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Maklouf deixou dois livros que deveriam ser leitura obrigatória aos brasileiros

 

Jornalista Luiz Maklouf Carvalho durante entrevista para a Rede Globo

O jornalista Luiz Maklouf Carvalho não está mais entre nós. Mak, como era conhecido entre os colegas, faleceu em maio de 2020, após travar luta contra um câncer no pulmão. Mas ele deixou, entre tantos escritos, reportagens e livros, duas obras raras que deveriam ser leitura obrigatória para todo cidadão brasileiro: os livros “Já Vi Esse Filme” e “O Cadete e o Capitão”. Esses livros revelam, de forma isenta e desprovidas de paixões ideológicas, as verdadeiras facetas de dois dos principais líderes da atual política brasileira: o atual presidente Lula e o ex-presidente Bolsonaro.

 O primeiro livro, “Já Vi Esse Filme”, foi ganhador, em 2007, do Prêmio Jabuti, considerado como o Oscar da literatura brasileira. Nesse livro, Luiz Maklouf Carvalho resume uma centena de reportagens sobre Lula e o PT (Partido dos Trabalhadores) entre 1984 e 2005 feitas por ele para quatro veículos da mídia impressa – Jornal do Brasil, Jornal da Tarde, O Estado de S. Paulo e Folha de S. Paulo. O livro conta a história dessas reportagens e traz a íntegra de várias delas, as que mais repercutiram. São casos, por exemplo, que revelou para o país a existência de uma filha do Lula, Lurian, do empréstimo que cinco deputados federais do PT tomaram do Sindicato dos Metalúrgicos de Manaus, sob a batuta de um colega parlamentar que confessou corrupção, e da reportagem que derrubou parte da versão do hoje presidente da República sobre a compra de um apartamento em São Bernardo do Campo. Ao final da leitura, chega-se a uma triste conclusão: desde a sua origem, o PT escondia irregularidades praticadas por seus dirigentes. E Lula, seu maior líder, fazia vistas grossas para tudo.

O outro livro, “O Cadete e o Capitão”, lançado em 2017 pela Editora Todavia, também rendeu a Maklouf o Prêmio Jabuti. Ele mostra de forma minuciosa, em 88 páginas, com imagens e farta documentação, as investigações sobre um momento controverso na trajetória de Jair Bolsonaro, quando ele foi expulso do Exército por indisciplina e ingressou na vida política para ganhar imunidade parlamentar.

O ex-presidente torna-se figura pública em 1986, quando saiu publicado um artigo na revista Veja em que ele reclamava do baixo salário pago aos militares. Um ano depois, nas páginas da mesma revista, ele reapareceu numa reportagem que revelava um plano para estourar bombas em locais estratégicos do Rio de Janeiro. A revista publicou um croquis, que detalhava o plano, supostamente desenhado pelo então tenente, mas que depois negou veementemente a autoria. Acusado de conspiração e instalado a prestar constas, Bolsonaro foi considerado culpado em primeira instância. Mas depois recorreu e apelou aos ministros do Superior Tribunal Militar (STM) que acabaram o inocentando num julgamento apertado por 4 a 3 votos,  favoráveis a ele. Antes disso, já tinha deixado a farda e ingressado na política, tendo sido eleito vereador para a Câmara Municipal do Rio de Janeiro.

Maklouf examinou toda a documentação do processo, escutou as mais de cinco horas de áudio da sessão secreta. Também entrevistou personagens que atuaram no caso, entre jornalistas da Veja e militares, colegas de farda de Bolsonaro. Todas entrevistas foram gravadas. Além de reunir indícios suficientes para apontar a autoria do croqui, como sustentou a revista Veja até o final, que era mesmo de Bolsonaro, Maklouf não deixa dúvidas de que o ex-presidente foi, naqueles tempos, mentiroso contumaz.

 Maklouf nasceu em Belém, em 1953. Formou-se em Direito pela Universidade Federal do Pará. E foi ali que, como revisor do jornal O Liberal, iniciou a carreira que o levaria a amealhar quase todos os prêmios possíveis que um jornalista pode ganhar. Como repórter do jornal paraense ganhou o primeiro de seus quatro prêmios Vladimir Herzog. Dono de um texto reconhecido pelos colegas por sua apuração exata, isenta e sem paixões ideológicas.

Ele também ganhou dois prêmios Jabuti: em 1998, com o livro “Mulheres que foram à Luta Armada”, a primeira obra a contar a experiência das militantes que pegaram em armas contra a ditadura militar; e, em 2205, com “Já Vi Esse Filme”. Maklouf também foi autor, entre outros, dos livros “Contido a bala: A Vida e a Morte do Advogado Paulo Fonteles”, advogado de posseiros no sul do Pará; e de “Cobras Criadas”, que retrata a biografia do polêmico David Nasser, o mais famoso repórter dos anos 1950.

 Os livros de Maklouf podem ser adquiridos pelos sites de diversas livrarias online. O livro “O Cadete e o Capitão” pode ser baixado gratuitamente, neste link, do grupo Resistir.

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Capa dos livros que deveriam ser leitura obrigatória para todos os brasileiros

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