O paulistano Mário César Martins Camargo assume em julho de 2025 a presidência mundial do Rotary Internacional e o paraibano Fabrício de Oliveira assume, em julho de 2024, a presidência mundial do Lions Internacional
Nelson Gonçalves,
Especial para a Folha2
Se tivesse combinado,
talvez não teria dado tão certo. Coincidentemente nos próximos dois anos
teremos dois brasileiros comandando os dois maiores clubes de serviços do
mundo. O advogado e administrador de empresas Mário César Martins Camargo
assume em julho de 2025 a presidência do Rotary Internacional e o empresário
Fabrício Oliveira assume em julho deste ano a presidência internacional do
Lions. O orçamento das fundações mantidas por essas instituições são maiores do que muitos Estados brasileiros e de vários países africanos, asiáticos e latinos sul-americanos.
Tanto o Rotary como o
Lions são instituições centenárias presentes no mundo inteiro, em mais de 200
países nos cinco continentes. Coincidentemente os dois clubes de serviços foram
fundados na mesma cidade: Chicago, nos Estados Unidos. O Rotary surgiu em 1905
quando o advogado Paul Percy Harris reuniu um grupo de amigos para servir a
comunidade com o lema “dar de si antes de pensar em si”. Doze anos depois, em
1917, era fundado o Lions pelo corretor de seguros Melvin Jones, com o lema
“nós servimos”. Não há confirmação, mas existem evidências de que provavelmente
deve ter ocorrido uma disputa de vaidades entre os principais dirigentes dessas
instituições. Os dois eram maçons. E segundo consta em algumas publicações maçônicas
eram integrantes da mesma loja: Garden City.
Existe rotatividade na
presidência local, regional e internacional dessas instituições. O mandato é de
um ano em ambos clubes de serviços. No Rotary o último brasileiro que esteve na
presidência internacional foi o arquiteto santista Paulo Viriato da Costa, que
deixou o cargo em 1991. No Lions, Augustin Soliva, nascido na Suíça, mas
naturalizado brasileiro foi o último ligado nas terras tupiniquins a ocupar, em
1997, esse importante cargo.
Antes de Soliva, que
ingressou no Lions num clube de Oswaldo Cruz, o paulista João Fernando Sobral
também ocupou a presidência mundial da instituição em 1977. No Rotary outros
dois brasileiros ocuparam a presidência internacional: o paulistano Armando de
Arruda, em 1940, e carioca Ernesto Imbassahy de Melo em 1975.
Rotary no Brasil e no
mundo
Com sede mundial em
Evanston, em Illinois, nos Estados Unidos, o Rotary congrega cerca de 1,2
milhão de membros espalhados por mais de 37 mil clubes. Só no Brasil são mais
de 56 mil associados em 2.396 clubes e 38 distritos. O Rotary adota seis
idiomas como línguas oficiais: inglês, francês, português, italiano, japonês e
alemão.
O Rotary chegou no
Brasil em 1923 quando foi fundado no Rio de Janeiro o primeiro clube
brasileiro. Dois anos depois, em 1925, era fundado em São Paulo o segundo clube
brasileiro de Rotary. Dez anos depois foi fundado em São José do Rio Preto o
primeiro clube da cidade. A entidade tem hoje 12 clubes no município.
Lions no Brasil e no
mundo
O Lions possui sede em
Oak Brook, em Illinois, nos Estados Unidos, e tem cerca de 1,4 milhão de
associados, dos quais cerca de 37 mil estão no Brasil espalhados por 1404
clubes.
O Lions chegou no Brasil
em 1952 pelas mãos de Armando Fajardo, apreciador de corridas de cavalo. No ano
seguinte era fundado em São José do Rio Preto o sexto clube mais antigo do
Brasil. Atualmente a cidade conta com dois clubes da instituição.
Diferenças enormes entre
os dois presidentes eleitos
Mário César Camargo, do
Rotary, não se preocupa com a falta de cabelo. Já Fabrício Oliveira, do Lions, mostra
preocupação e percebe-se que ele, vaidoso, pinta o cabelo
A diferença entre os
dois brasileiros que irão assumir a presidência internacionais dessas duas
instituições é gigantesca. Enquanto Mário César é poliglota, dominando
principalmente o alemão e o inglês por ter morado dois anos na Alemanha e
quatro anos nos Estados Unidos. Já Fabrício fala -- quando se dispõe a falar com
alguém que não seja pessoas do alto escalão da instituição que irá dirigir –
somente o português. Para se comunicar nos encontros internacionais ele se vale
da ajuda de assessores e de outros brasileiros. O médico mariliense Ricardo
Komatsu, poliglota com boa fluência em inglês e japonês, é um dos assessores informais, sempre à
tiracolo para ajudar nas traduções o futuro presidente internacional.
