É
um ditado popular, regional e muito antigo, portanto, deve ser pouco conhecido.
Vou tentar localizar isso no tempo e no espaço. A frase me foi dita por meu
avô, da região de Ribeirão Preto, Cravinhos, São Simão. Como meu pai nasceu em
1917, quando o século XX ainda era “de menor”, meu avô era do século retrasado,
XIX, esse nosso, o XXI está completando os 18 anos agora!
Na
época as ferraduras dos cavalos eram fabricadas artesanalmente, com 7 furos e
colocadas por “ferreiros”. Elas eram fixadas nos cascos dos animais, por pinos
de ferro chamados “cravo”. Acredito que a operação não doía, mesmo porque, o
cavalo ficava com a pata docilmente dobrada sobre a perna do ferreiro. Então,
ele dava uma martelada no cravo e outra na ferradura, creio que para posicionar
e fixar o artefato.
Fora
do cavalo e do ferreiro, o ditado seria pra dizer o que usamos hoje, o “bate e
assopra”, “um tapa e um beijo”, “uma bronca e um agrado”, ou seja, “uma a sério
e outra na brincadeira”... tendeu? Vou fazer uma crítica, uma provocação, uma
paulada e uma brincadeira!
Então,
vamos começar agora com uma “no cravo”, uma crítica seria.
Esse
país está do jeito que está, porque falta RECLAMAÇÃO!
Ninguém
acredita em nada, reclama de nada! Por quê? Porque as instituições estão
desacreditadas, as pessoas estão acomodadas.
Você
reclama quando um comerciante desonesto que te vende uma mercadoria com
defeito, ou estragada? Não adianta? Claro que adianta, já fiz muitas
reclamações no PROCON e todas, “absolutamente todas” foram resolvidas! Já
reclamei contra operadora de tevê a cabo, telefonia móvel e fixa, Sem Parar nos
pedágios, compras pela internet, bancos e até do PROCON, no próprio PROCON!
Vou
contar essa:
Certa
vez descobri que estava sendo assaltado por um banco durante exatos 3 anos, 36
meses. Vinha sendo cobrado um daqueles “pacotes de serviços” que costumam
cobrar, mas no meu caso, não ofereciam serviço nenhum, apenas o catão de
débito. Quando soube que por norma do Banco Central, existe uma modalidade de
conta sem nenhuma despesa para o cliente. Você tem direito ao cartão de débito,
a um talão de cheques comuns, durante um período, pode fazer apenas determinado
número de saques. Depósitos não, isso você pode fazer quantas vezes quiser.
Claro, querem apenas usar seu dinheiro sem pagar nada por isso.
Como
nessa época já morava em São Paulo e a conta era aí de Rio Preto, liguei pra
agência. Quem me atendeu disse que teria que ir pessoalmente a agencia para
cancelar a cobrança. Justifiquei que morava em São Paulo, portanto não seria
possível fazer isso. Diante da insistência do funcionário, concordei em ir
pessoalmente, em um final de semana que estivesse aí, bastava abrir a agencia e
escalar um funcionário para me atender. Ele disse que isso era impossível.
Forcei a determinação do Banco Central e insisti em falar com o gerente. Ele
pediu pra eu aguardar na linha, depois voltou com a informação que a cobrança
estava suspensa. Mas isso não me bastava, queria a restituição dos 36 meses de
cobrança indevida. Aí começou o drama, mas não desisti, fui em frente!
Juro
que costumo não ser “chato”, mas quando invadem meus direitos não consigo ficar
calado, reclamo mesmo! Pois bem, recorri à Ouvidoria do banco, via Internet e
expus o caso. Passado alguns dias, recebo um envelope grande, vermelho, papel
couché, mas a resposta desanimadora. Não seria possível estornar os valores
pagos! Não desisti, recorri ao PROCON, aliás, fui duas vezes em dias da semana,
é só encontrei um aviso de “senha esgotada”. Então fui no sábado pela manhã.
Resultado: senha esgotada.
Foi
quando tive a brilhante ideia de recorrer ao setor de informações e perguntei:
Como faço para fazer uma reclamação contra o PROCON, aqui no PROCON?
A
moça não deu risada, mas achou estranho e perguntou: O que está acontecendo?
