Folha2

Um mergulho na história da imigração japonesa

O Museu proporciona uma viagem pelas cores, formas e memórias preservadas dos mais de 100 anos da imigração japonesa ao Brasil

 Nelson Gonçalves, especial para a Folha2

A poucos metros da sede da Grande Loja Maçônica do Estado de São Paulo (GLESP) está um dos equipamentos culturais mais relevantes da capital: o Museu Histórico da Imigração Japonesa no Brasil. Inaugurado em 1978 pelo então presidente Ernesto Geisel e pelo príncipe Akihito e sua esposa Michiko, o espaço preserva, em detalhes, a trajetória dos imigrantes japoneses no país. Fotografias, documentos, relatos e até uma réplica do Kasato-Maru, o navio que trouxe a primeira leva de imigrantes, fazem parte do acervo.

 A história é protagonizada por Ryo Mizuno (1859=1951), considerado o “pai da imigração japonesa no Brasil”. Em 1906, dois anos antes da chegada oficial dos imigrantes, Mizuno esteve no país para estudar seu território. Para estruturar o processo, fundou a Companhia Imperial de Colonização, responsável pelo envio dos primeiros 781 japoneses, que desembarcaram no Porto de Santos em 18 de junho de 1908, sem saberem o idioma e do que lhes esperavam pela frente. Seu busto e fotografia ocupam posição de destaque no museu.

Mas a semente dessa imigração foi plantada ainda antes. Em 1892, após intenso debate, o Congresso Nacional aprovou a Lei nº 97, do senador Monteiro de Barros, autorizando a vinda de japoneses e chineses ao Brasil. No mesmo ano, o governo japonês enviou Sho Nemoto, funcionário do Ministério do Comércio Exterior, para avaliar as condições do país. Em seu relatório, destacou especialmente o potencial do estado de São Paulo.

O entendimento entre os dois governos resultou no Tratado de Comércio, Navegação e Amizade, assinado em Paris em 1895 por Arasuke Sone (Japão) e Gabriel de Toledo Piza (Brasil). No entanto, diversas tentativas malsucedidas de iniciar a imigração falharam, e o fluxo só ganhou força a partir de 1908. Durante a Segunda Guerra Mundial, com o Japão alinhado ao Eixo, o governo Getúlio Vargas interrompeu completamente a entrada de japoneses.

 Entre 1908 e 1941, antes do início da Segunda Guerra, 185.473 imigrantes japoneses chegaram ao país desembarcando em Santos. Daí, seguiam à Casa dos Imigrantes, na capital, e dali eram enviados para trabalhar nas lavouras de café, e mais tarde, de algodão, considerado como o “ouro branco” das lavouras.

Primeiros jornais em japonês 

Os jornais japoneses sempre possuíram tiragens impressionantes que ultrapassava a dos maiores jornais brasileiros, como O Globo, Estadão e Folha de S. Paulo

O museu também preserva, entre mais de 97.000 itens, os primeiros jornais da colônia, publicados em japonês. O pioneiro foi o “Shukan Nambie”, de Kenichiro Hoshina, seguido pelo “Nippaku Shimbun”, de Akisabura Kaneco e Shungaro Wako. Outro nome fundamental é o de Wasaburo Otake, tradutor da Embaixada do Brasil em Tóquio e responsável pelo primeiro dicionário português-japonês.

 Outro destaque do acervo é o registro da força da Cooperativa Agrícola de Cotias (CAC), fundada em 1927 por imigrantes com subsídios do governo do Japão. O que começou com 83 cooperados e produção voltada à batata transformou-se rapidamente em uma potência agrícola nacional, com mais de 40 unidades espalhadas pelo país já nas décadas seguintes.

 O Museu Histórico da Imigração Japonesa, localizado na rua São Joaquim, 381, bairro da Liberdade, em São Paulo, funciona de terça a domingo, das 10h às 17h (entrada até as 16h). O museu fecha às segundas-feiras. O ingresso custa R$ 20. Estudantes com carteirinha, crianças até 11 anos e idosos pagam meia entrada. Às quartas-feiras a entrada é gratuita.


 Arasuke Sone (Japão) e Gabriel de Toledo Piza (Brasil) ambos eram maçons e assinaram o primeiro Tratado de Amizade entre Brasil e Japão

Ryo Mizuno é considerado como o "pai da imigração japonesa do Brasil"

Réplica de um dos navios que trouxe milhares de japoneses ao Brasil e que foi abatido durante a Segunda Guerra Mundial pelos navios das forças aliadas

O príncipe Akihito descerra a fita de inauguração do Museu no ano de 1978 

Casa dos Imigrantes para onde eram levados todos os imigrantes logo que desembarcavam em Santos

O príncipe Akihito e a princesa Michiko em jantar com o governador Paulo Egydio Martins, no Palácio dos Bandeirantes em São Paulo

Sede da Cooperativa Agrícola de Cotia (CAC), considerada a maior de todos os tempos

A cidade de Bastos, no interior paulista teve presença marcante da colônia japónesa

Placa de bronze que marca a inauguração do Museu da História de Imigração Japonesa

O príncipe Akihito e o presidente Ernesto Geisel no dia da inauguração do Museu em São Paulo

Postagem Anterior Próxima Postagem

vários

Folha2
Folha2