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Cosmos é loja maçônica mais antiga em funcionamento na região de Rio Preto |
Nelson Gonçalves, especial
para a Folha2
“Quis o destino que eu
esteja como venerável mestre nesta data memorável de 125 anos de atividades
ininterruptas”, comemora o comerciante José Luiz Schiavinato. “Me sinto
lisonjeado em fazer parte dessa história”. Ao longo desses 125 anos cerca de 800
homens de bem foram filiados na loja. Atualmente, segundo o venerável, são 83
obreiros.
A data, a ser comemorada no próximo dia 17, será marcada com uma
palestra do médico Toufic Annbar Neto, integrante da loja e membro da Academia
Maçônica de Letras do Noroeste Paulista. Está prevista a participação de uma
comitiva de irmãos da loja maçônica Fé e Perseverança, de Jaboticabal, que ajudou
na fundação da Cosmos.
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O templo da loja Cosmos é um dos mais luxuosos da região e congrega várias lideranças da sociedade rio-pretense |
Santa Casa de São José do Rio Preto
A Santa Casa de São José
do Rio Preto com certeza não existiria se não fosse o maçom Theodoro Rodrigues
de Nazareth, integrante da Cosmos. Ele deixou em testamento a doação de uma
imensa gleba de terras no bairro Boa Vista para a construção de um hospital. Muitos
daqueles primeiros maçons colocaram literalmente a mão na massa, trabalhando,
de graça, como pedreiros, carpinteiros e serventes para ajudar a erguer o
prédio. Os irmãos da Cosmos saíram, por muitos anos, esmolando recursos pelas
ruas da cidade para arcar com as despesas do hospital. Os dois primeiros médicos, o italiano Feleno Faggiani e o alemão Fritz Jacob, eram custeados por meio de rateios que os maçons mais
abastados faziam entre si. A falta de médicos no ainda vilarejo tornava a vida muito difícil. Os farmacêuticos e os curandeiros faziam as vezes no atendimento à população.
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O coronel Adolpho Guimarães Côrrea e sua mulher Ermelinda. Ele foi o principal fundador da loja Cosmos em 1899. O primeiro venerável foi o sogro dele, Ezequiel Guimarães Côrrea |
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Segunda sede da loja Cosmos funcionava em prédio próprio, próximo ao Mercado Municipal |
Uma das primeiras causas
abraçadas pela Cosmos foi a implantação e ampliação da primeira escola pública
do município, onde Adolpho Guimarães foi professor. Antes mesmo da fundação da
loja, todos seus fundadores fizeram parte do grupo político que trabalhou para
a emancipação de São José do Rio Preto.
Logo no início de suas
atividades a loja Cosmos interviu para soltar da prisão um pastor, que fora
preso a pedido do padre Antônio Purita. Ele tinha sido acusado de praticar o “crime”
de pregar o Evangelho em praça pública. Posteriormente, dentro da sua filosófica
de abrigar todas as religiões, deu apoio para a instalação dos primeiros
centros espíritas na cidade.
Em agosto de 1924 quando
50 homens vindos de São Paulo, com força policial, especialmente para invadir,
empastelar e atear fogo na sede do jornal “Diário de Rio Preto”, os integrantes
da Cosmos se posicionaram contra a invasão e instaurou-se até uma sindicância
para apurar o caso, que só não houve um massacre e consequências maiores porque
os donos e funcionários conseguiram fugir às pressas. Durante o governo
ditatorial de Getúlio Vargas a loja foi obrigada a ficar dois anos e três meses
inativa. As reuniões eram feitas de forma clandestina e sem o registro de atas.
Quando Getúlio se suicidou e o vice-presidente Café Filho assumiu o cargo, a
Cosmos enviou carta com votos de congratulações e desejo de sucesso ao novo
presidente, que era maçom.
Em 1969 era aprovado,
durante sessão, o envio de uma carta de homenagem a Pelé pelo seu milésimo gol,
marcado no jogo entre Santos e Vasco da Gama. Em 1972 ajudava a fundar a Fulbeas
(Fundação Libero Badaró de Ensino e Assistência Social), que teve Waldemar Alves
dos Santos como primeiro presidente. Em 1973 a loja Cosmos foi uma das
signatárias da fundação do Grande Oriente Paulista (GOP).
Em 1977 a Cosmos manifestava apoio ao senador Nelson Carneiro para o seu projeto de lei que instituía o divórcio de casamentos no Brasil. Em 1979 era fundado o primeiro clube das Acácias da cidade. Em 1982 os maçons da Cosmos fundam a Loja Trabalho e Comunidade com objetivo de apoiar a candidatura a prefeito do maçom José Carlos de Lima Bueno, que foi o mais votado entre 10 candidatos, mas não ganhou a eleição por causa da sublegenda dos partidos. Ele disputou a eleição pelo PDS, com apoio do prefeito Adail Vetorazzo. Mas a legenda do MDB fez mais votos e elegeu Manoel Antunes, mesmo com menos votos do que Lima Bueno.
Ligada aos problemas da
cidade, a loja Cosmos não apenas discutia, como participou ativamente dos
problemas e assuntos que envolvem interesses comunitários. Uma delas foi a
campanha para a mudança do traçado ferroviário, pedindo para a retirada dos
trilhos da área central.
A loja também se posicionou
contra a privatização da coleta de lixo, contra a entrega do serviço de água e
esgoto para uma empresa particular e lutou bravamente pela duplicação da rodovia
BR-153. A Cosmos também abriu as portas do seu templo, em diversas ocasiões,
para que os candidatos a prefeito e a deputado expusessem suas ideias e
plataformas de governos. Em 1997 foi uma das instituições fundadores do Canal
16 que deu origem à TV da Cidade.