Mário César, oriundo dos
intercâmbios de jovens, já foi visto participando em várias lives e encontros presenciais
com presidentes de clubes, governadores e até associados que sequer ocupam
cargos em seus clubes. Atencioso e sem medo das perguntas mais capiciosas, ele
coloca sua cara e voz em todos os espaços que lhe são abertos. E faz questão de
frisar que “o associado dos clubes é o maior patrimônio” do Rotary. “É para os
associados que temos que dar nossa atenção”.
O futuro presidente do
Rotary Internacional é natural de Santo André, onde mora e sempre teve atuação
na comunidade local, com destaque para um hospital que atende mais de 150 mil
crianças por ano e foi seu principal dirigente. Tem vasta experiência
administrativa. Formado em Direito e em Administração de Empresas, ele presidiu
a Abigraf (Associação Brasileira da Indústria Gráfica) e foi vice-presidente da
Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo). Afirma que lhe preocupa
muito a elevada faixa etária e a queda no número de associados. “Hoje em dia
temos muita concorrência para os clubes de serviços”, alerta. Leia entrevista feita com o futuro presidente do Rotary, clicando aqui
Mário
César Martins Camargo e a esposa Denise: preparados para o Rotary
Homem de difícil acesso
Fabricio Oliveira e a
esposa Amariles Martins de Oliveira, em evento do Lions
Faz mais de um ano que a
reportagem da Folha2 tenta falar com Fabricio Oliveira. A redação já
encaminhou inúmeras mensagens para o seu celular e e-mail. Não obteve nenhuma
resposta. Fez ligações para o seu estabelecimento comercial e residência e
deixou recado com seus funcionários. E por meio de integrantes do Lions,
durante visitas do mandatário em eventos leonísticos na Austrália, nos Estados
Unidos e no Rio de Janeiro tentou, de todas as maneiras, agendar, sem sucesso,
entrevistas. Até uma carta da redação, solicitando entrevista, foi entregue
pessoalmente por meio da esposa de um ex-governador de um Distrito do Lions.
Por meio do médico Ricardo Komatsu, ele solicitou que fossem enviadas perguntas
por escrito. Assim foi feito. Mas não se obteve respostas.
O ex-governador do
Distrito LC-6 do Lions, Roberto Luiz de Freitas, de Franca, tentou intermediar
a entrevista. Argumentou que o presidente eleito tinha feito cirurgia de
cataratas e que estava com dificuldades para ler mensagens no celular ou no
computador. Diante dessa informação, a reportagem dispensou o envio de
mensagens e começou a ligar insistentemente. As ligações, durante os últimos
dois anos, nunca foram atendidas. E também ele nunca retornou.
Por sugestão de Elídio
Okano, que assume em julho como governador do Lions, a reportagem da Folha2 redigiu
uma carta, que foi entregue em mãos, durante convenção do Lions, ao próprio
presidente eleito, pela senhora Nilza, esposa do ex-governador do Distrito LC-6,
Sérgio Davi, de Neves Paulista. Nos bastidores leonísticos o futuro presidente
ganhou a alcunha de “PI, o Presidente Inacessível”. “Ele me parece ser ‘muito
estrela’ e não fala e nem dá atenção para ninguém”, disse um ex-governador,
pedindo para não ter seu nome revelado.
Um dos líderes da Região Sul do Léo Clube, entidade voltada para os jovens, também
tentou intermediar entrevista para a Folha2 com Fabricio de Oliveira
quando esteve lado a lado com o mandatário na Austrália. “Falar eu falei
com ele (Fabrício) assim como conversei bastante com a atual presidente Patty
Hill, que foi super atenciosa conosco”, informou. Em resposta às interpelações
do ex-dirigente do Léo, o mandatário disse que era “muito ocupado” e que “não
tinha tempo para ver mensagens em seu celular”.
Durante a realização do
1º Congresso das Oito Causas Globais, promovido pela Fundação Armando Fajardo,
que tem na organização integrantes do clube mãe do Lions no Rio de Janeiro, Fabrício
de Oliveira foi anunciado como o palestrante principal para a abertura do
evento. Mas frustrou os participantes ao não comparecer no evento. Mandou um vídeo,
muito mal feito, de produção caseira, onde era visível que estava lendo as
informações contidas no site da instituição. Um dos integrantes da comissão
organizadora revelou que eles tiveram dificuldades para contactar com Oliveira.
“Se não fosse uma das associadas do clube, que era amiga da mulher dele, nem o
vídeo a gente conseguiria para ser exibido na abertura conseguiríamos”.
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Nilza entrega carta para Amarildes e pede para que o marido dela atendesse a reportagem da Folha2 |
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Nilza, esposa do ex-governador Sérgio Davi, entrega carta (veja no detalhe o endereçamento) para Amariles solicitando para Fabrício Oliveira atender a reportagem da Folha2 |
Momentos conturbados no
Lions
Enquanto a escolha do
nome do brasileiro Mário César Martins para postular a presidência do Rotary
ocorreu de forma unânime entre os brasileiros e estrangeiros, o endosso do nome
de Fabrício Oliveira para ser homologado para candidato a presidente
internacional do Lions passou por momentos de turbulência. O ex-governador do
Distrito LC-6, o jornalista Hairton Santiago, conta que “a imensa maioria dos
leões brasileiros tinha preferência por Rosane Terezinha Jahnke, ex-diretora
internacional da Área Constitucional 3 que engloba os países da América do Sul,
América Central, México e ilhas do Caribe”.
