. Quando foi edificada a primeira etapa da obra no dia da
inauguração, por pouco ela não foi embargada pela Polícia Florestal, porém, no
entanto, compreendeu a finalidade da instituição e hoje é um dos principais parceiros
da Renascer.
Presente
diariamente nas duas unidades da Renascer, desde a sua fundação, Pacheco chega
cedo. Por volta das 6 horas da manhã já está na Renascer. É reconhecido pelo
nome por todos os 70 funcionários e pelos mais de 350 alunos assistidos. Muitos
dos alunos o cumprimentam trocando soquinhos com os punhos fechados ou batendo
as mãos com as palmas estendidas, mostrando o carinho e a liberdade deles com o
presidente da instituição.
Referência
nacional
Instituição
que hoje é referência nacional no tratamento de pessoas com deficiências, a Renascer
conta em sua unidade 1 com mais de 4.500 metros quadrados de área construída.
Ali funciona diversas salas de aula, piscina aquecida, ginásio de esportes,
quadras poliesportivas, campo de futebol, quadra de areia, horta ocupacional e
consultórios para fisioterapia, fonoaudiologia, psiquiatria e neurologia.
E
cada pedacinho da instituição tem uma história para ser contada. “Esse
elevador, por exemplo, quem nos deu foi o J.Hawiilla”, aponta Pacheco para o
equipamento instalado na Unidade 1, ao referir-se ao multimilionário dono da TV
Tem que faleceu no ano passado no hospital Sirio-Libanês, onde estava
internado.
Na
Unidade 2, no antigo prédio da Ardef (Associação dos Deficientes Físicos) na
avenida Juscelino Kubtitschek, funciona
as oficinas de corte e costura e a padaria-escola, que fornece pães, bolos,
doces, pastéis, panquecas, salgados e até panetone à comunidade.
O
local também oferece refeições nas quartas, quintas e sextas-feiras. E tem
salão de locação para festas. A Confraria dos Amigos, que tem entre eles o
presidente da Câmara, Paulo Pauléra, e até o prefeito Edinho Araújo, costumam
reunir-se na padaria da Renascer. O local é amplo e bonito e dispõe até de um
piano super afinado a dispor para quem souber tocar. O Rotary Clube Alvorada também
realiza suas reuniões na Unidade 2 da Renascer.
Objetivo
Pacheco
informa que o objetivo é que a criança tenha condições para comunicar o que
pensa e sente sem que haja dificuldades de compreensão, e que tenha condições
de interagir e conquistar seu espaço na sociedade onde está inserida. Durante
esses 26 anos de existência, muitos já foram os resultados conquistados,
mediante muito esforço e trabalho dos profissionais, diretores e parceiros
envolvidos nessa obra.
E
Pacheco não pensa em parar tão cedo com o trabalho. Muito pelo contrário. Já
conseguiu junto à Prefeitura uma área de mais de 14.000 metros quadrados para
implantar a Unidade 3 da Associação Renascer. “Desta vez queremos construir um
prédio próprio e totalmente já adaptado, desde o começo, para a instituição”,
informa Pacheco, adiantando que pensa em promover algum mega-evento junto com
as emissoras de televisão.