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Encontro casual dos Jordans, grupo brasileiro, com os Beatles

 

Há 50 anos, os Beatles atravessavam a Abbey Road a pé e criavam uma das capas mais icônicas da história. A foto, feita por Iran Macmillan, foi tirada no dia 8 de agosto de 1969

 Por Nelson Gonçalves

Uma história inusitada aconteceu com o grupo musical brasileiro The Jordans com os integrantes dos Beatles, a mais famosa banda de rock do mundo. Foi um encontro casual, quando os brasileiros faziam uma turnê pela Europa em 1967. Eles ficaram pelo menos 20 minutos diante dos caras, que eram os músicos mais famosos do mundo.

 Inspirados no nome da banda The Jordananes, que acompanhou Elvis Presley no início de carreira, o grupo brasileiro, formado inicialmente por um quarteto, nascido no bairro da Mooca, em São Paulo, fez tanto sucesso com suas músicas no Brasil que foi convidado para fazer uma excursão musical por vários países da Europa. Nessa época o grupo estava com seis integrantes em sua formação. Começaram pela Itália, passaram pela Espanha, Portugal, França e Inglaterra.

 Quando chegaram em Madri, na Espanha, os integrantes da banda brasileira ficaram surpresos com seus discos com capas em espanhol lançados lá pela gravadora Copacabana. “Nós nem sabíamos desse lançamento lá e compramos alguns discos para trazer ao Brasil para servir de prova para cobrarmos aqui depois os nossos direitos autorais da gravadora”, contou o guitarrista Aladin (Romeu Mantovani Sobrinho), em um programa de rádio. A guitarra era um instrumento que, naquela época, poucos conjuntos brasileiros possuíam.

 Encontro casual

Depois de passar pela França, viajando um dia inteiro sem comer, os brasileiros chegaram em Londres famintos. “A gente não sabia falar em inglês e não sabíamos pedir as coisas para comer”, lembra Aladin. “Já era tarde, passava das quatro horas da tarde, e estávamos com fome e não achávamos nenhum restaurante ou lanchonete abertos. Daí um amigo nosso, chamado Pepe, que era baterista e atuava ali como nosso interprete, falou que conhecia um restaurante ali por perto e que o dono poderia preparar um macarrão para nós comermos. Na hora: falamos vamos nesse restaurante então”.

 Chegando fora do horário no restaurante, num país onde todos primam pelo horário britânico, o próprio dono se prontificou a preparar o macarrão. No prédio antigo, com dois salões, os músicos brasileiros se acomodaram numa mesa de um dos salões. Enquanto isso Irupê, o saxofonista da banda, se dirigiu até o sanitário e na volta informava aos demais que tinha visto, do outro lado do salão, próximo do banheiro, um cara muito parecido com o Ringo Starr, dos Beatles. Irupê era gago e, emocionado com o que viu, ficou ainda mais gago e como dificuldades para falar: “e-e-e-u vi-vi no-no o-ou-tro sa-sa-lão um ca-ca-ra pa-re-ci-ci-do com o Ri-rin-go do-dos Bea-Bea- tles”.

 Para Irupê, o cara que ele tinha visto do outro lado do salão era muito parecido com o Ringo Starr, baterista do famoso grupo inglês. Porém todos os demais não acreditaram e nem deram importância, imaginando mesmo tratar-se de alguém parecido com um dos super-estrelas dos Beatles. Mas todos se enganaram.

 O almoço já estava sendo servido quando os quatro rapazes de Liverpool passaram diante da mesa onde estavam sentados os músicos brasileiros. Eles até deram uma parada para olhar o grupo. Todos ficaram sem reação e os integrantes dos Beatles saíram pela porta do restaurante. Imediatamente os seis integrantes do The Jordans se entreolharam entre si e concluíram que se tratava mesmo dos astros da música pop.

 “Um sujeito parecido com o Ringo, tudo bem. Mas outro com o Paul McCartney, outro com o George Harrison e outro com o John Lennon não podia ser assim tanta coincidência”, lembra Sival (Olímpio Sinval Drago), outro guitarrista do The Jordans. “Eram os caras mesmos! Eram os Beatles mesmo, de carne e osso, ali na nossa frente. Quando eles saíram pela porta caiu a nossa ficha e daí largamos tudo, o almoço inclusive pela metade, e saímos correndo atrás dos caras”.

