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Além das limitações, Beto tem a filha como combustível para superar suas dificuldades

 

José Roberto da Silva Ananias é exemplo de superação em Bady Bassitt

Nelson Gonçalves, especial para a Folha2

A superação de barreiras é uma jornada constante para muitas pessoas, especialmente para aquelas que enfrentam desafios devido a uma deficiência física. Para essas pessoas, a vida é uma série de obstáculos, mas também de vitórias, mostrando que a força humana é capaz de ir além do que parece ser impossível. Assim tem sido a vida para José Roberto da Silva Ananias, o Beto ou Betão, como gosta de ser chamado pelos amigos.

Beto nasceu em Nova Granada em 1967 e com um ano de idade sua família mudou-se para a capital paulista. Lá, depois de trabalhar em diversas atividades, se firmou como representante comercial, viajando muito pelo interior paulista, do Paraná e Mato Grosso.

Quando tinha 18 anos conheceu Erlene Angioletto, sua atual esposa. Namoraram por alguns anos e ao terminar o namoro ficaram sete anos sem se ver e nem ao menos conversar. Até que um dia quis o acaso que ele precisasse ligar na empresa onde ela trabalhava. Era uma empresa grande com vários funcionários e a ligação geralmente era sempre atendida por uma telefonista, que passaria a ligação para o setor desejado. Porém quem atendeu aquele telefonema nesse dia foi a própria Erlene.

“Acho que foi coisa de Deus ela mesmo ter atendido aquela ligação, após sete anos sem nunca mais termos nos falado”, acredita Beto. “Quando ouviu minha voz e me reconheceu na hora ela ficou assustada com a ligação”, lembra, acrescentando que quando Erlene perguntou o que desejava, ele foi rápido e direto: a convidou para saírem, para comer, juntos, uma pizza.

 Retomaram o namoro e Beto fez o pedido de casamento. Foi amor à primeira vista. Erlene largou o emprego numa empresa multinacional e decidiu vir morar com Beto em São José do Rio Preto. Beto, até então uma pessoa normal, conta que fumava muito e que um dia sentiu que não conseguia mais segurar o cigarro com a mão direita. Assustado procurou médicos e descobriu uma doença rara. Foi diagnosticado com esclerose múltipla, que começou afetando os movimentos e a fala.


Beto é associado do Rotary de Bady Bassitt e não perde uma reunião do clube

 Superando dificuldades

Beto procurou tratamento médico e não se abalou. A esposa foi fundamental nesse período. Mas o grande remédio para ele foi o nascimento, em 2012, da sua filha Júlia. “É ela que me dá animo para enfrentar todos os desafios da vida”, diz Beto, explicando que cada dia é uma batalha, mas, ao mesmo tempo, uma oportunidade de crescer, de aprender e de se reinventar.

Um vizinho dele, o dentista Ricardo Maluf, o convidou para integrar o Rotary Clube de Bady Bassitt. Na época foi o primeiro associado cadeirante do clube e do Distrito 4488. Nesse tempo as pessoas mal compreendiam o que ele falava. A doença tinha afetado de sobremaneira sua coordenação motora. “Teve época que a minha esposa tinha que me dar comida na boca porque eu não conseguia mexer os braços”, lembra.

“Hoje, graças a Deus não tomo nenhum remédio”, comemora. “O meu remédio chama-se Júlia, a minha filha”. Para muitos, o maior remédio é naquilo que traz sentido, nas relações que oferecem apoio incondicional e no amor que nutre a alma. No caso de uma deficiência física, esse remédio pode ser, muitas vezes, um sorriso, um olhar carinhoso, ou até o toque de quem ama. “No meu caso, o remédio é minha filha. Ela representa a força, a razão e a motivação para continuar, para seguir adiante, apesar de todas as dificuldades que uma pessoa com deficiência pode ter”.

“O amor de uma filha é transformador. Ela é minha inspiração, meu combustível diário para não desistir. Cada passo que você dá, mesmo que difícil, é por ela, por garantir um futuro melhor, onde ela possa ver seu pai superar todas as barreiras, sejam físicas, emocionais ou sociais. A filha é mais que uma simples fonte de alegria; ela é a prova viva de que, com amor e determinação, qualquer barreira pode ser derrubada. E assim, com ela ao meu lado, encontro forças para vencer as limitações, mostrando que a verdadeira superação vai além da física: ela é uma conquista do coração”.

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A Câmara Municipal de Bady Bassitt prestou homenagem recentemente para o Beto

 Exemplo de vida

Mesmo sentado numa cadeira de rodas, com as dificuldades para locomoção, Beto realiza, faz 7 anos, todos os sábados, um ritual que poucas pessoas com disposição de andar fazem. Ele prepara 45 marmitas, que sua esposa procede a entrega para famílias que tem necessidade na periferia de Bady Bassitt.

E quem prepara toda a comida, que vai para o fogão cozinhar feijão, arroz, carne, macarrão e as saladas de mistura é o próprio Beto. “Sou um cozinheiro de mão cheia”, se gaba.

Também faz anos que Beto acorda cedo. Por volta das 5 horas da manhã já está em pé. Ajuda a preparar o café para a filha tomar antes de ir para a escola e daí ele segue para a academia. “Faça chuva ou faça sol estou pontualmente as seis horas da manhã na academia”.

Outra atividade que ele não perde de jeito nenhum são as reuniões do Rotary Clube de Bady Bassitt. Com sua cadeira de rodas movida a energia elétrica ele atravessa a cidade inteira para não faltar nas reuniões do clube. No Rotary ele tem como afilhado o policial rodoviário federal Flávio Catarucci, que foi presidente do clube na gestão 2023-2024.

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Beto em recente atividade do Rotary Clube de Bady Bassitt, durante a campanha nacional contra a proliferação da Hepatite B

Beto com a filha Júlia, o seu combustível e remédio para tocar a vida em frente

 

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