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Romi-Isetta o primeiro carro fabricado no Brasil

Parecem três, mas são quatro rodas. O freio traseiro é único e central, posicionado entre as rodas. Foto: Marco Bari/Quatro Rodas 

 Por Nelson Gonçalves

Quem nasceu depois dos anos de 1960 dificilmente sabe que o primeiro veículo produzido no Brasil foi o Romi-Isetta. De características revolucionárias para a época, compacto e super-econômico, o pequeno carro fazia 25 quilômetros com um litro de gasolina e chamava a atenção por onde passava. A começar pela única porta que abria pela frente, ao contrário dos outros veículos que abrem pelas laterais.

O músico Maurício Gonçalves Pacífico, que chegou a morar em Portugal por quase 10 anos, desconhecia da existência desse veículo. E se espantou quando viu um exemplar numa fotografia antiga tirada defronte a Casa Buri, que leva o seu apelido em Marília. Na fotografia aparece o estranho veículo ao lado de um Fusca, dando para observar nitidamente que o Romi-Isetta era bastante compacto e muito  menor que o carro produzido pela Volkswagen.

 O Isetta era um projeto de carro barato e econômico, desenvolvido em 1950, na Itália, para suprir a demanda de mobilidade da sociedade no pós-guerra. No Brasil, tornou-se um objeto de desejo. Artistas e famosos não abriam mão de ter o seu na garagem. Mas como o Isetta era leve e tinha centro de gravidade baixo, ganhou também as pistas de corrida.

Os registros são contraditórios. A perua Vemaguet, da Vemag, é considerada por alguns como o primeiro carro nacional, apresentado em novembro de 1956. Porém há quem afirma e garanta que o Romi-Isetta foi o primeiro, lançado dois meses antes da Vemaguet.

O lançamento oficial do Romi-Isetta ocorreu em 5 de setembro de 1956, com a realização de uma caravana com os primeiros 16 carros produzidos no Brasil que desfilaram pelas principais ruas do centro de São Paulo. A fábrica ficava na cidade de Santa Barbara D’Oeste, na região de Piracicaba, interior paulista.

Em 1956 o presidente da República Juscelino Kubitschek de Oliveira, criou o Grupo Executivo da indústria Automobilística (GEIA), órgão governamental cuja atribuição era criar regras e condições para a implantação das indústrias automobilísticas no país. Segundo as normas do GEIA, receberiam incentivos fiscais os fabricantes de automóveis convencionais, com, no mínimo, duas portas e quatro lugares.

Como o Romi-Isetta tinha apenas uma porta e dois lugares (ou três, caso o terceiro passageiro fosse uma criança), não teve como receber benefícios e incentivos fiscais para compra e importação de peças e maquinários. Não era considerado um automóvel de fato.

Como resultado dessa política, o preço do Romi-Isetta passou de 700 para 1.400 dólares da época. Ainda era o mais barato do país, mas com uma diferença muito pequena em relação à Vemaguet, que era maior e cabia até cinco pessoas.

 Como tudo começou

Dia do lançamento do Romi-Isetta com desfile dos primeiros 16 carros em São Paulo


Em 1952, a Iso Rivolta começou a fabricar o Isetta (diminutivo da marca Iso em italiano), que se tornou o mais conhecido deles entre tantos mini-veículos produzidos naquela época na Itália. Sua patente foi vendida a fabricantes da Alemanha, França, Espanha, Bélgica, Inglaterra, Áustria e Suécia. Em cada país, o nome dos Isetta era antecedido pelo do fabricante local. Na Alemanha, como a BMW assumiu a produção o carrinho passou se chamar BMW-Isetta.

Em 1953 a marca chegou no Brasil e foi a vez de Romi, fabricante brasileiro de máquinas industriais, adquirir os direitos de produção. Os Isetta fabricados no Brasil seriam idênticos aos europeus, sem adaptações. Apenas os motores (inicialmente com 198 cilindradas) eram importados.

A Romi-Isetta tinha um processo de produção semelhante aos demais automóveis da época. A diferença é que praticamente todos os componentes eram entregues prontos por fornecedores. A Romi fabricava apenas o sistema de direção e o eixo traseiro. A montagem de cada carro demorava entre 50 a 70 horas. Ao todo 90 pessoas estavam envolvidas na produção.

Segundo os registros da época, a Romi fabricou cerca de 3.300 Isettas. Na Alemanha, a BMW chegou a vender 200.000. No Brasil a fabrica chegou a funcionar até 1961 com a produção do veículo. A Romi parou a produção de veículos e concentrou sua produção naquilo que já fabricava antes: máquinas industriais. Continua com sua sede em Santa Barbara D’oeste (SP). Em agosto de 2021 a Fundação Romi, mantida pela fábrica em Santa Barbara D'Oeste, inaugurou uma exposição para marcar os 65 anos do lançamento do veículos.

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A única porta do automóvel abria pela frente do veículo

O compacto Romi-Isetta chama a atenção por onde passa (Foto: Marco Bari/Quatro Rodas)

Os primeiros produzidos no Brasil tinha motor de 128 cilindradas


O Romi-Isetta era super econômica: fazia 25 km com 1 litro de combustível

Com quatro rodas o eixo principal ficava na parte dianteira

O veículo chamava a atenção das crianças e dos adultos

O Romi-Isetta chegou a disputar corridas no autódromo de Interlagos

A produção era feita em série na fábrica de Santa Barbara D'Oeste

O veículo também aparece em diversos filmes do cinema nacional

Romi-Isetta estacionado ao lado de um Fusca 

Vemagueti, que concorreu com o Romi-Isetta, abria as portas laterais ao contrário dos demais veículos









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