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Em 11 de agosto se comemora o Dia do Advogado e o “Dia do Pendura”

Estabelecimento em São Paulo já colocou letreiro bem grande na porta que não aceita o "Dia do Pendunra" para comemorar o Dia do Advogado sem pagar a conta

 

Nelson Gonçalves, especial para a Folha2

Todo dia 11 de agosto é dia de festa para os acadêmicos dos mais de mil cursos de Direito no Brasil. Isso porque é nesta data que se comemora o Dia do Advogado e o tradicional Dia do Pendura. A data remete à criação dos cursos Jurídicos no Brasil.  Foi no dia 11 de agosto de 1827 que Dom Pedro 1º autorizou o funcionamento das duas primeiras faculdades no país: a Faculdade de Direito do Largo de São Francisco, em São Paulo, e a Faculdade de Direito de Olinda.

Ao contrário de outros países da América Latina, que, desde seu primeiro século de colonização, tiveram a instalação de universidades em seus territórios, o Brasil, até a fase do Império, foi um país atrasado em termos educacionais. Não havia até então recebido nenhuma instalação de nenhum curso superior. Quem quisesse estudar Direito, Medicina ou Engenharia, teria que que se mudar para algum país europeu. Com exceção do sistema de ensino do padres jesuítas, que se preocupavam com a formação colegial das moças e rapazes da época, durante o período colonial não ocorreu muito avanços na área da educação. Até então a educação dos brasileiros era restrita somente às famílias mais abastadas, que tivessem condições de manter seus filhos estudando fora do país.

As duas primeiras faculdades brasileiras, a de Olinda e de São Francisco, somente foram construídas cinco anos após a independência do país.

Mais do que formar bacharéis em Direito, as faculdades de Direito de Olinda e São Paulo tornaram-se os primeiros centros de formação de intelectuais, no sentido mais amplo do termo. Talvez por isso a coroa portuguesa nunca deixou instalar aqui nenhuma faculdade ou universidade. Elas eram escolas de pensamento sociológico, antropológico, jurídico, histórico e de toda crítica cultural e política, onde eram discutidas ideias como o republicanismo, o abolicionismo, o liberalismo e outros avanços sociais.

Até a década de 1930, quando foi criada a Universidade de São Paulo, a USP, somente os filhos de famílias abastadas podiam ingressar nas faculdades de Direito. Foram de lá que saíram nomes como Castro Alves, Gonçalves Dias, Joaquim Nabuco, Pontes de Miranda, Silvio Romero, Tobias Barreto e muitos outros famosos.

 

|Cópia da Lei, assinada pelo Visconde de São Leopoldo, criando as Faculdades de Direito

Dia do Pendura, tradição no Brasil

O "Dia do Pendura" já criou muita confusão em várias partes do Brasil

   Dia do Pendura, ou Dia do Advogado, é uma tradição brasileira que ocorre no dia 11 de agosto, em comemoração ao Dia do Advogado. Nesta data, estudantes e profissionais da área do direito costumam se reunir em restaurantes para comemorar e celebrar a profissão.

Em respeito à profissão de advogado, que possuía prestigio e muita notoriedade na época do Império, os proprietários de restaurantes e bares convidavam os advogados e acadêmicos de Direito, no dia 11 de agosto, para comemorar a data. Faziam grandes banquetes, regados a muitas bebidas. E tudo, claro, era por conta do dono da casa.

Assim, advogados e aspirantes a tal comiam e bebiam por cortesia da casa. E ao final do banquete, os advogados e os acadêmicos mais destacados discursavam para os presentes no estabelecimento, em retribuição ao convite e à “homenagem”. Os discursos, todos rebuscados de eufemismo, eram, claro, dirigidos aos proprietários das casas, que ficavam envaidecidos com tantos elogios.

Proliferação dos cursos de Direito

 Com o passar dos anos e a proliferação dos cursos de Direito no Brasil, o Pendura foi ficando insustentável. Os convites dos proprietários para o dia 11 de agosto para os advogados e estudantes de Direito comerem e beberem de graça foram acabando e, desta forma, os estudantes começaram a se “auto-convidar”. Entre as décadas de 1960 a 1980, os estudantes de Direito de todo o país começaram a invadir bares e restaurantes no dia 11 de agosto para comer, beber, fazer festa e saírem livremente sem pagar, sob a desculpa de comemorar o seu dia. O tal Dia da Pendura deu muita confusão por várias partes do Brasil. Em algumas cidades os estudantes foram parar na Delegacia da Polícia.

Enfim o Dia da Pendura, uma tradição de mais de 100 anos, se transformou em uma dor de cabeça para os donos de bares e restaurantes brasileiros. Muitos estabelecimentos amanhecem e anoitecem fechados no 11 de agosto. Preferem perder um dia de lucro a ter um dia de prejuízo.

A tradição que é ainda é mantida pelos estudantes de Direito preserva, no entanto, de não estender o calote aos 10% dos garçons, que devem ser pagos. Alguns profissionais e a ordens da classe no Brasil são contra o Pendura, alegando ir contra o papel do advogado na sociedade e ser uma ofensa à ética da profissão.

Tem, no entanto, alguns donos de restaurantes que oferecem nesse dia descontos de até 50% no valor da conta nesse dia aos advogados e estudantes de Direito, a fim de evitarem prejuízos maiores. Nos últimos anos, em algumas cidades, os estudantes de Direito inventaram o tal “pendura social”, onde o valor da conta deles nesse dia é direcionado e doado para alguma instituição benemerente. Assim os estudantes pagam a conta, os 10% do garçom, mas o dinheiro que iria para o dono da casa vai para alguma instituição filantrópica.

O Código Penal, em seu artigo 176, impõe que comer em restaurante sem pagar é crime. Entretanto, segundo o advogado Claudio Castello de Campos Pereira, a maioria dos casos que chegam à Justiça, no final os estudantes são absolvidos. Ele tem se colocado, nos últimos anos, em defesa dos estudantes flagrados nessas situações.

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Até candidata ao Miss Brasil participou do "Dia do Pendura" foi parar na Delegacia de Polícia

Pendura no Palácio Campos Elísios

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