 Aladin e Sival contam que viram eles subiram num predinho e foram atras. “Chegamos lá batemos na porta e próprio John Lennon quem abriu e eu estava com os nossos discos Long Play, que nós tínhamos comprados na Espanha para trazer para o Brasil, e falei: ‘brazilian group’. E aí ele associou que éramos um conjunto de música do Brasil. O Johnn Lennon, muito solicito, disse ‘thank you’, pegou os discos, achando que estivéssemos dando de presente para ele e colocou numa prateleira e fez sinal para entrarmos”, lembra Aladin. “Ficamos sem os nossos discos que iriam servir de prova para cobrarmos os direitos autorais da gravadora”, recorda Aladin.

 Restinho de filme

Um pouco das cenas em preto e branco do "restinho do filme" do The Jordans com os Beatles

 Tony (José de Andrade), o contrabaixista do The Jordans, estava com uma máquina filmadora com um “restinho de filme super 8”, em preto e branco, e aproveitou aquele momento inusitado para fazer algumas imagens da banda brasileira com os Beatles. Enquanto isso numa outra sala, o baterista Foguinho (Valdemar Botelho Júnior) ensinava Ringo Starr, com um lápis, uma caneta e uma régua, a tocar músicas da Bossa Nova em cima de uma escrivaninha. “O interessante que o Ringo prestava atenção nas batidas da mão e dos pés do Foguinho e anotava tudo num papel”, lembra Sival. “E o John Lennon só dava risada daquele encontro casual”.

 Aladin e Sival tem uma frase que definem bem essas boas lembranças. “Todo mundo tem um disco dos Beatles em casa. Agora, com certeza, o Beatles tem o disco do Jordans, em algum canto, guardado com eles”. Essa história pitoresca foi trazida para a Folha2 pelo jornalista Antônio Aguillar, o timoneiro da juventude, que conheceu e ajudou o The Jordans no início de carreira. “Com o meu programa Rítmos da Juventude, que era de auditório e líder de audiência na época, ajudei muitos conjuntos, cantores e cantoras em início de carreira”, informa Aguillar, que no último dia 18 de outubro completou 94 anos bem vividos. Todos os domingos ele apresenta um programa sobre as músicas dos anos 60 na Rádio Calhambeque.

 História do The Jordans

Nos anos 60 The Jordans fez muito sucesso no Brasil e no Exterior

Um dos Long Player (LP) gravado pelo grupo brasileiro The Jordans

 O grupo The Jordans, nascido no bairro paulistano da Mooca, por volta de 1958, começou a fazer sucesso em 1961 quando gravou seus primeiros discos e começaram a se apresentar nos programas de auditório “Ritmos da Juventude’, apresentado por Antônio Aguillar, na antiga TV Excelsior. Também se apresentaram no começo como banda de apoio e acompanhamento de Roberto Carlos.

Na primeira formação o grupo contou com a participação do guitarrista Mingo, que depois sairia da banda para formar o The Clevers, embrião de Os Incríveis. Em 1972 o grupo se desfez. Cada um seguiu por caminhos diferentes fora da música. Mas voltariam a se encontrar 20 anos depois na coletânea “35 Anos de Rock Instrumental”.

Ouça a entrevista onde o guitarrista Aladim e baterista foguinho contam todos os detalhes do encontro casual do grupo brasileiro The Jordans com o grupo britânico Os Beatles, em Londres. Clique neste link para assistir e se divertir com esse episódio. E para quem não conheceu o grupo The Jordans, basta clicar neste link para assistir apresentação do grupo num programa da TV Record. The Jordans tocou a música Blue Star (Estrela Azul). Outro música que muitos, com certeza conhecem, é "Tema para Casais Enamorados". Ouça, clicando aqui


The Jordans em uma de suas formações durante a gravação de um dos seus discos

Foguinho, o baterista que ensinou Ringo Starr, do Beatles, a tocar bossa-nova

Aladim, guitarrista do The Jordans, que entregou discos da banda nas mãos de Lennon



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