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Em 15 de novembro de 1889, um ano após a abolição dos escravos, foi o dia em houve um levante em frente do Palácio Imperial no Rio de Janeiro contra a monarquia de Dom Pedro 2º |
Por Nelson Gonçalves, especial para a Folha2
A Proclamação da República, celebrada no dia 15 de novembro, marca um dos momentos mais significativos da história do Brasil. Para além da troca de regimes - da monarquia parlamentarista ao período republicano presidencialista - simboliza a transformação na forma de governo, com impacto nas estruturas políticas nacionais e nos princípios que ainda hoje moldam o ideal de cidadania no Brasil.
Apesar de ser feriado nacional, a Proclamação da República muitas vezes é confundida com o Dia da Independência, celebrado em 7 de setembro. Segundo o professor Alexandre Costa, do Centro Universitário de Brasília (CEUB), os dois eventos são fundamentais, mas refletem momentos e objetivos históricos distintos: “A Independência, em 1822, simbolizou o grito de soberania do jovem Estado brasileiro, enquanto a Proclamação da República, em 1889, representou o rompimento com a monarquia e a redefinição da estrutura política. Ambos moldaram a formação da identidade nacional, mas a república buscava afirmar a figura do cidadão em substituição ao súdito do império.”
A transição do status de súdito para cidadão brasileiro foi um processo que levou tempo e ainda enfrentou inúmeras limitações. Embora a república representasse uma nova organização política, a estrutura da pirâmide social permaneceu praticamente inalterada. "As camadas mais baixas, compostas em grande parte por ex-escravos e seus descendentes, continuaram em posição desprivilegiada”, ressalta o professor. “Somente as oligarquias locais, as camadas mais altas da sociedade, inicialmente se beneficiaram, assumindo o poder e moldando o novo sistema político a favor de seus interesses próprios".
Coisa pública
A título de curiosidade: do latim res publica, que significa “coisa pública”, a palavra República reforça a noção de que os bens e os interesses do Estado pertencem ao povo. Nesse sentido, o docente do CEUB salienta a importância desse princípio no texto constitucional. "Nossa Constituição deixa claro, no artigo 1º, que ‘todo o poder emana do povo’, o que fundamenta a noção de que o Estado deve satisfazer as necessidades de seus cidadãos, protegendo seus direitos fundamentais, como o direito à vida, à liberdade, à educação e à cultura”.
Hino Nacional
Com a Proclamação da República aconteceu algo inédito mundialmente falando na questão do hino que iria representar o país nas solenidades. Poucos sabem, mas a melodia do Hino Nacional existe há quase dois séculos, desde 1831, quando o maestro Francisco Manuel da Silva compôs a música que acompanharia a abdicação de Dom Pedro 1º. Apesar de não ter letra, o arranjo era usado em cerimônias e eventos públicos, consolidando-se como o hino oficial que simbolizava a unidade e patriotismo brasileiro. Em 1922, quase 100 anos depois, o governo brasileiro oficializou a letra atual, escrita por Joaquim Osório Duque Estrada.
Francisco Manuel da Silva era maestro da Orquestra do Império e não ganhou absolutamente nada para compor a melodia do Hino Nacional. O poeta Joaquim Osório Duque Estrada ganhou um bom montante de dinheiro ao vencer o concurso que escolheria a letra para a composição e completar assim a execução do Hino Nacional.
O autor da letra e da melodia apesar de terem nascido e morado na mesma cidade, o Rio de Janeiro, não se conheceram. Quando Osório Duque Estrada nasceu fazia cinco anos que o maestro Francisco Manuel tinha falecido.
Mas outra ainda mais curioso ainda é que logo que foi proclama a República os líderes do movimento republicano se apressaram em lançar concurso para a escolha de um novo hino. Houve a participação de 30 concorrentes e o hino escolhido, com letra de Medeiros e Albuquerque (1867-1934) e música de Leopoldo Miguez (1850-1902) não agradou, no dia de sua apresentação em uma noite de gala, no Teatro Municipal, o então presidente da República, Marechal Deodoro da Fonseca. “Aquele hino que já estávamos usando é muito mais bonito”, exclamou Marechal Deodoro.
Como o concurso já tinha sido realizado e o governo já havia até pago uma grande quantia em dinheiro para a dupla vencedora a solução foi o “chamado jeitinho brasileiro”. Por decreto, Marechal Deodoro, aconselhado por assessores, nomeou o hino escolhido como o “Hino da Proclamação da República do Brasil, inaugurando um fato inédito: o Brasil era o primeiro país a ter um hino para essa data.
Ciúmes doentios do Marechal Deodoro
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O trio amoroso entre a Baronesa do Triunfo, Marechal Deodoro e Gaspar Martins Silveira |