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Alberto Andaló, que foi venerável da Cosmos durante três mandatos seguidos, entre 1946 a 1949, compareceu no templo, já na condição de prefeito, para confraternizar com os irmãos da ordem |
O templo da loja Cosmos,
próximo ao Riopreto Shopping, não é o maior da cidade. Cabem 150 pessoas
confortavelmente sentadas. O templo da loja maçônica Doze de Novembro, que fica
ao lado do prédio da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) possui cerca de 400
metros quadrados e capacidade para 200 pessoas sentadas. Mas da Cosmos é, sem
dúvidas, o mais luxuoso e confortável. As poltronas, revestidas com tecido
vermelho, são todas com sistema automático de basculamento, com rebatimento simultâneo
do assento ao encosto. No topo da escada que leva ao altar estão as esfinges com
cara de gente e corpo de leões, guardiões do templo.
O sistema de som e iluminação
é um dos mais modernos do país. As luzes possuem um dispositivo para controlar
a intensidade da iluminação, podendo ajustar a luminosidade de uma lâmpada ou
conjunto de lâmpadas de forma gradual, permitindo criar diferentes efeitos para
o ambiente.
O primeiro templo da
Cosmos funcionava num prédio alugado. Depois mudou-se para outro imóvel alugado
e adaptado, onde também tinha uma casa para o zelador, Otávio Collus, que por
ser também membro da loja cuidava do imóvel sem receber salário. Em 1954 foi
inaugurado o templo próprio, na gestão de Orlando de Arruda Barbato. Era um
sobrado imponente, localizado próximo ao Mercadão Municipal. Possuía porão e
uma suntuosa escadaria na entrada. Ali se instalou em 1965 um dos primeiros
aparelhos de ar refrigerado da cidade.
Em 22 de maio de 1998 o
templo da Cosmos foi palco para o casamento de Nelson Silvestre Pappa e de
Maria Teresa de Abreu Pappa. "Foi uma cerimônia diferente e muito bonita", lembra, ressaltando que depois ele celebrou, como venerável, dois casamentos de obreiros da Cosmos. O supervisor de vendas Mauro César Marques não fez
parte da Cosmos, mas ocupou o trono da loja para presidir sessão magna para comemorar
o Dia do Maçom em 2019. “Eu era presidente do Convem, o Conselho dos Veneráveis
Mestres da cidade, e me senti honrado em ocupar a mesma cadeira, utilizada no
passado pelos fundadores do município e gente importante como Arthur Nonato e o
ex-prefeito Alberto Andaló”, observou Mauro César, que faz parte da loja
maçônica Aprendizes do III Milênio.
Em meados de 1972 o ex-venerável Pedro Rodrigues de Almeida propôs parceria com uma empresa para a construção de um prédio de 10 andares, cujos primeiros oito andares seriam alugados para escritórios comerciais e os dois últimos e a cobertura seriam destinados para salão de festas e o templo da loja. Mas a ideia não prosperou. Alguns anos depois começaram a discutir parceria com a Associação de Combate à Tuberculose, da qual Pedro era o presidente. Depois de muitas discussões foi fechado acordo e um contrato de concessão de 99 anos.
Na gestão de Odival Abrão
Jana, em 1998, foi dado início à construção do novo templo. No lançamento da
pedra fundamental compareceu o então prefeito Liberato Caboclo e o então
deputado estadual Edinho Araújo. Para angariar recursos, Jana promoveu o
sorteio de um Ford Ká e de vários almoços nas dependências do Lions Sul.
No começo do ano 2000, alguns integrantes queriam mudar o dia da sessão de sexta para segunda-feira. A ideia não prosperou. Mas deu vasão para a fundação da loja Luz do Universo, que realizaria sessões nas segundas-feiras.
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O primeiro templo da Cosmos funcionou numa modesta casa alugada, no bairro Boa Vista |
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Odival Abrão Jana deu início, em seu terceiro mandato, à construção do novo e moderno templo da Loja Cosmos. Para isso ele promoveu o sorteio de um Ford Ka |
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Odival Jana e o engenheiro Nicanor Batista, presidente da comissão de obras para a construção do novo templo, durante visita no canteiro de obras |
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O venerável Odival Jana coloca massa de cimento na pedra fundamental, numa cerimônia que contou com a presença do prefeito Liberato Caboclo e do então deputado Edinho Araújo |
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A esfinge de dois leões guardam a entrada de acesso ao trono do venerável no templo |
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Casamento de Nelson Silvestre Pappa com Maria Teresa de Abreu Pappa dentro do templo antigo da Loja Cosmos em 22 de maio de 1998 |
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Em 14 de setembro de 1947, Alberto Andaló na condição de venerável mestre da loja, ajuda a assentar a pedra fundamental que dava início às obras do antigo templo da Cosmos |
Esfinge do leão guarda a entrada de acesso ao trono
Duas esfinges com corpo de
leão e rosto masculino de um faraó guardam a entrada do acesso ao trono do
venerável mestre no templo da loja Cosmos. Os historiadores acreditam que a
esfinge era vista no Egito como uma espécie de guardiã espiritual do local onde
foram construídas as pirâmides. Na mitologia grega, a esfinge é uma criatura
misteriosa e desafiadora que encantou e aterrorizou viajantes com seus enigmas
intrigantes.