Rosane é poliglota,
associada do Lions Clube de Blumenau em Santa Catarina. Segundo Santiago, ela possui
“exemplar atuação” na difusão de Lions Internacional e é uma abnegada dirigente
da Federação das Apaes (Associação dos Pais e Amigos dos Excepcionais). “Mesmo
contando com apoio massivo de Distritos do Lions nas regiões Centro-Oeste,
Sudeste, Sul e dezenas de países europeus, ela não foi endossada pelo colegiado
de ex-diretores internacionais no Folac (Forum Latino Americano e do Caribe)”,
lamenta Santiago. “Foi uma surpresa isto, tristeza imensa essa decisão e até
hoje o fato não está claro entre os brasileiros associados de Lions que
apoiavam e acreditavam na homologação do nome de Rosane”.
A própria Rosane,
conversou, por telefone com a reportagem da Folha2 quando estava, na
semana passada, na Bélgica, e culpou a “máquina” vitalícia de interesses,
formada por ex-diretores da organização. “É a ‘máquina’ que decide”, afirmou.
“Antes mesmo da eleição o nome dele (Fabrício) já figurava como eleito. Pessoal
de Portugal e do Peru nos avisaram que era ele que eles querem. Leão paga
quotas, funda clube, traz associado, faz o serviço, mas na hora da escolha, na
hora de decidir não decide. Fica por conta da ‘máquina’”. Essa decisão imposta
por dirigentes vitalícios da instituição não foi bem aceita por parte dos associados
brasileiros. Há indícios, segundo alguns dirigentes que acompanham essas escolhas,
de possíveis "supostas vantagens financeiras". Porém, dentro do Lions, o assunto é tratado de forma muito reservada. Ninguém quer se expor porque não existem provas, apenas suposições e ilações não comprovadas.
Oliveira é de Catolé do
Rocha, cidade distante a cerca de 400 km de João Pessoa, capital da Paraíba. É
empresário no ramo de vestuário, presidiu a Câmara dos Dirigentes Lojistas
(CDL), o Campestre Clube e a Fundação Manoel Vitoriano de Freitas, instituição
mantenedora do Hospital e Maternidade Ermínia Evangelista. Foi diretor do Tabajara
Atlético Clube. Também ocupou a presidência da Federação do Clube dos
Dirigentes Lojistas (FCDL) da Paraíba e esteve envolvido na política. Durante a
gestão do governador Cássio Cunha Lima foi secretário da Indústria e Comércio.
Falta de atenção para com os associados
Antônio Domingos Andriani, que foi governador do Lions no começo
da década de 1990, afirma que muitos dos atuais dirigentes internacionais dispensam
pouco tempo para dar atenção aos clubes e aos seus associados. “Para muitos deles,
está tudo bem desde que se pague as taxas cobradas”.
Para Andriani, “está na hora de manifestarmos nossa discordância
com esse estado de coisas: a pouca atenção que a cúpula dirigente dispensa às
nossas unidades de base, que são os clubes”. “E nós temos força para isso!”,
ressalta. “Nossos dirigentes maiores estão incrustados em órgãos com nomes
pomposos, com centenas de cargos, que se reúnem periodicamente, mas cujos resultados
raramente chegam aos clubes. E quando chegam, somente através de algumas
publicações oficiais que normalmente chegam aos clubes com muito atraso, e muitas
vezes com os fatos já ocorridos ou com data de validade vencida”.
Andriani é enfático em suas críticas aos principais dirigentes
internacionais do Lions. “As bases dificilmente são ouvidas”, observa. “E nas
raras vezes que o são não tem suas opiniões respeitadas”. O ex-governador cita
como exemplo que houve uma eleição para que o Brasil elegesse seu diretor
internacional. “Os clubes, naquela convenção, e pelo voto de seus delegados,
indicaram quem deveria ser o candidato. A cúpula do leonismo não aceitou o
resultado da eleição e nem a indicação. Reunida a quatro paredes, resolveu que
o candidato seria outro. E foi! Tudo pela conveniência do poder”.
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Mário César por onde passa faz questão de manter diálogo com associados do Rotary, quer estejam ocupando cargos ou não na instituição. |
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Mesmo viajando por vários países, Mário César encontra tempo e disposição para atender associados e a Imprensa em todos os lugares por onde passa |
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Mário César se reúne, conversa e dá toda atenção aos jovens associados do Rotary em todos os países |
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Fabrício de Oliveira em fotografia tirada antes da pintura dos cabelos |