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| Capela em louvor às 13 Almas tem o formato de um triângulo e não se sabe quem a construiu |
Nelson Gonçalves, especial para a Folha2
Às 8h30 de 1º de fevereiro de 1974, uma sexta-feira, moradores do centro de São Paulo avistaram chamas no 12º andar do Edifício Joelma, na rua 9 de Julho. Com 25 andares e inaugurado apenas um ano antes, o prédio tornou-se, em poucas horas, cenário de uma das maiores tragédias urbanas do país: 187 mortos e mais de 300 feridos.
Alugado ao Banco Crefisul de Investimento, o Joelma concentrava 1.016 funcionários. Cerca de 600 já estavam no expediente quando um curto-circuito em um aparelho de ar-condicionado, no 12º andar, desencadeou o incêndio. Em minutos, a fumaça e o calor tornaram as escadas intransitáveis. A estrutura interna, com divisórias de madeira, carpetes, cortinas e forros sintéticos, alimentou as chamas e acelerou a propagação.
A propagação das chamas foi extremamente rápida. Cerca de 15 minutos após o curto-circuito, as escadas íngremes tornaram-se intransitáveis, bloqueadas pelo fogo e pela fumaça densa. Os corredores estreitos e a configuração dos escritórios, com divisórias de madeira, alimentaram o incêndio, transformando o prédio em uma imensa fornalha.
Muitos tentaram escapar pelos elevadores, recurso arriscado que funcionou apenas nos primeiros instantes. Quando o fogo alcançou o 20º andar, o sistema elétrico entrou em pane. Sem alternativas, dezenas se lançaram das janelas. No topo, cerca de 200 pessoas aguardavam resgate por helicóptero, à espera de uma operação semelhante à do Edifício Andraus, dois anos antes. Desta vez, porém, as altas temperaturas impediram o pouso. As escadas Magirus, de 40 metros, não atingiam os andares superiores.
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| Treze túmulos sem identificação de quem está ali enterrado chama a atenção no cemitério São Pedro da Vila Alpina, em São Paulo |
A história das 13 almas
Entre as vítimas estavam 13 pessoas que tentaram fugir pelo elevador. O equipamento travou durante a descida e foi tomado pelas chamas. Os corpos, irreconhecíveis, foram sepultados lado a lado no Cemitério São Pedro, na Vila Alpina.
A tragédia deu origem a uma das lendas mais persistentes da cidade. De acordo com o pesquisador Paulo James, de Paraguaçu Paulista, o vigia do cemitério relatou ter ouvido, certa noite, gritos e gemidos vindos das 13 sepulturas, como pedidos por água. Após jogar um balde sobre os túmulos, o silêncio voltou. A história se espalhou rapidamente, transformando o local em ponto de devoção popular. Copos e garrafas d’água passaram a ser deixados ali, acompanhados de placas de agradecimento por supostas curas e milagres. Uma pequena capela, em forma de um triângulo, foi erguida pelo público devoto e, até hoje, os túmulos recebem visitantes.
Paulo James afirma que os anúncios de orações e agradecimentos às 13 Almas, publicados nas seções de classificados dos jornais, sempre lhe chamaram a atenção. E que por isso resolveu ir até a capital paulista para conhecer e relatar essa misteriosa história. Para conferir o documentário produzido por Paulo James sobre o Mistério das 13 Almas basta clicar aqui.
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| O incêndio no Edifício Joelma foi uma das maiores tragédias registradas em São Paulo |
A marca do prédio e a sombra da superstição
O Joelma permaneceu por décadas associado a relatos de assombrações. Funcionários afirmaram ter visto aparições, ouvido vozes e presenciado fenômenos inexplicáveis, como luzes que acendiam sozinhas. A fama se intensificou após informações falsas apontarem que o terreno teria sido palco de um antigo pelourinho.
Em 2019, a Editora Fato lançou Vozes do Joelma, de Marcos Debrito, Marcus Barcelos, Rodrigo Oliveira e Victor Bonini, reunindo histórias ficcionais inspiradas no episódio sob a perspectiva das vítimas. A região, aliás, já carregava simbolismo sombrio: o nome Anhangabaú, segundo antigos povos indígenas, pode ser traduzido como “lugar de morte”.
Funcionários que já trabalharam no Edifício Joelma relatam ter presenciado aparições, ouvido gritos e vozes, e testemunhado fenômenos estranhos, como luzes que acendiam e apagavam sozinhas
Em 2019, a Editora Fato lançou o livro Vozes do Joelma, escrito por Marcos Debrito, Marcus Barcelos, Rodrigo Oliveira e Victor Bonini, reunindo histórias de terror inspiradas no lugar, a partir da perspectiva das vítimas. A má fama da região, porém, é antiga: o próprio nome Anhangabaú, segundo povos indígenas, significa “lugar de morte”.
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| Várias pessoas no desespero para se salvar do fogo ardente saltaram do edifício |
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| Os corpos das 13 almas estão enterradas, sem identificação, uma ao lado da outra no cemitério São Pedro da Vila Alpina, em São Paulo |
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| Em toas as sepulturas das 13 almas são colocados copos e garrafas d'água |
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| Ao lado dos túmulos estão diversas placas, cartazes e faixas de agradecimentos por graças alcançadas |
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| Quem passa pela Rua Nove de Julho, defronte a Praça da Bandeira, não imagina que ali ocorreu em 1974 uma das maiores tragédias do país |
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| O antigo Edifício Joelma mudou o nome para Edifício Praça da Bandeira |
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| O jornalista e historiador Paulo James narra a história das 13 Almas do Edifício Joelma |
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| São inúmeras placas e cartazes por graças alcançadas defronte aos túmulos das 13 almas |
ORAÇÃO DAS 13 ALMAS
Oh! Minhas 13 Almas Benditas, Sabidas e Entendidas, eu vos peço, pelo amor de DEUS, atendeis o meu pedido.
Minhas 13 Almas benditas, Sabidas e Entendidas, a vós peço, pelo sangue que Jesus derramou, atendeis o meu pedido.
Meu Senhor Jesus Cristo, que a Vossa Proteção me cubra, Vossos Braços me guardem no Vosso Coração e me proteja com Vossos Olhos.
Oh! DEUS de bondade, vós sois meu advogado na vida e na morte, peço-vos que atendais aos meus pedidos, livrai-me dos males e dai-me sorte na vida. Segue meus inimigos, que os olhos do mal não me vejam, cortai as forças dos meus inimigos.
Minhas 13 Almas benditas, Sabidas e Entendidas, se me fizerdes alcançar esta graça, (pede-se a graça) ficarei devoto(a) de Vós, publicarei e divulgarei esta oração, para que possa ser vista e rezada por muitas outras pessoas e mandarei rezar missa(s) para as almas.
(Reza-se 1 Pai Nosso, 1 Ave Maria, durante 13 dias).
As Treze Almas se referem a treze cadáveres não identificados que foram encontrados no elevador do Edifício Joelma (atual Edifício Praça da Bandeira) e provavelmente estavam tentando fugir do fogo durante o incêndio. Todos os corpos foram enterrados lado a lado no Cemitério São Pedro, Vila Alpina, Zona Leste da cidade de São Paulo. (Wikipedia)
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| É muito comum encontrar em bancos de diversas igrejas santinhos com a Oração das 13 Almas |
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| É também comum ver nas seções de classificados dos jornais a Oração das 13 Almas |
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| Em Dia de Finados os túmulos das 13 Almas também ficam repletos de flores e velas |













