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Já imaginou a vida sem a existência do papel higiênico?

Já se imaginou viver hoje sem o papel higiênico? 

 
Nelson Gonçalves, especial para a Folha2

É inimaginável hoje vivermos a vida sem papel higiênico. Um produto tão simples, mas tão essencial todos os dias. Todos estamos tão acostumados a usar papel higiênico em nossa vida cotidiana que talvez jamais pensamos na história deste produto e como era a vida para nossos ancestrais antes dele ser inventado.

Antes da sua invenção, que data do século 13, na China, as pessoas costumavam fazer sua limpeza, após defecar, com folhas de hortelã, para os mais abastados, restos de jornais, esponja com água e por muitas vezes sabugo de milho. Há registros de, na China medieval,  chegaram a produzir folhas de um papel especial, perfumadas, feita a base de palhas de arroz, usadas para higiene pessoal da família do imperador Hongwu. Mas seu uso era bem restrito.

Em outros lugares do mundo, os ricos usavam tecidos feitos de lã, renda ou cânhamo para suas abluções, enquanto os menos afortunados utilizavam tanto suas próprias mãos, ao defecar em rios, como se limpavam com os mais diversos materiais, como trapos de qualquer tecido disponíveis, folhas de árvores, grama, feno, pedras, areia, neve, cascas de frutas ou conchas, dependendo muito do local, das condições climáticas ou dos costumes sociais. Na Roma antiga, uma esponja pregada a pedaço de madeira era comumente utilizada e, depois de seu uso, era lavada e colocada de volta num balde com água salgada.

Quem já visitou os castelos antigos construídos em diversos países europeus pode constatar que eles eram construídos sem banheiros. Isto porque a nobreza defecava em tachos. E quando enchiam esses tachos eram levados por escravos para despejá-los em fossas profundas. Papel higiênico não existia nessa época e a nobreza se utilizava de vários recursos e do que havia disponível para a limpeza. O cheiro não devia ser bom e por isso era comum homens e mulheres usarem leques. Viviam se abanando o tempo todo. 

Os grandes castelos eram construídos na era medieval e sequer existiam banheiros. Os excrementos eram feitos em tachos e pinicos, que eram levados depois pelos escravos

Perfume para disfarçar o mau cheiro

O cheiro desagradável levou os franceses à criação de perfumes para mascarar os odores nada bons. O escritor francês Fraçois Rabelais, na sua série de romances “Gargântua e Pantagruel”, discutiu as diversas maneiras de se limpar no banheiro. E sugeriu que as penas suaves das costas de um ganso forneciam um meio excelente e macio para a limpeza das nádegas.

No mundo ocidental o americano Joseph Gayetty foi o primeiro a produzir e comercializar o papel higiênico em 1857. Ele vendia pacotes de 500 folhas, com perfume de babosa. Mas a invenção foi um fracasso no início das vendas. O produto era caro e muito trabalhoso para deixa-lo perfumado. Foi somente uns 30 anos mais tarde que os fabricantes descobriram que era possível vende-lo mais barato e que o perfume era dispensável.

Os irmãos Edward e Clarence Scott montaram uma indústria na Pensilvânia, nos Estados Unidos, em 1890, e começaram a produzir o papel higiênico em rolo tal como conhecemos hoje. Enfrentaram problemas para comercializar o produto, que era considerado como nocivo e imoral se o rolo de papel estivesse exposto ao público nas prateleiras das lojas.

Na zona rural e nas casas nas áreas urbanas era muito comum as latrinas e o uso de sabugo de milho para a limpeza das nádegas

Papel higiênico no Brasil

Distante da Europa e dos Estados Unidos, os brasileiros demoraram para conhecer o papel higiênico. Quando a Família Real portuguesa veio para o Brasil, o papel higiênico tal como conhecemos hoje ainda não tinha sido inventado. Mas a nobreza usava trapos de tecido, folhas isoladas, tipo jornal, para se limparem. 

A historiadora Mary Del Priore verificou que, em cartas para diversas famílias, viajantes europeus afirmavam que as residências de brasileiros eram “repugnantemente sujas” e “mau cheirosas”, com penicos espalhados pelos cômodos e chãos imundos.

Com a vinda de imigrantes europeus para trabalhar nas lavouras de café, trouxeram em suas bagagens, as técnicas e conhecimento sobre o processo de produção de papel. Pequenas fabriquetas, de forma bem artesanal, começaram a surgir no Rio de Janeiro e São Paulo. A produção era limitadíssima. E os primeiros protótipos desse produto eram caríssimos. Não era qualquer um que podia comprar!

Os mais jovens riem quando ficam sabendo que seus antepassados utilizavam sabugo de milho em substituição ao papel higiênico que ainda não existia


História em quadrinhos

Em 1928 a Companhia Melhoramentos S/A fez o lançamento do Sul América, o primeiro papel higiênico produzido na América Latina. O revolucionário produto era embalado em um pacote com 500 folhas soltas e o tom era meio amarelado.  

Somente em 1952 foi que surgiu, em Pernambuco, na cidade de Jaboatão dos Guararapes, a primeira fábrica para produzir papel higiênico de rolo em larga escala. A fábrica produzia papel higiênico, papel de embrulhar pão e embrulhar charque. A Industria Portela S/A produzia rolos de 20 metros de papel higiênico, que tinha uma cor acinzentada devido à qualidade de seu tratamento industrial. Mas, mesmo assim, o produto foi sucesso.

Nessa época, na década de 1950, a Northern lançou um papel higiênico nos Estados Unidos cuja propaganda dizia: “Os únicos sem lascas”, em razão da aspereza desses produtos. No Brasil ficou famoso o papel rosa, feito de um material tido como inferior, de folha única e áspero como uma lixa, que felizmente saiu do mercado e não deixou saudades.

Na década de 1960 um fabricante chegou a fabricar nos Estados Unidos um papel higiênico com histórias em quadrinhos. Mas as autoridades de proteção ao consumidor obrigaram a empresa a tirar as tiras de circulação, pois estavam desviando a atenção das crianças quando elas iam ao banheiro.

Para muita gente é inimaginável substituir o papel higiênico por sabugo de milho. Mas essa foi a pura e triste realidade daqueles viveram antes dos anos 50 ou 40 no Brasil

Artigo de luxo

Por ser considerado um artigo de luxo, até meados da década de 1970, só tinham acesso ao papel higiênico no Brasil as famílias de classe alta. Os menos afortunados se viravam como podiam. Na maioria das vezes, com o que estivesse à mão. Folhas, grama, pedaços de madeira, areia, peles de animais, casas de frutas, jornal, o famoso sabugo de milho e até com as mãos. 

A limpeza com mãos é ainda utilizada pelos indianos na Índia. Segundo a professora de história da USP (Universidade de São Paulo), Tereza Pereira de Queiroz, “os indianos usam somente a mão direita para comer e cumprimentar as pessoas”. “A mão esquerda era usada para se limpar”.

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A invenção e a popularização do papel higiênico é um produto que surgiu faz apenas algumas décadas atrás no Brasil

O mau cheiro era tanto no começo do século passado...

... que improvisavam com leques e os perfumes criados pelos franceses


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