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De magnata a filantropo: a transformação de John D. Rockefeller, o primeiro bilionário da história

Rockefeller em quadro pintado por John Singer em 1917, quando ele tinha 87 anos


Nelson Gonçalves, especial para a Folha2

John Davison Rockefeller (1839–1937) é considerado o primeiro bilionário da história. Nascido numa família numerosa no interior do estado de Nova Iorque, nos Estados Unidos, mudou-se várias vezes até se estabelecer em Cleveland, Ohio. Desde jovem demonstrou talento para os números: tornou-se contador assistente aos 16 anos e, aos 20, já iniciava parcerias comerciais voltadas ao refino de petróleo.

Aos 31 anos, Rockefeller era o maior refinador dos Estados Unidos. Em 1870, fundou a Standard Oil Company, e, à medida que o querosene e a gasolina ganhavam importância, tornou-se o homem mais rico do planeta, controlando 90% de todo o petróleo usado em lâmpadas, navios, aviões e automóveis.

Poder e colapso

Quando completou 50 anos, Rockefeller era mais poderoso que muitos governos. Seu nome se tornara sinônimo de fortuna e temor. Mas, por trás do império, o magnata enfrentava um inimigo que o dinheiro não podia vencer: a doença.

Sofrendo de alopecia — condição que causa a perda de todos os pelos do corpo —, ele viu desaparecerem a barba e o cabelo. Aos 53 anos, padecia de úlceras, insônia, distúrbios digestivos e depressão profunda. Vivia à base de sopas e bolachas, incapaz de dormir ou sentir prazer pela vida.

Os médicos foram categóricos: Rockefeller não viveria mais um ano. O homem que dominava o mundo dos negócios já não tinha forças nem para erguer a cabeça.

Retratos de Rockefeller em várias fases de sua vida


A virada inesperada

Numa noite solitária, diante do espelho, Rockefeller teve uma revelação: percebeu que nada do que havia acumulado poderia acompanhá-lo após a morte. A constatação foi devastadora, e libertadora.

Na manhã seguinte, tomou uma decisão que surpreendeu advogados e contadores: doaria a maior parte de sua fortuna. Assim, em 1913, nascia a Fundação Rockefeller, criada para promover a medicina, a educação e o bem-estar público.

A entidade financiou pesquisas médicas e científicas que contribuíram para avanços como a descoberta da penicilina, ajudou a erradicar a febre amarela, apoiou universidades, construiu hospitais e transformou a saúde pública mundial.

A presença no Brasil

O impacto da fundação chegou também ao Brasil. Rockefeller financiou pesquisas e campanhas de combate à paralisia infantil, à malária e à febre amarela. O dinheiro que antes sustentava monopólios passou a alimentar curas.

Rockefeller colaborou com os governos de São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais no controle de endemias e no desenvolvimento de vacinas. Também apoiou a formação de profissionais de saúde em instituições como as Faculdades de Medicina de Ribeirão Preto e de São Paulo. Além disso, foi o fundador da Universidade de Chicago e da Universidade Rockefeller, e apoiou a criação da Universidade Central das Filipinas.

A Fundação Oswaldo Cruz, em Manguinhos, no Rio de Janeiro, recebeu recursos da Fundação Rockefeller para o desenvolvimento da vacina contra a febre amarela


Fé, saúde e longevidade

Devoto da Igreja Batista, Rockefeller passou a dedicar-se à fé e à filantropia. Aderiu à abstinência de álcool e tabaco, tornou-se professor da escola dominical e acreditava que a religião fora o motor de sua cura e sucesso.

À medida que se voltava para o bem, sua saúde se transformou: a dor cessou, o sono voltou, o apetite renasceu. O homem que fora condenado a morrer aos 53 anos viveu até os 97, com vitalidade e serenidade.

Instituto Butantan, em São Paulo, recebeu recursos da Fundação Rockefeller para o desenvolvimento de vacinas contra diversas doenças


O legado

Nos últimos anos de vida, já afastado dos negócios, costumava repetir uma frase que resumiu sua jornada: “Deus ensinou-me que tudo pertence a Ele, e que eu sou apenas um canal para cumprir Sua vontade.”

A primeira metade da vida de John D. Rockefeller foi dedicada a acumular riquezas. A segunda, a distribuir significados e construir um legado: o conhecimento, que, ao contrário do petróleo, jamais se esgotará.

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Túmulo de Rockefeller em Cleveland, em Ohio





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