Contei essa estorinha e ela disse que iria me abrir uma senha. Me deu a senha e
saí procurando um lugar pra sentar, num salão já cheio de gente em pé... Para
minha surpresa, chamaram meu número! Sendo assim, fui até o atendente e contei
meu caso com o banco. Desanimador! Segundo ele, iria encaminhar a notificação
ao banco, mas não via chances de ser atendido. Diante de minha insistência, deu
andamento. No decorrer da semana recebo uma ligação do banco. Me perguntavam se
realmente havia recorrido ao PROCON contra o banco. Confirmei toda a estória e me
perguntaram de quanto seria o valor requerido. Sem saber como calcular,
respondi que a última cobrança realizada foi no valor de R$19,00 e alguns
centavos. Para facilitar os cálculos, sem computar os valores anteriores
corrigidos, seria em torno de 36 vezes R$20,00. Ele disse tudo bem, são
R$720,00. Respondi que não sabia, pois estava na rua e sem calculadora ele
respondeu que fez a conta estava certa e que o dinheiro estarão na minha conta
em 5 dias úteis. E estava! Viu só como vale a pena, ou melhor, temos que
reclamar de TUDO! Não acredita? Então fique no prejuízo...
Você
reclama quando um “espertinho” fura a fila do caixa eletrônico, ou do
supermercado, você reclama? Tem que reclamar! Já tirei cara da fila, com ajuda
se segurança, ou de outros da fila. Só assim esse país vai mudar, vai ser
honesto, consciente, com bom senso...
. Certa vez travei a fila de um
supermercado por causa de centavos. Não, não sou sovina. Apenas exijo meus
direitos, isso se chama “cidadania”, onde temos deveres, mas também temos
direitos, isto está na lei! Voltemos à fila do supermercado: fiz uma compra que
não me lembro do valor total, sei que era qualquer coisa e 20 centavos.
Perguntei para a moça do caixa: posso ficar devendo 20 centavos? Ela disse que
não, então peguei uma nota de 1 ou 2 reais e entreguei pra que ela fizesse o
troco. A infeliz me pergunta? Posso ficar te devendo 30 centavos? Respondi
primeiro para a fila: procurem outro caixa porque esse aqui “melou”. E disse pra
ela: não. Não pode ficar me devendo 30 centavos, quero meu troco e não aceito
mais o desconto que pedi, não aceito balas ou qualquer outra coisa. Ela
insiste: então vou ter que chamar o gerente! Retruquei: faça isso antes que eu
chame a polícia! O gerente teve mais bom senso e resolveu o problema da forma
que exigi. É sempre assim, temos que reclamar para mudar tudo.
Estou
tentando mostrar, no meu entender, que os absurdos e roubalheiras desenfreadas
e da conivência entre os políticos comparsas que acontecem em nosso país, nós
somos os culpados! Quando você vai comprar um produto qualquer, que tenha o
mesmo preço, se não existir um melhor que o outro, você compra o menos pior? O
preço que pagamos para cada político é o mesmo em todas as esferas. Aí, você
elege um político estragado ou com defeito, faz o que? Vai reclamar no Procon?
Não vai adiantar, ele não devolve o dinheiro, nem sai do poder. E você,
reclama, vai pra rua, participa de manifestações ou vota nele, ou no menos pior
na próxima eleição? Aí, o errado (ele) tá certo e você, eleitor está errado
porque calou a boca, não reclamou...
É
sempre assim, temos que reclamar de tudo, para mudar tudo.
Até
compreendo o “cala boca” de três gerações que nasceram durante o regime
militar. Foram 20 anos proibidos de reclamar e mais 10 anos para entendermos
que podemos e devemos reclamar. O primeiro grande grito da população foi em 1984,
com o “Diretas Já”. Depois vieram os “Caras Pintadas”, em 1992, pedindo o
impeachment de Collor. Estava na Avenida Paulista e me emocionei com a
esperança que o Brasil tinha acordado, tinha solução!
Depois
de 20 anos de silêncio, apatia e servidão, em julho de 2013, um novo despertar!
Começou com um movimento por causa de aumento do preço das passagens de ônibus
em São Paulo e se alastrou pelo Brasil como fogo no cerrado. Novas causas, motivos,
categorias e a população foram às ruas. O movimento conseguiu reverter o
aumento e outras reivindicações, porque implantaram os “baderneiros”,
intimidando a população.
A
queda de Dilma e a prisão do Lula também ganharam as ruas em todo o país. Não
interessa se a favor, ou contra, o importante é expressar sua opinião. Os
baderneiros devem ser excluídos pelos próprios manifestantes, não contem muito
com a polícia!
As
redes sociais, novas armas para os dois lados, mobilizam, têm seu peso
político, mas político só tem medo da população, da imprensa e felizmente,
ainda, ou novamente... da Justiça!
USE
SUA FORÇA: VÁ PRA RUA E GRITE!
Tags
Silvio Caruso