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Ada Rogato teve uma trajetória sensacional na aviação brasileira |
Ada Rogato foi a primeira piloto de planador e se destacou na aviação no Brasil e no mundo. Ela nasceu em São Paulo em 22 de dezembro de 1910 e era filha dos imigrantes italianos Guilherme Rogato e Maria Rosa Greco Rogato, ambos naturais da Calábria. Foi a primeira dobradora de paraquedas e a primeira mulher a saltar de paraquedas na América do Sul. Foi a terceira mulher a tirar breve para pilotar avião, se destacando pelas acrobacias aéreas e como a primeira piloto agrícola do país. Ela também foi a primeira aviadora agrícola a trabalhar na pulverização das lavouras de café e algodão.
Voando em aeronaves de pequeno
porte e sempre sozinha, ela ganhou fama nacional e internacional a partir dos
anos de 1950, graças à ousadia cada vez maior das proezas que fizeram dela uma
vanguardista da aviação brasileira. Como paraquedista executou 105 saltos e
inaugurou inúmeros campos de aviação e pequenos aeroportos pelo interior do
Brasil.
Ada recebeu dos pais a
mesma educação dada à maioria das moças de classe média da época. Além do
colégio, teve aulas de piano e pintura. Mas o que ela queria mesmo era aprender
a voar. Quando ela estava com 20 anos, seu pai abandonou a família para formar
uma nova em Alagoas, onde consolidou a carreira como fotografo e
cineasta. E com a segunda esposa teve mais uma filha, a médica Flávia Rogato.
Ada trabalhou em diversas
empresas. Aprendeu a dobrar paraquedas e se matriculou num curso de
paraquedista, quebrando todos os preconceitos da época. Ajuntou dinheiro para
comprar seu primeiro avião e quebrou barreiras em um cenário dominado por
homens.
Em abril de 1951, Ada percorreu 51 mil quilômetros voando 326 horas, passando por diversos países das três Américas, do Sul, Central e do Norte. Em 1956 foi a primeira a sobrevoar a floresta Amazônica. Foi a primeira mulher a pousar com seu avião em Brasília, quando a capital do país ainda estava em construção.
Em 1960 se tornou a primeira mulher
a chegar pilotando um avião até Ushuaia, conhecida como a Terra do Fogo, na
Argentina, a bordo avião Cessna, apelidado por ela como “Brasileirinho”. E só
não foi mais longe nos anos seguintes por não ter conseguido obter um avião
ainda maior e mais potente.
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Ada Rogato pilotando o seu "Brasileirinho" rumo a uma das suas aventuras |
Como da Fundação Santos Dumont, da qual foi conselheira, secretária e presidente, Ada recepcionava os visitantes mais ilustres no Museu da Aeronáutica, o primeiro da América do Sul, para o qual doou o seu avião “Brasileirinho”. Entre esses visitantes, contam-se vários astronautas norte-americanos, incluindo Neil Armstrong, que, antes de se tornar o primeiro homem a pisar na Lua, conheceu ali a aviadora e seu avião e a elogiou por suas façanhas. Ela foi vencida por um câncer e faleceu em 1986, aos 76 anos.
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Ana Rogata foi a primeira mulher a trabalhar na dobradura de paraquedas |
Encontro inesperado
O cineasta paulistano Arthur Steagall Condé, que reside hoje em São José do Rio Preto, conta uma interessante e emocionante passagem dele com a aviadora Ada Rogato. “Em 1984 eu estava em São Paulo com a minha namorada (Mônica de Andrade Condé), que depois se tornou minha esposa. Visitamos o Museu da Aeronáutica, naquele prédio que foi projetado por Oscar Niemeyer. Fomos visitar o acervo. Entramos por uma porta de vidro bem larga e percorremos um trajeto que nos levava para o pavimento mais abaixo”, lembra Arthur.
“Eram rampas em espiral, que estão lá até hoje”, recorda. “E começamos a visitar todo o acervo de aviação que havia lá. Encontramos o imponente Jahu, hidroavião avião maravilhoso, que estava lá ainda estava em bom estado de conservação. O 14 bis, pendendo do alto com cabos e a leveta do Demoiselle. Muito bonita as duas obras de Santos Dumont. E nós nos detivemos um pouco nos murais extensos com a narrativa das aventuras e da epopeia da viagem de Ada Rogato pelas três Américas. Parei e me detive a ponto de procurar e querer saber detalhes daquela viagem. Me detive ali por uns 15 a 20 minutos. Ali devorei toda informação disponível e fiquei fã daquela aviadora, que eu não conhecia e não sabia muito a respeito de Ada Rogato. Fiquei fã daquela aviadora. Ela se tornou naquele momento uma espécie de heroína para mim”.
Arthur conta que estava para sair do prédio quando escutou uma pessoa chamando o casal. Distante a uns 30 metros eles viram uma mulher, que parecia ser uma funcionária do museu. “Ela estava próxima de uma mesa, uma escrivaninha, trajando-se muito bem, até parecia uma comissária de bordo, pois tinha um lenço no pescoço, usava um casado, tipo um tailleur, com cabelo bem arrumado, enfim uma pessoa de boa aparência”, lembra. “Fiquei preocupado Imaginei que talvez iria nos chamar a atenção, por termos infringido alguma regra, termos tocados em alguma peça, um avião, algum objeto que não poderia ter sido tocado. Caminhamos então preocupados em direção a ela, que nos recebeu com um grande sorriso e perguntou para nós: vocês já assinaram o livro de presença? E nisso eu, aliviado, imediatamente devolvi o sorriso e já fui pegando a caneta para a assinar o livro. Minha esposa, um pouco atrás de mim, fez o mesmo. E aquela funcionária nos fez outra pergunta: do museu que visitaram o que mais chamou a atenção? A minha esposa respondeu que gostou de tudo, que adorou o museu. Eu ia responder a mesma coisa, mas daí pensei um pouquinho mais e respondi que gostei de saber a história de uma aviadora, uma tal de Ada... e aí ela completou: 'Ada Rogato'. Falei isso mesmo. E daí comecei a contar tudo o que eu tinha aprendido naqueles murais, a poucos minutos atrás. Relatei a passagem dela pelas três Américas, a façanha nos Andes e dos banquetes em suas homenagens. Enfim fiz toda a narrativa até chegar a viagem ao Alasca”.
“Daí a ela olhou para mim e disse solenemente: 'eu sou Ada Rogato'. Naquele momento meu coração disparou! Eu, naquele momento, não tive outra reação do que dar uns cinco passos em direção a ela e abraçá-la. Juntos nós choramos. Um dos momentos magníficos que nunca vou esquecer”.
Arthur Steagall Condé disponibiliza a história de Ada Rogato e o encontro inesperado com ela num vídeo de 9 minutos disponível no Youtube. Clique aqui para assistir o vídeo. Vale muito a pena ver e ouvir essa história fantástica. E não deixe de comentar e se inscrever no canal da produtora Emotion Picture, do Arthur Condé. As fotografias que ilustram essa matéria foram reproduzidas do vídeo da produtora Emotion Picture.
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Ada Rogato durante um dos seus voos, na cabine do avião |
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Ada Rogato com o seu avião "Brasil", com o qual ela cruzou as três Américas |