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| O genealogista Luís Augusto pretende criar em Adolfo um memorial para preservar a história |
Nelson Gonçalves, especial para a Folha2
O genealogista e historiador Luís Gustavo Borges Silva dedica-se há anos à criação de um Museu e Memorial Histórico de Adolfo, com o propósito de preservar a memória do município e de seus pioneiros. Apaixonado pela história local, Luís Gustavo iniciou o cursou de História e atua como genealogista, ou seja, aquele que pesquisa, documenta e organiza a linhagem das famílias, reconstruindo suas árvores genealógicas. É apaixonado por histórias e ramificações das famílias.
Para realizar seu trabalho, ele recolhe, analisa e organiza documentos como certidões de nascimento, casamento e óbito, registros paroquiais, censos e outros arquivos históricos. O objetivo é reconstruir a trajetória das famílias e identificar seus antepassados.
“É um trabalho que requer muita paciência, estudo e dedicação”, explica Luís Augusto, ressaltando que uma única pesquisa pode levar meses, com longas horas diárias de investigação. Em seu acervo, o historiador reúne dados familiares e fotografias de todas as pessoas que exerceram os cargos de prefeito, vice-prefeito e presidente da Câmara Municipal de Adolfo, informações que nem a Prefeitura nem o Legislativo possuem de forma organizada.
“Não podemos deixar que a história se apague com o tempo”, afirma. “Preservar o passado é garantir que as futuras gerações conheçam suas origens e evitem repetir os erros do passado.”
Inspirado em pensadores como Heródoto e Confúcio, que há mais de dois milênios já defendiam a importância do conhecimento histórico, Luís Gustavo reforça que “conhecer o passado é viver melhor o presente e planejar o futuro”. Para ele, a experiência acumulada, a consciência do momento atual e a visão do amanhã são os pilares do desenvolvimento humano.
Além da genealogia, Luís Gustavo domina detalhes minuciosos sobre a fundação de Adolfo e de Mendonça. Ao contrário de muitas cidades formadas em torno de igrejas católicas, Adolfo nasceu em torno de um templo batista.
Foram os protestantes que cederam o espaço de seu templo para que a professora Odila Bovolenta de Mendonça ministrasse aulas às primeiras crianças do vilarejo.
Em 1936, o pastor Victório Voltolini e sua esposa Josepha Luccini Bolporini, pioneiros na região da Igreja Batista, lotearam três quadras de uma área da sua propriedade, dando origem ao povoado de Jericó. Cinco anos depois, em 1941, os católicos da região procuraram o fazendeiro Adolfo do Amaral Mendonça para pedir autorização para erguer uma capela dedicada a São José, nas terras de sua fazenda, surgindo assim o povoado de Maitinga.
Três anos mais tarde, Jericó e Maitinga se uniram, formando o distrito de Adolfo, em homenagem ao fazendeiro e coronel Adolfo do Amaral Mendonça, que muito lutou pela oficialização do distrito, concretizada em 30 de novembro de 1944, pelo Decreto-Lei nº 14.334. Vale lembrar que Mendonça já havia sido elevada à categoria de distrito em 14 de janeiro de 1936, pelo Decreto-Lei nº 2.624.
Odila Bovolenta de Mendonça: a professora que marcou gerações
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| A professora Odila faleceu aos 24 anos, a uma semana antes de se casar |
Odila Bovolenta de Mendonça nasceu em São José do Rio Preto, em 1925, filha de imigrantes italianos. Formou-se professora ainda jovem e lecionou em escolas de Rio Preto, do então distrito de Mendonça e do povoado de Jericó, mais tarde, distrito de Adolfo.
Odila dedicou sua vida à alfabetização de várias gerações de crianças, sendo lembrada por ex-alunos como exigente, disciplinada e, ao mesmo tempo, generosa. Representava o ideal da professora tradicional, que via na educação não apenas o ensino de conteúdo, mas uma missão de formação humana.
Odila era presença constante em festas escolares, quermesses e atividades comunitárias, sempre defendendo a expansão da rede de ensino e melhores condições para os estudantes. Sua memória permanece viva entre os ex-alunos e toda a comunidade adolfense, que reconheceu sua dedicação ao homenageá-la dando seu nome a uma das escolas do município.
Cartas preservadas
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| Orlando Mendonça cantava tangos no grupo musical Tangolero |
Segundo cartas escritas pelo pai Aureliano Mendonça para o filho Orlando Antônio Mendonça, irmão caçula de Odila, a professora estava prestes a se casar quando faleceu de forma repentina. “Faleceu uma semana antes do casamento que estava marcado”, informa Luís Gustavo Borges Silva. "A professora vinha lecionar ora a cavalo, ora nas precárias jardineiras".
Luís Gustavo Borges Silva guarda algumas dessas correspondências, nas quais Orlando relata que a irmã, dez anos mais velha do que ele, foi vítima de sepse (infecção generalizada), doença que, à época, não recebeu o tratamento adequado. A infecção acabou comprometendo órgãos vitais, como pulmões, rins e coração, resultando em falência múltipla de órgãos.
O falecimento prematuro de Odila interrompeu uma trajetória de grande dedicação ao magistério e à comunidade, deixando profunda marca entre familiares, alunos e amigos.
Grupo Tangolero
O dentista Orlando Antônio Mendonça, irmão mais novo de Odila, residiu por muitos anos em Marília (SP), onde também atuou com radialista, jornalista e foi professor da Universidade de Marília (Unimar). Além da carreira acadêmica e profissional, destacou-se por seu talento musical, tornando-se conhecido como cantor do grupo Tangolero, conjunto artístico que marcou época na região de São José do Rio Preto.
O Tangolero foi fundado em 1983 pelo bioquímico e pesquisador de tango argentino Walter Benfatti, que uniu-se ao médico e cantor Carlos Cabbaz e ao pianista Roberto Farath com a proposta de difundir o tango e, ao mesmo tempo, realizar ações filantrópicas. A maior parte dos espetáculos do grupo era beneficente. Seus integrantes não cobravam cachês, e a renda era destinada a entidades assistenciais.
Entre os membros, figuraram nomes conhecidos como o radialista César Muanis, Marlene Ramirez, o colunista social Nenê Homsi, Norma Cruz e o próprio Orlando Mendonça. A formação instrumental contava ainda com Luiz Carlos Ribeiro (piano), Vadeco (violão), Pedro Damico (violino), André Postigo (bandoneon) e Peter (contrabaixo), além de bailarinos convidados.
O Tangolero se apresentou em diversas cidades brasileiras e também na Argentina, gravou dois CDs e foi destaque em revistas como Veja, além de participar de programas de televisão. O grupo encerrou suas atividades com um último espetáculo memorável, realizado em 2012, durante as comemorações do aniversário de São José do Rio Preto, no Teatro Paulo Moura. Com cheia, encerrou suas atividades à altura de sua trajetória artística e solidária.


